Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Figal (FL:70) – In-sein - ser-em

segunda-feira 30 de março de 2020

Se quisermos compreender o que Heidegger tem em vista com a expressão “ser-no-mundo”, nos veremos inicialmente remetidos para a sua explicação do “em” presente nessa fórmula. Tal como Heidegger quer mostrar em articulação com uma derivação etimológica de J. Grimm: “Em” (In) não possui originariamente nenhuma significação espacial, mas “provém de innan-, morar, habitare, manter-se; ‘junto a’ significa: estou acostumado, familiarizado com, costumo cuidar de algo; ele tem a significação de colo no sentido de habito e diligo" (SZ  , 54). Como sempre acontece em meio ao seu recurso à filologia, a ideia a que Heidegger chega aqui não é dependente da correção de sua derivação. Não se deveria ler Heidegger nesse ponto de maneira diversa de Aristóteles   ou Heráclito  , para os quais etimologias e falsas etimologias têm uma função comparável. [1] A partir da derivação heideggeriana   do “em” (in) resulta, portanto, uma primeira determinação do “ser” citado na fórmula; “ser-em” significa: construir, empreender (colo), e, em verdade, de uma tal maneira que esses modos de comportamento são levados a termo como morar, permanecer (habito), e são determinados por uma escolha do que é a cada vez apreciado (diligo). O mais importante é aí inicialmente a interpretação do ser-em como “morar”, pois essa interpretação ainda é complementada por um aceno em direção à conexão entre “em” e “sou”: “O termo ‘sou’ está coligado ao ‘junto a’; eu sou diz uma vez mais: eu moro…, me mantenho no… mundo, como junto ao que é familiar desse e daquele modo. Ser entendido como infinitivo do ‘eu sou’… significa morar junto a…, estar familiarizado com…” (SZ, 54). Se tentarmos dar uma formulação ao que Heidegger diz aqui, então se chega ao resultado de que o ser-em um mundo deve ser compreendido como ser junto ao mundo. De início isso é tudo menos claro; sobretudo porque, segundo a interpretação heideggeriana  , “em” e “sou” significam o mesmo, a saber, “morar”. É certo que Heidegger oferece um ponto de sustentação para a diferenciação entre essas duas caracterizações, uma vez que só esclarece no segundo caso o “morar” como um “estar familiarizado com…”. Além disso, ele denomina o “ser-em” uma expressão “formal  ”, enquanto o “‘ser junto a’ um mundo, no sentido a ser interpretado mais detidamente do imergir no mundo, deve ser ‘fundado’ no ser-em” (SZ, 54). Consequentemente, todo “ser junto a um mundo” é um “ser no mundo”, mas não o inverso, e será preciso mostrar como esse contexto fundacional precisa ser pensado. Como é fácil perceber que a familiaridade do “ser junto a um mundo” corresponde à “cotidianidade”, é aconselhável começar por ela. [MHFL:70]


Ver online : Günter Figal


[1Em Aristóteles, cf. ΕΝ, 1140b11; em Heráclito, cf. Diels/Kranz B 2, p. 48.