Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

Página inicial > Gesamtausgabe > GA24:36-37 – Dasein em Kant e em Heidegger

GA24:36-37 – Dasein em Kant e em Heidegger

domingo 31 de dezembro de 2017

Casanova

Primeiramente, porém, faz-se necessária uma observação terminológica genérica. Kant   fala, tal como o mostra o título do Argumento, de uma prova da existência de Deus. Do mesmo modo, ele fala da existência das coisas fora de nós, da existência da natureza. Esse conceito de existência (Dasein  ) em Kant corresponde ao termo escolástico existentia  . Por isso, ao invés de Dasein (existência, ser-aí), Kant também utiliza as expressões Existenz   (existência) e Wirklichkeit   (realidade efetiva). Nosso uso terminológico é, em contrapartida, diverso: ele é um uso que, como se mostrará, é materialmente fundamentado. Aquilo que Kant denomina ser-aí ou existência e aquilo que a escolástica denomina existentia, nós designamos terminologicamente com a expressão “o ser presente à vista” ou “presença à vista”. Trata-se do título para as coisas naturais em sentido maximamente amplo. A escolha dessa expressão mesma precisa se justificar no transcurso da preleção a partir do sentido específico a esse modo de ser que exige a expressão “o presente à vista”, “presença à vista”. Husserl   articula-se em sua terminologia com Kant, empregando, portanto, o conceito de ser-aí (existência) no sentido de ser presente à vista. A expressão “ser-aí”, em contrapartida, não designa para nós como para Kant o modo de ser das coisas naturais, ela não designa absolutamente nenhum modo de ser, mas um determinado ente, que nós mesmos somos, o ser-aí humano. Nós somos a cada vez um ser-aí. Nós determinamos o modo de ser do ser-aí terminologicamente como existência, sendo que é preciso observar que existência ou o discurso acerca do fato de o ser-aí existir não são a única determinação do gênero ontológico de nós mesmos. Nós tomaremos contato com três coisas, que estão certamente enraizadas em um sentido específico na existência. Para Kant e para a Escolástica, a existência é o modo de ser das coisas naturais; para nós, em contrapartida, ela é o modo de ser do ser-aí. Por conseguinte, pode-se dizer [47] de maneira exemplar: um corpo físico nunca existe, mas é presente à vista. Inversamente, o ser-aí, nós mesmos, nunca somos presentes à vista, mas o ser-aí existe. Ser-aí e corpo físico são, porém, enquanto um existente e enquanto algo presente à vista, respectivamente entes. Consequentemente, nem tudo aquilo que não está presente à vista é um não ente: ele também pode muito mais existir ou, como ainda veremos, possuir consistência ou ser de um outro gênero ontológico.

Precisamos distinguir acentuadamente o conceito kantiano de realidade de seu conceito de ser-aí ou existência como equivalente a estar presente à vista enquanto modo de ser das coisas, assim como de nosso uso terminológico de presença à vista. Tanto para Kant quanto para a escolástica com a qual Kant se articula, essa expressão não significa aquilo que se compreende hoje pura e simplesmente pelo conceito de realidade, quando se fala, por exemplo, da realidade do mundo exterior. No uso linguístico atual, realidade significa o mesmo que realidade efetiva, existência ou ser-aí no sentido de estar presente à vista. O conceito kantiano de realidade é, como veremos, totalmente diverso. Depende da compreensão desse conceito a compreensão da tese: ser não é nenhum predicado real. (p. 46-47)

