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Wegmarken [GA9]

GA9:187-189 – deixar-ser [Sein-lassen]

Da Essência da Verdade

sábado 27 de maio de 2023, por Cardoso de Castro

A hostilidade contra a tese que diz que a essência da verdade é a liberdade apoia-se em preconceitos dos quais os mais obstinados são: a liberdade é uma propriedade do homem; a essência da liberdade não necessita nem tolera um exame mais amplo; o que é o homem, cada qual o sabe.

Ernildo Stein

Entretanto, a indicação de uma conexão essencial entre a verdade como conformidade e a liberdade abala esses preconceitos, suposto, evidentemente, que estejamos dispostos para uma transformação do pensamento. A meditação sobre a conexão essencial entre a verdade e a liberdade leva-nos a perseguir a questão acerca da essência do homem segundo uma perspectiva que nos garantirá a experiência de um fundamento essencial oculto do homem (do ser-aí), e isto de tal modo, com efeito, que essa meditação nos transporta primeiramente para o âmbito no qual a essência da verdade se essencializa originariamente. Também a partir desse fundamento se mostrará: a liberdade só se mostra como o fundamento da possibilidade interna da conformidade, porque recebe a sua própria essência da essência mais originária da única [200] verdade essencial. A liberdade foi primeiramente determinada como liberdade para aquilo que é manifesto de um aberto. Como é preciso pensar esta essência da liberdade? O manifesto ao qual se adequa a enunciação representativa enquanto algo conforme é o ente respectivamente aberto em um comportamento patentemente aberto. A liberdade em face do que se manifesta no interior do aberto deixa que cada ente seja o ente que ele é. A liberdade revela-se, então, como o que deixa-ser [1] o ente.

Falamos ordinariamente de “deixar” quando, por exemplo, nos abstemos de uma tarefa que nos havíamos proposto. “Deixamos algo ser” significa: não tocamos mais nisto e com isto não mais nos preocupamos. “Deixar” tem aqui, então, o sentido negativo de desviar a atenção de algo, de renunciar a…; exprime uma indiferença ou mesmo uma omissão.

A palavra aqui necessária para expressar o deixar-ser do ente não visa, entretanto, nem uma omissão nem uma indiferença, mas o contrário delas. Deixar-ser significa entregar-se ao ente [2]. Isto, todavia, não deve ser compreendido apenas como simples ocupação, proteção, cuidado ou planejamento de cada ente que se encontra ou que se procurou. Deixar-ser o ente – a saber, como o ente que ele é – significa entregar-se ao aberto e à sua abertura, na qual todo ente entra e permanece, e que cada ente traz, por assim dizer, consigo. Esse aberto foi concebido pelo pensamento ocidental, desde o seu início, como τὰ ἀληθέα, o desvelado. Se traduzimos a palavra ἀλήθεια   por “desvelamento”, em lugar de “verdade”, essa tradução não é somente mais “literal”, mas ela compreende a indicação de repensar mais originariamente a noção corrente de verdade como conformidade do enunciado, no sentido, ainda incompreendido, do caráter de ser desvelado e [201] do desvelamento do ente. O entregar-se ao caráter de ser desvelado não quer dizer perder-se nele, mas se desdobra em um recuo diante do ente, a fim de que este se manifeste naquilo que é e como é, de tal modo que a adequação representativa dele receba a medida. Como um tal deixar-ser, ele se expõe ao ente enquanto tal e transpõe todo o comportamento para o aberto. O deixar-se, isto é, a liberdade, é, em si mesmo exposição ao ente, isto é, ek-sistente. A essência da liberdade, entrevista à luz da essência da verdade, aparece como ex-posição ao ente enquanto ele tem o caráter de desvelado.

Waelhens & Biemel

Cependant, l’indication d’une relation essentielle entre la vérité comme conformité et la liberté ébranle ces préjugés, pourvu toutefois que nous soyons disposés à une volte-face de la pensée. La réflexion sur ce lien essentiel entre la vérité et la liberté nous amène à poursuivre le problème de l’essence de l’homme, selon une perspective qui va nous garantir l’expérience d’un fondement [3] caché de celui-ci (du Dasein  ), et cela de telle manière que cette réflexion nous fasse passer d’emblée [175] dans le domaine où l’essence de la vérité s’épanouit originellement. De là, il se découvrira pareillement : la liberté n’est le fondement de la possibilité intrinsèque de la conformité que parce qu’elle reçoit sa propre essence de l’essence plus originelle de la seule vérité vraiment essentielle.

