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Diferença e Metafísica

Ernildo Stein (2008:74-76) – princípio epocal

A Desconstrução na Filosofia de Heidegger, um novo paradigma

sexta-feira 9 de junho de 2023, por Cardoso de Castro

Esses princípios epocais nós não os escolhemos, nascemos dentro deles.

Quando se fala em princípio epocal se quer dizer, e isto para Heidegger é muito importante, que cada época da história da metafísica é caracterizada por um princípio objetificado que marca todos os fenômenos da época. Esta é a bela ideia exposta no início do artigo de Heidegger: 0 Tempo da imagem do mundo, em que ele diz que todas as marcas da cultura provêm de um elemento metafísico que determina a História, a Ética, a Política, a Antropologia, a Psicologia.

Esta questão do princípio epocal é novamente um limite que Heidegger impõe para o problema do paradigma. Em que sentido? De que, por exemplo, a partir da ideia de Platão   não apenas se pensa o mundo como ontologia. A partir da ideia, se pensa o conhecimento, a ética, a estética, a política. Tudo é pensado a partir de um único princípio, a ideia. Ela determina, portanto, como princípio epocal, o seu tempo. A substância em Aristóteles  , [75] por sua vez, determina os princípios da ética, da estética, etc. A partir do princípio epocal do ser subsistente a Idade Média determina a Ética, a Estética, a Psicologia, etc. A partir de quê? A partir do princípio epocal teológico. Em Descartes  , Kant   e Hegel   o elemento que determina como princípio epocal a tudo é a subjetividade. Aí a Estética, a Metafísica, a Ética, tudo é marcado por esse princípio epocal. E Heidegger diz: Em Nietzsche   temos, de certo modo, o último princípio epocal, a vontade de poder, em que todas as questões fundamentais da época, cultura, política, Ética, estética são pensadas desde o princípio da vontade de poder.

Esses princípios epocais nós não os escolhemos, nascemos dentro deles. Eles, de certo modo, limitam, em Filosofia, nossas opções paradigmáticas. Então não estamos em um paradigma, na Filosofia, de maneira tão voluntária e tão simplesmente. A Filosofia carrega em si esta ambiguidade de que enquanto estamos no universo do paradigma em que trabalhamos, algo já nos determinou a trabalhar neste universo. Isto é, vivemos sob o império do princípio epocal.

Heidegger dirá sobre si mesmo o quê? Sob que império ele está trabalhando? No século 20 os paradigmas são, na medida em que exploram de maneira autônoma a filosofia. O século 20, repetimos, e o século em que reina, segundo o título de um livro de Schürmann  , O princípio da anarquia, isto é, o século 20 não tem propriamente um princípio epocal. A Ética, a Estética, a Antropologia, a Psicanálise, todos os campos da política são comandados propriamente por sucessivos elementos que não se constituem como um princípio epocal. É isso que, às vezes, chamamos de pós-modernidade. Assim, o século 20 vive a ausência de um princípio epocal. Heidegger dirá: O princípio epocal do século 20 é a técnica e é a ela que ele dedica, certamente, uma grande parte de sua obra dentro e fora da desconstrução da história da Filosofia.

Heidegger dirá que, no século 20, vivemos num tempo de indigência e não é por nada que Karl Löwith   escreveu um livro sobre Heidegger que se chama: Para que filósofos em tempo de indigência, parafraseando Hölderlin  : Para que poetas em tempo de indigência.

[76] De certo modo, para Heidegger o século 20 é um século de obscurecimento, de encobrimento, em que vivemos uma espécie de caos com relação ao princípio epocal. Por isso a explosão de paradigmas é feita sem uma certa legalidade historiai, sem um princípio orientador. É por isso que por vezes se fala em fim da metafísica, num sentido não apenas desconstrutivista, como em Heidegger, isto é, fala-se apenas em fim da metafísica como fim da Filosofia. Temos então a superação da metafísica como o imperar da objetificação.


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