Courtine

Une remarque terminologique générale s’impose tout d’abord. Kant parle, comme l’atteste le titre de son opuscule, d’une démonstration de l’existence de Dieu. Il parle également de l’existence des choses hors de nous, de l’existence de la nature. Ce concept d’existence [Dasein – être-là] correspond au terme scolastique existentia. Kant emploie souvent aussi au lieu de Dasein le mot « Existenz »-existence, « effectivité ». Notre usage terminologique est tout à fait différent, et, comme on le verra, bien-fondé. Ce que Kant nomme Dasein ou Existenz et que la scolastique nommait existentia, nous le désignerons terminologiquement par l’expression Vorhandensein   (être-subsistant) ou Vorhandenheit (présence-subsistante) [1]. C’est ainsi que nous nommons le mode d’être des choses de la nature, au sens le plus large du terme. Le choix de cette expression devra être justifié, dans le cours de ces leçons, d’après le sens spécifique du mode d’être qui requiert précisément ces termes de Vorhandenes (subsistant), Vorhandenheit (subsistance). Sur ce point Husserl se rattache terminologiquement à Kant, et emploie en conséquence le concept de Dasein au sens du Vorhandensein. Le mot Dasein au contraire ne désigne plus, pour nous, comme pour Kant, le mode d’être des réalités naturelles; il ne désigne absolument aucun mode d’être, mais cet étant déterminé que nous sommes nous-mêmes, le Dasein humain. Nous sommes à chaque fois un Dasein. Cet étant, le Dasein, a comme tout étant, un mode d’être spécifique. C’est ce mode d’être spécifique que nous nommons terminologiquement existence. Il faut noter que l’existence – la formule: le Dasein existe – ne constitue pas l’unique détermination de la manière d’être qui est la nôtre. Nous verrons que cette détermination est triple [2], même si elle s’enracine dans l’existence en un sens spécifique. Pour Kant comme pour la scolastique, l’existence est le mode d’être des choses de la nature, pour nous en revanche l’existence est le mode d’être du Dasein. On peut donc dire par exemple: un corps n’existe jamais, mais il est présent-subsistant. Inversement, le Dasein – nous-mêmes – , nous ne sommes jamais présents-subsistants, mais le Dasein existe. Cependant Dasein et corps, qu’ils existent ou soient subsistants, sont à chaque fois étants. Par conséquent tout étant n’est pas un présent-subsistant, et à l’inverse tout ce qui n’est pas présent-subsistant n’est pas non plus par là même non-étant; il peut exister ou, comme nous verrons, persister (bestehen  ), ou avoir encore un autre mode d’être.

Il faut également distinguer soigneusement du concept kantien d’existence, qui équivaut à celui d’être-subsistant, en tant que manière d’être des choses, et de notre usage terminologique de Vorhandenheit, le concept scolastico-kantien de realitas  . Ce dernier terme signifie aussi bien chez Kant que dans la scolastique à laquelle il renvoie, non pas ce que l’on entend aujourd’hui couramment sous le concept de réalité, quand on parle par exemple de la réalité du monde extérieur. On emploie aujourd’hui le mot réalité pour signifier aussi bien l’effectivité, l’existence que le Dasein au sens du Vorhandensein – de l’être-présent-subsistant. Tout autre, comme nous le verrons, est le concept kantien de réalité. De sa bonne compréhension dépend la compréhension de la thèse: l’être n’est pas un prédicat réel. (p. 48-49)

García Norro

Pero antes es preciso una observación terminológica general. [53] Kant habla, como muestra el título, El único fundamento, de la demostración de la existencia [Dasein] de Dios. Asimismo habla de la existencia de las cosas fuera de nosotros, de la existencia de la naturaleza. Este concepto de existencia [Dasein] corresponde, en Kant, al término escolástico existentia. Por ello, Kant a menudo usa, en vez de «Dasein», la expresión «existencia» [Existenz], «efectividad» [Wirklichkeit]. En cambio, nuestro uso terminológico es distinto y, como se verá, está fundado objetivamente. Lo que Kant denomina Dasein o Existenz y lo que la escolástica llama existentia, lo designaremos terminológicamente con la expresión «subsistencia» [Vorhandensein o Vorhandenheit]. Es la denominación del modo de ser de las cosas naturales, en el más amplio sentido de la palabra. La elección de esta expresión deberá justificarse, a lo largo del curso, a partir del sentido específico del modo de ser que exige las expresiones «subsistente» y «subsistencia». Husserl se une a la terminología de Kant y usa también la expresión «Dasein» en el sentido de subsistencia. La palabra «Dasein», por el contrario, no designa para nosotros, como para Kant, el modo de ser de las cosas naturales, no designa en modo alguno un modo de ser, sino un determinado ente, el que somos nosotros mismos, el Dasein humano. Somos, cada uno de nosotros, un Dasein. Este ente, el Dasein, tiene, como todos los entes, un modo de ser específico. En nuestra terminología designamos el modo de ser del Dasein como existencia [Existenz] y hay que observar que la existencia o la expresión «el Dasein existe» no es la única [37] determinación de la forma de ser de nosotros mismos. Llegaremos a conocer una triple determinación, que, sin duda, arraiga, en un sentido específico, en la existencia. Para Kant y para la escolástica la existencia es el modo de ser de las cosas naturales; para nosotros, por el contrario, es el modo de ser del Dasein. De acuerdo con esto, se puede decir, por ejemplo: un cuerpo nunca existe, sino que siempre subsiste. En cambio, el Dasein, cada uno de nosotros mismos, nunca subsiste, sino que el Dasein existe. Pero Dasein y cuerpos, tanto si existen como si son subsistentes, son entes. Por consiguiente, no todo ente es subsistente, pero tampoco todo lo que no es subsistente es ya un no-ente, sino que puede existir o, como veremos todavía, consistir [bestehen] o ser de otra manera de ser.

