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Diferença e Metafísica

Ernildo Stein (2008:110-111) – essência da técnica

O Incontornável Como o Inacessível

sexta-feira 9 de junho de 2023, por Cardoso de Castro

A técnica como a figura fundamental do ser, isto é a técnica como o encobrimento do ser pelo modo como a técnica manifesta a vontade de vontade diante do mundo, das coisas e do homem.

Quando Heidegger afirma na carta “a essência da ciência moderna se fundamenta na essência da técnica”, exige um diagnóstico da essência da técnica e já mostra em que direção ele vai, “porque a essência da técnica é uma, a figura fundamental do ser que agora impera no sentido da vontade de vontade”, ele anuncia o último princípio epocal, incorporado em Nietzsche   como o último metafísico.

A técnica como a figura fundamental do ser, isto é a técnica como o encobrimento do ser pelo modo como a técnica manifesta a vontade de vontade diante do mundo, das coisas e do homem. Heidegger permanece fiel a seu estilo de ver o positivo, o anúncio, o destino do ser, no encobrimento que é trazido pela técnica.

Assim como a presença na modernidade é o subtectum enquanto consciência, autoconsciência, ela, na técnica, é a presença do objeto para o sujeito, objeto que não apenas espera a objetificação, mas que provoca o ser humano como um fundo inesgotável de reserva a ser disposto como artefatos, máquinas, instrumentos.

Assim, a figura na qual impera o ser na era da técnica é o dispositivo (Ge-stell  ). Por isso Heidegger diz: “O dispositivo é a essência da técnica.” (…) “A essência da técnica é o dispositivo” (1994, p. 40).

É por isso que Heidegger torna a carta para H. Zeltner um documento do que já pensara nas suas obras de 1930 a 1945 e resumindo essas ideias em novos textos e conferências contemporâneas a ela.

As conferências de Bremen resumem a modernidade com sua ciência: A coisa não é mais pensada em seu acontecer. O dispositivo é o que converte sempre em objeto a coisa. Esse é O perigo como tal. É nele que é possível A vira-volta.

Assim sendo, a essência da ciência reside na essência da técnica, a essência da técnica reside na essência do dispositivo, a essência do dispositivo é o perigo que se esconde no dispositivo, perigo e que assim não experimentamos como perigo e por isso não vivemos nossa indigência, isto é, “o ser humano não é ainda o mortal” (p. 56). Para ser mortal (e não apenas alguém que termina), deve acontecer a vira-volta (Kehre  ).

[111] “Quando o perigo é, enquanto o perigo, com a viravolta do esquecimento, acontece o mostrar-se do ser, acontece mundo” (p. 73).

Quando a técnica, e por isso a ciência, converteu a coisa em objeto e assim em dispositivo, a coisa deixou de acontecer como mundo, e então a técnica se tornou nosso destino.

Heidegger diz na carta a H. Zeltner: “Existem sinais de que estamos, ainda vagarosamente, avançando na direção de uma viravolta (Kehre) desse destino do ser”, que nos permitirá enfrentar a essência da técnica. E então admoesta: “Preparar para a viravolta é necessidade e tarefa do pensamento”.


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