La liberté a été déterminée d’abord comme liberté à l’égard de ce qui est manifeste au sein   de l’ouvert. Comment faut-il penser cette essence de la liberté? Le révélé (ce qui est manifeste), auquel se rend adéquat le jugement apprésentatif en tant qu’il est conforme, est l’étant tel qu’il se manifeste pour et par un comportement ouvert. La liberté vis-à-vis de ce qui se révèle au sein de l’ouvere laisse l’étant être l’étant qu’il est [4]. La liberté se découvre à présent comme ce qui laisse-être l’étant.

On parle ordinairement de « laisser » [5] lorsque par exemple nous nous abstenons d’une entreprist que nous avions projetée. Nous « laissons cela » signifie que nous n’y touchons plus et cessons de nous en préoccuper. « Laisser » a ici le sens négatif de « se détourner de… », de « renoncer à… »; il exprime une indifférence ou même une omission.

Le mot qui est ici nécessaire pour rendre le laisser-être de l’étant ne vise cependant ni l’omission ni l’indifférence mais leur contraire. Laisser-être signifie « s’adonner à l’étant ». Ceci ne doit pas être compris comme une simple façon de manier, de conserver, de prendre soin, d’organiser l’étant rencontré ou recherché. Laisser-être l’étant — à [176] savoir, comme l’étant qu’il est — signifie s’adonner à l’ouvert et à son ouverture, dans laquelle tout étant entre et demeure (hereinsteht) et que celui-ci apporte, pour ainsi dire, avec lui. Cet ouvert, la pensée occidentale l’a conçu à son début comme τὰ άληθέα, le non-voilé [6]. Lorsque nous traduisons ἀλήθεια par « non-voilement », au lieu de le traduire par « vérité », cette traduction n’est pas seulement plus « littérale », mais elle comprend l’indication de repenser plus originellement la notion courante de vérité comme conformité de l’énoncé au sens, encore incompris, du caractère d’être dévoilé (Entborgenheit  ) et du dévoilement de l’étant (Entbergung  ). S’adonner au premier (c’est-à-dire au caractère d’être dévoilé), ce n’est pas se perdre en lui mais déployer un recul devant l’étant, afin qu’il se manifeste en ce qu’il est et comme il est, de sorte que l’adéquation apprésentative puisse prendre mesure sur lui. Pareil laisser-être signifie que nous nous exposons à l’étant comme tel et que nous transposons dans l’ouvert tout notre comportement. Le laisser-être, c’est-à-dire’ la liberté, est en lui-même ex-position à l’étant, il est ek-sistant. L’essence de la liberté, vue à la lumière de l’essence de la vérité, apparaît comme ex-position [à l’étant] en tant qu’il a le caractère d’être dévoilé.

Original

Aber der Hinweis auf   den Wesenszusammenhang zwischen   der Wahrheit   als Richtigkeit   und der Freiheit   erschüttert diese Vormeinungen, gesetzt freilich, daß   wir zu einer Wandlung des Denkens bereit sind. Die Besinnung   auf den Wesenszusammenhang zwischen Wahrheit und Freiheit bringt uns dahin, die Frage   nach dem Wesen   des Menschen in einer Hinsicht   zu verfolgen  , die uns die Erfahrung   eines verborgenen Wesensgrundes des Menschen (des Daseins) verbürgt, so zwar, daß sie uns zuvor in den ursprünglich   wesenden Bereich der Wahrheit versetzt. Von hier aus zeigt sich aber auch: die Freiheit ist nur deshalb der Grund   der inneren Möglichkeit   der Richtigkeit, weil sie ihr eigenes Wesen aus dem ursprünglicheren Wesen der einzig wesentlichen Wahrheit empfängt. Die Freiheit wurde zunächst   als Freiheit für das Offenbare eines Offenen bestimmt. Wie ist [188] dieses Wesen der Freiheit zu denken  ? Das Offenbare, dem sich ein vorstellendes Aussagen   als richtiges angleicht, ist das jeweils in einem offenständigen Verhalten   offene   Seiende  . Die Freiheit zum Offenbaren eines Offenen läßt das jeweilige Seiende das Seiende sein, das es ist. Freiheit enthüllt   sich jetzt   als das Seinlassen [7] von Seiendem.

