Página inicial > Fenomenologia > Foucault (PC) – o fim do homem no brilho do ser da linguagem

As Palavras e as Coisas

Foucault (PC) – o fim do homem no brilho do ser da linguagem

V. Psicanálise, etnologia

quinta-feira 4 de novembro de 2021

Excerto de FOUCAULT  , Michel. As Palavras e as Coisas. Uma arqueologia das ciências humanas. Tr. Salma Tannus Muchail. São Paulo: Martins Fontes, 2000 (epub)

português

Em nossos dias, e ainda aí Nietzsche   indica de longe o ponto de inflexão, não é tanto a ausência ou a morte de Deus que é afirmada, mas sim o fim do homem (este tênue, este imperceptível desnível, este recuo na forma da identidade que fazem com que a finitude do homem se tenha tornado o seu fim); descobre-se então que a morte de Deus e o último homem estão vinculados: não é acaso o último homem que anuncia ter matado Deus, colocando assim sua linguagem, seu pensamento, seu riso no espaço do Deus já morto, mas também se apresentando como aquele que matou Deus e cuja existência envolve a liberdade e a decisão deste assassínio? Assim, o último homem é ao mesmo tempo mais velho e mais novo que a morte de Deus; uma vez que matou Deus, é ele mesmo que deve responder por sua própria finitude; mas, uma vez que é na morte de Deus que ele fala, que ele pensa e existe, seu próprio assassinato está condenado a morrer; deuses novos, os mesmos, já avolumam o Oceano futuro; o homem vai desaparecer. Mais que a morte de Deus — ou antes, no rastro desta morte e segundo uma correlação profunda com ela, o que anuncia o pensamento de Nietzsche é o fim de seu assassino; é o esfacelamento do rosto do homem no riso e o retorno das máscaras; é a dispersão do profundo escoar do tempo, pelo qual ele se sentia transportado e cuja pressão ele suspeitava no ser mesmo das coisas; é a identidade do Retorno do Mesmo e da absoluta dispersão do homem. Durante todo o século XIX, o fim da filosofia e a promessa de uma cultura próxima constituíam, sem dúvida, uma única e mesma coisa, juntamente com o pensamento da finitude e o aparecimento do homem no saber; hoje, o fato de que a filosofia esteja sempre e ainda em via de acabar e o fato de que nela talvez, porém mais ainda fora dela e contra ela, na literatura como na reflexão formal  , a questão da linguagem se coloque, provam sem dúvida que o homem está em via de desaparecer.

É que toda a epistémê moderna — aquela que se formou por volta do fim do século XVIII e serve ainda de solo positivo ao nosso saber, aquela que constituiu o modo de ser singular do homem e a possibilidade de conhecê-lo empiricamente — toda essa epistémê estava ligada ao desaparecimento do Discurso e de seu reino monótono, ao deslizar da linguagem para o lado da objetividade e ao seu reaparecimento múltiplo. Se essa mesma linguagem surge agora com insistência cada vez maior numa unidade que devemos mas não podemos ainda pensar, não será isto o sinal de que toda essa configuração vai agora deslocar-se, e que o homem está em via de perecer, na medida em que brilha mais forte em nosso horizonte o ser da linguagem? Tendo o homem se constituído quando a linguagem estava votada à dispersão, não vai ele ser disperso quando a linguagem se congrega? E se isto fosse verdade, não seria um erro — um erro profundo, pois que nos esconderia o que cumpre pensar agora — interpretar a experiência atual como uma aplicação das formas da linguagem à ordem do humano? Não seria antes preciso renunciar a pensar o homem, ou, para ser mais rigoroso, pensar mais de perto este desaparecimento do homem — e o solo de possibilidade de todas as ciências do homem — na sua correlação com nossa preocupação com a linguagem? Não se deve admitir que, estando a linguagem novamente aí, o homem retornará àquela inexistência serena em que outrora o mantivera a unidade imperiosa do Discurso? O homem fora uma figura entre dois modos de ser da linguagem; ou antes, ele não se constituiu senão no tempo em que a linguagem, após ter sido alojada no interior da representação e como que dissolvida nela, dela só se liberou despedaçando-se: o homem compôs sua própria figura nos interstícios de uma linguagem em fragmentos. Certamente, não se trata aí de afirmações, quando muito de questões às quais não é possível responder; é preciso deixá-las em suspenso lá onde elas se colocam, sabendo apenas que a possibilidade de as colocar abre, sem dúvida, para um pensamento futuro.

