Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

Página inicial > Gesamtausgabe > GA24:8-10 – Jaspers - Weltanschauung

GA24:8-10 – Jaspers - Weltanschauung

quarta-feira 11 de março de 2020

Casanova

Jaspers   diz o seguinte em sua Psychologie   der Weltanschauungen (Psicologia das visões de mundo): “Quando falamos de visões de mundo, temos em vista ideias, o que há de derradeiro e total no homem, tanto subjetivamente, como vivência, força e modo de pensar, quanto objetivamente como um mundo configurado” [1]. Para o nosso intuito de distinguir a filosofia como visão de mundo da filosofia científica, é importante perceber antes de tudo que a visão de mundo emerge, segundo o seu sentido, do ser-aí respectivamente fático do homem de acordo com suas possibilidades fáticas de meditação e de tomada de posição, e que, assim, ela emerge para esse ser-aí fático. A visão de mundo é algo que existe a cada [15] vez de modo histórico a partir, com e para o ser-aí fático. Cima visão de mundo filosófica é uma visão de mundo que deve ser formada e veiculada explícita e expressamente ou, em todo caso, preponderantemente, por meio da filosofia, isto é, por meio da especulação teórica, com uma exclusão de qualquer interpretação artística e religiosa do mundo e do ser-aí. Essa visão de mundo não é um produto secundário da filosofia, mas sua formação é antes a meta propriamente dita e a essência da própria filosofia. Segundo o seu próprio conceito, a filosofia é filosofia da visão de mundo. O fato de, sob o modo do conhecimento teórico do mundo, a filosofia ter por meta o que há de universal no mundo e o que há de derradeiro no ser-aí – o de onde, o para onde e o para quê do mundo e da vida – a distingue tanto das ciências particulares, que nunca consideram senão uma região particular do mundo e do ser-aí, quanto das posturas comportamentais artísticas e religiosas, que não se fundam primariamente no comportamento teórico [2]. Parece não haver qualquer dúvida de que a filosofia tem por meta a formação de uma visão de mundo. Esta tarefa precisa determinar a essência da filosofia e o seu conceito. Ao que parece, a filosofia é tão essencialmente filosofia da visão de mundo que seria preferível rejeitar essa última expressão como uma sobrecarga desnecessária. Para além disso, querer aspirar a uma filosofia científica é uma incompreensão, pois a visão de mundo filosófica – é isso que se diz -deve ser naturalmente científica. O que se compreende por isso é o seguinte: em primeiro lugar, que a filosofia deve levar em conta os resultados das diversas ciências e empregá-los [16] na construção da imagem de mundo e na interpretação do ser-aí; em segundo lugar, que ela deve ser científica, na medida em que realiza rigorosamente a formação da visão de mundo segundo as regras do pensamento científico. Esta concepção da filosofia como formação da visão de mundo de uma maneira teórica é tão autoevidente que define geral e amplamente o conceito da filosofia, e, por conseguinte, também prescreve para a consciência vulgar aquilo que precisa e deve ser esperado da filosofia. Inversamente, quando a filosofia não dá respostas satisfatórias às questões ligadas à visão de mundo, a consciência vulgar a considera como algo iníquo. As requisições feitas à filosofia e as tomadas de posição em relação a ela são reguladas de acordo com essa noção da filosofia como formação científica de uma visão de mundo. Para saber se a filosofia triunfa ou fracassa na execução dessa tarefa, as pessoas se remetem à sua história e veem nela a prova inequívoca de que ela trata cognitivamente de questões derradeiras: da natureza, da alma, isto é, da liberdade e da história do homem, de Deus.

Se a filosofia é formação científica de uma visão de mundo, então cai por terra a distinção entre uma “filosofia científica” e uma “filosofia como visão de mundo”. As duas constituem conjuntamente a sua essência, de tal modo que o que é realmente enfatizado em última instância é a tarefa ligada à visão de mundo. Esta também parece ser a opinião   de Kant  , que colocou sobre uma nova base o caráter científico da filosofia. Só precisamos nos lembrar da distinção feita por ele na introdução à Lógica entre a filosofia segundo o seu conceito acadêmico e a filosofia segundo o seu conceito mundano [3]. Com isso, nós nos voltamos para uma distinção que Kant gostava de citar com frequência e que pode aparentemente servir para apoiar a diferença entre filosofia científica e filosofia como visão de mundo, mais exatamente, como prova do fato de mesmo Kant, para o qual a cientificidade da filosofia se encontrava no centro do interesse  , conceber a filosofia como filosofia da visão de mundo. (p. 14-16)

