Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

Página inicial > Fenomenologia > Fell (1985:29) – lugar

Fell (1985:29) – lugar

sábado 6 de janeiro de 2024

tradução

A totalidade do pensamento de Heidegger acabou por ser um esforço prolongado para recordar o lugar em que toda a experiência humana — prática ou teórica, intencional ou racional, poética ou técnica — desde sempre se realizou. Este esforço ao longo da vida foi necessário porque este lugar se dissimulou ao longo da história da metafísica; as épocas da metafísica são diferentes modos de esquecimento do lugar. Alheias ao lugar, as épocas da metafísica tentaram, por isso, construir um lugar para si próprias. Ironicamente, estas tentativas metafísicas são entendidas por Heidegger como tendo sido tornadas possíveis originalmente pelo próprio lugar que a metafísica perdeu. Recordar este lugar é, então, ver que a metafísica procurou inconscientemente o que já é dado. O que distingue então o lugar de Heidegger dos lugares da metafísica? O lugar de Heidegger é recordado como já existindo; os lugares metafísicos têm de ser propostos e defendidos. Mas para postular e argumentar a favor de um lugar é necessário um lugar no qual se possa efetuar essa postulação e argumentação. Esse lugar, no qual se postula e se discute sobre lugares, é assim considerado pela metafísica, mas não é tido em conta pela metafísica. Como já existe, só pode ser reconhecido de novo ou recordado; não pode ser construído, uma vez que todas as construções o pressupõem. Este lugar, portanto, ficou no esquecimento, não da mesma forma que algo fica no esquecimento enquanto, tal como um planeta noutra galáxia, estiver fora do alcance da experiência humana.

original

The entirety of Heidegger’s thinking turned out to be a protracted effort at remembering the place in which all human experience—practical or theoretical, willed or reasoned, poetic or technical—has always come to pass. This lifelong effort was necessary because this place has dissimulated itself throughout the history of metaphysics; the epochs of metaphysics are differing modes of forgetting of the place. Oblivious of the place, the epochs of metaphysics have therefore attempted to construct ox posit a place for themselves. Ironically, these metaphysical attempts are understood by Heidegger to have been made possible originally by the very place that metaphysics has missed. To remember this place, then, is to see that metaphysics has unknowingly sought for what is already given. What then distinguishes Heidegger’s place from the places of metaphysics? Heidegger’s place is remembered as already there; metaphysical places have to be posited and argued for. But to posit and argue for a place requires a place in which to carry out such positing and arguing. That place, in which positing and arguing over places occurs, is thus counted on by metaphysics yet not   taken into account by metaphysics. As already there, it can only be re-cognized or remembered; it cannot be constructed, as all constructions presuppose it. This place, then, has lain in oblivion not in the-way that something is in oblivion so long as it, like a planet in another galaxy, is outside the range of human experience.

[FELL, Joseph. "Heidegger’s Mortals and Gods", in Research in Phenomenology Vol. 15 (1985), pp. 29-41 (13 pages)]


Ver online : Joseph Fell