original

De nos jours, et Nietzsche là encore indique de loin le point d’inflexion, ce n’est pas tellement l’absence ou la mort de Dieu qui est affirmée mais la fin de l’homme (ce mince, cet imperceptible décalage, ce recul dans la forme de l’identité qui font que la finitude de l’homme est devenue sa fin) ; il se découvre alors que la mort de Dieu et le dernier homme ont partie liée : n’est-ce pas le dernier homme qui annonce   qu’il a tué Dieu, plaçant ainsi son langage, sa pensée, son rire dans l’espace du Dieu déjà mort, mais se donnant aussi comme celui qui a tué Dieu et dont l’existence enveloppe la liberté et la décision de ce meurtre ? Ainsi, le dernier homme est à la fois plus vieux et plus jeune que la mort de Dieu ; puisqu’il a tué Dieu, c’est lui-même qui doit répondre de sa propre finitude ; mais puisque c’est dans la mort de Dieu qu’il parle, qu’il pense et existe, son meurtre lui-même est voué à mourir ; des dieux nouveaux, les mêmes, gonflent déjà l’Océan futur ; l’homme va disparaître. Plus que la mort de Dieu, – ou plutôt dans le sillage de cette mort et selon une corrélation profonde avec elle, ce qu’annonce la pensée de betzsche, c’est la fin de son meurtrier ; c’est l’éclatement du visage de l’homme dans le rire, et le retour des masques, c’est la dispersion de la profonde coulée du temps par laquelle il se sentait porté et dont il soupçonnait la pressoin dans l’être même des choses ; c’est l’identité du Retour du Même et de l’absolue dispersion de l’homme. Pendant tout le XIXe siècle, la fin de la philosophie   et la promesse d’une culture prochaine ne faisaient sans doute qu’une seule et même chose avec la pensée de la finitude et l’apparition de l’homme dans le savoir ; de nos jours, le fait que la philosophie soit toujours et encore en train de finir et le fait qu’en elle peut-être, mais plus encore en dehors d’elle et contre elle, dans la littérature comme dans la réflexion formelle, la question du langage se pose, prouvent sans doute que l’homme est en train de disparaître.

C’est que toute l’épistémè moderne – celle qui s’est formée vers la fin du XVIIIe siècle et sert encore de sol positif à notre savoir, celle qui a constitué le mode d’être singulier de l’homme et la possibilité de le connaître empiriquement – toute cette épistémè était liée à la disparition du Discours et de son règne. monotone, au glissement du langage du côté de l’objectivité et à sa réapparition multiple. Si ce même langage surgit maintenant avec de plus en plus d’insistance en une unité que nous devons mais que nous ne pouvons pas encore penser, n’est-ce pas le signe que toute cette configuration va maintenant basculer, et que l’homme est en train de périr à mesure que brille plus fort à notre horizon   l’être du langage ? L’homme s’étant constitué quand le langage était voué à la dispersion, ne va-t-il pas être dispersé quand le langage se rassemble ? Et si cela était vrai, ne serait-ce pas une erreur – une erreur profonde puisqu’elle nous cacherait ce qu’il faut penser maintenant – d’interpréter l’expérience actuelle comme une application des formes du langage à l’ordre de l’humain ? Ne faudrait-il pas plutôt renoncer à penser l’homme, ou, pour être plus rigoureux, penser au plus près cette disparition de l’homme – et le sol de possibilité de toutes les sciences de l’homme – dans sa corrélation avec notre souci du langage ? Ne faut-il pas admettre que, le langage étant là de nouveau, l’homme va revenir à cette inexistence sereine où l’avait maintenu jadis l’unité impérieuse du Discours ? L’homme avait été une figure entre deux modes d’être du langage ; ou plutôt, il ne s’est constitué que dans le temps où le langage, après avoir été logé à l’intérieur de la représentation et comme dissous en elle, ne s’en est libéré qu’en se morcelant : l’homme a composé sa propre figure dans les interstices d’un langage en fragments. Bien sûr, ce ne sont pas là des affirmations, tout au plus des questions auxquelles il n’est pas possible de répondre ; il faut les laisser en suspens là où elles se posent en sachant seulement que la possibilité de les poser ouvre sans doute sur une pensée future.


Ver online : Les mots et les choses