Original

Jaspers sagt in seiner »Psychologie der Weltanschauungen«: »wenn wir von Weltanschauungen sprechen  , so meinen wir Ideen, das Letzte und das Totale des Menschen, sowohl subjektiv als Erlebnis   und Kraft   und Gesinnung, wie objektiv   als gegenständlich gestaltete Welt   [4] Für unsere Absicht der Unterscheidung   von Weltanschauungsphilosophie und wissenschaftlicher Philosophie   gilt es vor allem zu sehen  : Die Weltanschauung erwächst ihrem Sinne nach aus dem jeweiligen faktischen Dasein   des Menschen gemäß seinen faktischen Möglichkeiten der Besinnung   und Stellungnahme und erwächst so für dieses faktische Dasein. Die Weltanschauung ist etwas, was aus, mit und für das faktische Dasein jeweils geschichtlich   existiert. Eine philosophische Weltanschauung ist eine solche, die eigens und ausdrücklich   oder jedenfalls vorwiegend durch die Philosophie ausgebildet und vermittelt werden   soll, d. h. durch theoretische Spekulation mit Ausschaltung der künstlerischen und religiösen Deutung   der Welt und des Daseins. Diese Weltanschauung ist nicht   ein Nebenprodukt der Philosophie, sondern ihre Ausbildung   das eigentliche Ziel und Wesen   der Philosophie selbst  . Philosophie ist ihrem Begriffe nach Weltanschauungsphilosophie. Daß   die Philosophie auf   das Universale der Welt und das Letzte des Daseins, das Woher  , das Wohin und das Wozu von Welt und Leben abzielt in der Weise   der theoretischen Welterkenntnis, unterscheidet sie sowohl von den Einzelwissenschaften, die immer nur einen bestimmten Bezirk der Welt und des Daseins betrachten  , als auch von den künstlerischen und religiösen Verhaltungen, die nicht primär im theoretischen Verhalten   gründen  . Daß die Philosophie die Bildung   einer Weltanschauung zum Ziele hat, scheint außer Frage   [9] zu stehen  . Diese Aufgabe muß das Wesen der Philosophie und ihren Begriff   bestimmen. Philosophie ist Weltanschauungsphilosophie, scheint es, so wesenhaft, daß man auch diesen Ausdruck als einen überlasteten zurückweisen möchte. Außerdem noch eine wissenschaftliche Philosophie anstreben zu wollen  , ist Mißverstand. Denn die philosophische Weltanschauung, sagt man, soll natürlich wissenschaftlich sein  . Darunter versteht man: Sie soll erstens die Resultate der verschiedenen Wissenschaften beachten und für den Aufbau des Weltbildes und die Deutung des Daseins verwenden  , sie soll zweitens wissenschaftlich insofern sein, als sie die Bildung der Weltanschauung streng nach den Regeln des wissenschaftlichen Denkens vollzieht. Diese Auffassung   der Philosophie als Weltanschauungsbildung auf theoretischem Wege ist so selbstverständlich  , daß sie gemeinhin und weithin den Begriff der Philosophie bestimmt und demnach auch im vulgären Bewußtsein   vorschreibt, was man von der Philosophie zu erwarten   habe und was man von ihr erwarten soll. Umgekehrt, wenn die Philosophie der Beantwortung der weltanschaulichen Fragen nicht genügt, gilt sie im vulgären Bewußtsein als etwas Nichtiges. Ansprüche an die Philosophie und Stellungnahme zu ihr regeln sich aus dieser Vorstellung   von ihr als wissenschaftlicher Weltanschauungsbildung. Ob der Philosophie die Ausführung dieser Aufgabe gelingt oder mißlingt, man verweist auf ihre Geschichte und sieht in dieser den unzweideutigen Beleg dafür, daß sie erkenntnismäßig von den letzten Fragen handelt: von der Natur  , von der Seele  , d. h. der Freiheit   und Geschichte des Menschen, von Gott  .

Wenn Philosophie wissenschaftliche Weltanschauungsbildung ist, dann   fällt die Unterscheidung wissenschaftliche Philoso-phie« und »Weltanschauungsphilosophie« dahin. Beide in einem machen ihr Wesen aus, so daß letztlich die Weltanschauungsaufgabe das eigentliche Gewicht bekommt. Das scheint auch die Meinung Kants zu sein, der den Wissenschaftscharakter der Philosophie auf eine neue Basis gebracht hat. Wir [10] brauchen nur an die von ihm in der Einleitung in die »Logik  « vollzogene Scheidung zwischen   Philosophie nach dem Schulbegriff und Philosophie nach dem Weltbegriff zu erinnern.4 Wir wenden uns damit einer gern und oft angeführten Scheidung von Kant zu, die scheinbar als Beleg dienen kann für den Unterschied   von wissenschaftlicher Philosophie und Weltanschauungsphilosophie, genauer als Beleg dafür, daß auch Kant, für den gerade die Wissenschaftlichkeit der Philosophie im Zentrum des Interesses stand  , die Philosophie selbst als Weltanschauungsphilosophie faßt. (p. 8-10)

Excerto de HEIDEGGER, Martin. Os problemas fundamentais da fenomenologia. Tr. de Marco Antônio Casanova  . Petrópolis: Vozes, 2012, p. 12-24


Ver online : WELTANSCHAUUNG


[1JASPERS, K. Psychologie der Weltanschauungen [Psicologia das visões de mundo], 3. vol. Berlim: [s.e.], 1925, p. 1s.

[2Heidegger faz uma diferença nessa passagem entre Verhalten e Verhaltung. O segundo termo é uma palavra antiga para dizer “comportamento” e passou a designar em alemão contemporâneo uma certa retenção. Para não homogeneizar o texto, optamos por fazer uma diferença entre os dois termos e traduzir Verhaltung por uma locução explicativa. Como o sufixo -ung em alemão é um sufixo formador de substantivos e como o próprio desenvolvimento da língua alemã nos fornece uma indicação quanto ao sentido a ser buscado com a palavra, procuramos explicitar o resultado da contenção do comportamento. Assim, pensamos na locução “postura comportamental”, uma vez que a postura comportamental nasce da assunção de uma posição a partir da qual o comportamento se dá [N.T.].

[3KANT. WW (Cassirer). Vol. 8, p. 342ss.

[4K. Jaspers, Psychologie der Weltanschauungen. Berlin 1925, p. 1 f.