Gewöhnlich sprechen   wir vom Seinlassen, wenn wir z.B. von einem geplanten Unternehmen abstehen. »Wir lassen   etwas sein«, heißt: wir rühren nicht   mehr daran und machen   uns dabei nicht weiter zu schaffen  . Das Seinlassen von etwas hat hier den verneinenden Sinn des Absehens von etwas, des Ver-zichtens auf etwas, der Gleichgültigkeit   und gar der Unterlassung.

Das hier nötige   Wort   vom Sein-lassen des Seienden denkt jedoch nicht an Unterlassung und Gleichgültigkeit, sondern an das Gegenteil. Sein-lassen ist das Sicheinlassen auf dasSeiende [8]. Dies wird freilich wiederum nicht nur als bloße Betreibung, Behütung, Pflege und Planung des jeweils begegnenden oder aufgesuchten Seienden verstanden. Seinlassen – das Seiende nämlich als das Seiende, das es ist – bedeutet, sich einlassen auf das Offene und dessen Offenheit, in die jegliches Seiende hereinsteht, das jene gleichsam mit sich bringt. Dieses Offene hat das abendländische   Denken in seinem Anfang   begriffen als τὰ ἀληθέα,das Unverborgene. Wenn wir ἀλήθεια statt mit »Wahrheit« durch »Unverborgenheit« übersetzen, dann   ist diese Übersetzung   nicht nur »wörtlicher«, sondern sie enthält die Weisung  , den gewohnten Begriff   der Wahrheit im Sinne der Richtigkeit der Aussage um- und zurückzudenken in jenes noch Unbegriffene der Entborgenheit und der Entbergung   des Seienden. Das Sicheinlassen auf die Entborgenheit des Seienden verliert sich nicht in dieser, sondern entfaltet sich zu einem Zurücktreten [189] vor dem Seienden, damit dieses in dem, was es ist und wie es ist, sich offenbare und die vorstellende Angleichung   aus ihm das Richtmaß nehme. Als dieses Sein-lassen setzt es sich dem Seienden als einem solchen aus und versetzt alles Verhalten ins Offene. Das Sein-lassen, d. h. die Freiheit ist in sich   aus-setzend, ek-sistent. Das auf das Wesen der Wahrheit hin erblickte Wesen der Freiheit zeigt sich als die Aussetzung in die Entborgenheit des Seienden.


Ver online : Wegmarken [GA9]


[11a edição de 1943: deixar-ser: 1) não negativo, mas conceder – concessão; 2) não como atuação onticamente direcionada. Atentar, fixar atentamente o ser enquanto seer.

[21a edição de 1943: para o que se presenta deixar o seu presentar-se e não fazer nada para tanto nem trazer algo que se interponha a isto.

[3Nous traduisons ici Wesensgrund qui signifie littéralement fondement essentiel par fondement, afin d’éviter en français la répétition renouvelée d’essentiel et d’essence.

[4Le texte allemand porte : läszt das jeweilige Seiende das Seiende sein, das es ist.

[5Laisser — sein-lassen, le terme allemand a le double sens de laisser être (admettre à l’être) et de laisser au sens d’abandonner.

[6Dans cette phrase et celle qui suit, se rencontre une série de mots allemands de même racine, pour lesquels nous avons adopté les traductions suivantes : das Unverborgene — le non-voilé; die Unverborgenheit — le non-voilement; die Entbergung — le dévoilement (l’acte de dévoiler); die Entborgenheit — le caractère d’être dévoilé. Plus loin on trouve aussi : die Verbergung — la dissimulation et die Verborgenheit — l’obnubilation.

[71. Auflage 1943: Sein-lassen: 1. nicht negativ, sondern gewahren – Wahmis; 2. nicht als ontisch gerichtetes Wirken. Achten, er-achten das Sein als Seyn.

[81. Auflage 1943: dem Anwesenden sein Anwesen lassen und nichts anderes dazu und dazwischen bringen.