Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Dastur (2002:61-62) – A fenomenologia da mortalidade

sábado 19 de janeiro de 2019

A fenomenologia da mortalidade exige, então, a redução de qualquer tese sobre a morte, seja qual for sua origem, para nos colocar diante do "puro fenômeno" da mortalidade. Ora, esse "puro fenômeno" da mortalidade tem o sentido intrínseco de uma relação daquele que pensa com sua própria morte. Essa relação que Heidegger chama de Sein zum Tode  , que se traduz habitualmente por "ser para a morte" ou de "ser em direção da morte", mas que significa, simplesmente, um "ser em relação com a morte". Mas esse ser em relação com a morte não é para ele, nem para o vivente em geral, nem para o homem em seu sentido tradicional de animal racional, de vivente dotado de razão, mas aquele que ele batiza por Dasein  , utilizando-se de um termo que serviu em alemão para traduzir o latim existentia   e que significa, literalmente, "ser-aí".

Não é, todavia, o sentido geral que engloba tão bem as coisas inanimadas quanto as coisas animadas e o homem, que Heidegger dá a esse termo, mas o sentido particular, que não se aplica senão ao existente que nós somos, de um estar aberto para si mesmo e ao outro, que pode então ser um aí, isto é, como ele explicará, por conseguinte, uma "clareira para a presença e para a ausência" [1]. Fora de uma tal clareira, que nada mais é que o mundo, não há relação possível com o ser e com o não-ser, como tais e, portanto, não com o estar-no-mundo e com o estar-para-a-morte possíveis. O mundo, na verdade, não é para Heidegger o conjunto dos existentes, mas o horizonte a partir do qual os existentes podem ser compreendidos como o que são; é então um momento constitutivo do próprio Dasein e não um meio no qual este seria inserido, e eis o que explica que o ser "aí" do Dasein e o ser "aí" do mundo estejam inseridos no mesmo contexto e constituam uma só coisa [2]. (2002, p. 61-62)


Ver online : A MORTE


[1Cf. Heidegger, "O fim da filosofia e a tarefa do pensamento", em Questões IV, op. cit., p. 128. Em uma carta a Jean Beaufret, de novembro de 1945, Heidegger explicava que Dasein significa "em um francês sem dúvida impossível: ser o-aí", e precisava que o aí é a abertura, a não-ocultação. (Cf. Carta sobre o humanismo, Aubier bilíngue, 1964, p. 183-184.)

[2Sein und Zeit, op. cit., p. 133.