Debe distinguirse con nitidez el concepto kantiano o escolástico de realidad tanto del concepto kantiano de existencia, en el sentido de subsistencia, como modo de ser de las cosas, como de la subsistencia en nuestra propia terminología. Lo mismo en Kant que en la escolástica, a la que sigue, esta expresión no quiere decir lo [54] que hoy comúnmente se entiende bajo el concepto de realidad cuando, por ejemplo, se habla de la realidad del mundo exterior. En el uso lingüístico actual realidad significa lo mismo que efectividad, que existencia [Existenz o Dasein] en el sentido de subsistencia. Como veremos, el concepto kantiano de realidad es totalmente distinto. De su comprensión depende la comprensión de la tesis: el ser no un predicado real. (p. 52-54)

Original

Zuvor aber ist eine allgemeine terminologische Bemerkung erforderlich. Kant spricht, wie der Titel des »Beweisgrundes« zeigt, vom Beweis des Daseins Gottes. Ebenso spricht er vom Dasein der Dinge außer uns, vom Dasein der Natur  . Dieser Begriff   des Daseins bei   Kant entspricht dem scholastischen Terminus existentia. Kant gebraucht daher auch oft statt »Dasein« den Ausdruck   »Existenz«, »Wirklichkeit«. Unser terminologischer Gebrauch ist dagegen ein anderer, der, wie sich zeigen   wird, sachlich   begründet ist. Was Kant Dasein bzw. Existenz und was die Scholastik existentia nennt, bezeichnen wir terminologisch mit dem Ausdruck »Vorhandensein« oder »Vorhandenheit«. Es ist der Titel für die Seinsweise   der Naturdinge im weitesten Sinne. Die Wahl   dieses Ausdrucks selbst   muß sich im Verlauf der Vorlesung aus dem spezifischen Sinn   dieser Seinsweise rechtfertigen, die diesen Ausdruck Vorhandenes, Vorhandenheit fordert. Husserl schließt sich in seiner Terminologie Kant an, verwendet also den Begriff des Daseins im Sinne des Vorhandenseins. Das Wort   »Dasein« dagegen bezeichnet für uns nicht   wie für Kant die Seinsweise der Naturdinge, es bezeichnet überhaupt keine Seinsweise, sondern ein bestimmtes Seiendes  , das wir selbst sind, das menschliche   Dasein. Wir sind jeweils ein Dasein. Dieses Seiende, das Dasein, hat wie jedes eine spezifische Seinsweise. Die Seinsweise des Daseins bestimmen wir terminologisch als Existenz, wobei zu bemerken ist, daß   Existenz oder die Rede  : das Dasein existiert, nicht die einzige Bestimmung   der Seinsart [37] unser selbst ist. Wir werden   eine dreifache kennenlernen, die allerdings in einem spezifischen Sinne in der Existenz verwurzelt ist. Für Kant und die Scholastik ist Existenz die Seinsweise der Naturdinge, für uns dagegen die Seinsweise des Daseins. Demnach kann man beispielsweise sagen  : Ein Körper   existiert nie, sondern ist vorhanden. Umgekehrt, Dasein, wir selbst, sind nie vorhanden, sondern Dasein existiert. Dasein aber und Körper sind als existierend bzw. vorhanden jeweils seiend. Demgemäß ist nicht alles Seiende ein Vorhandenes, aber auch nicht alles Nichtvorhandene ist auch schon Nichtseiendes, sondern kann existieren oder, wie wir noch sehen   werden, bestehen oder von anderer Seinsart sein  .

Von dem Kantischen Begriff des Daseins bzw. der Existenz gleich   Vorhandensein als Seinsweise der Dinge und von unserer Terminologie von Vorhandenheit ist scharf zu unterscheiden der Kantische bzw. scholastische Begriff der Realität. Dieser Ausdruck bedeutet, sowohl bei Kant wie in der Scholastik, der er sich anschließt, nicht das, was man heute   gemeinhin unter dem Begriff der Realität versteht, wenn man z. B. von der Realität der Außenwelt   spricht. Im heutigen Sprachgebrauch bedeutet Realität soviel wie Wirklichkeit, Existenz oder Dasein im Sinne von Vorhandensein. Der Kantische Begriff der Realität ist ein ganz anderer, wie wir sehen werden. Von seinem Verständnis   hängt das Verständnis der These ab: Sein ist kein reales Prädikat  . (p. 36-37)


Ver online : Die Grundprobleme der Phänomenologie [GA24]


[1Cf. avant-propos du traducteur p. 12. (N.d.T.)

[2Cf plus loin. § 13. (N.d.T.)