Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

Página inicial > Léxico Alemão > Caron (2005:25-26) – si e eu

Caron (2005:25-26) – si e eu

sábado 6 de maio de 2017

Português

Qual é o ser do si? Para o interrogado, o obstáculo é imediato. Todavia, o pensamento comum não cessou enquanto não rompeu o silêncio deste problema, e responde então geralmente por uma fórmula cuja perigosa vacuidade, longe de resolver o que quer que seja, se contenta de deslocar a questão em a ocultando definitivamente por este ato falsamente inocente que é a presença de uma resposta, qualquer que seja esta última e desde que ela aí esteja. À questão "o que é o si?" , ela remete um: "por exemplo, sou eu", cuja possibilidade tanto quanto a significação permanecem não interrogadas. Se encontra então posta sem mais a equação mais evidente do mundo e no entanto a menos verdadeira: "ser si mesmo, é ser eu".

Este deslizamento do si mesmo ao eu é rigorosamente ilegítimo. Não se poderia confundir sem mais o si e o eu. Dizer "eu", não é na maioria das vezes nada diferente que ratificar a unidade ôntica, a integridade biológica do vivente que "eu" sou. Dizer "eu", é portanto constatar em suportando, é registrar um fato. Em revanche, o ato de dizer "eu", em seguida de pensar que se diz "eu" e de incluir este dizer-eu ao eu, faz necessariamente explicitar a insuficiência do conceito de eu em dar conta da plenitude e da complexidade daquele que diz eu: o si. Dizer-eu ou pensar-eu é um fenômeno que inclui necessariamente nele o eu do qual é questão. No dizer-eu ou a representação do eu, o eu não é senão um membro da reflexão que o supera, deste jogo de separação de si e de retorno a si que é a consciência humana. Dizer "eu", é colocar eu = eu, e nesta relação, a totalidade constituída é superior aos termos que ela articula: ela os engloba. Compreende-se facilmente que seja rigorosamente impossível confundir o si e o eu; quer dizer o movimento reflexivo, a dinâmica espiritual, e o resultado, o fenômeno derivado de um processo mais amplo. A relação do si a si do si precede e torna possível sua qualificação mesma como eu. Neste sentido, Heidegger poderá escrever (e é a distinção fundamental para toda tentativa de pensar a origem da subjetividade) que "o eu [é] aparência do si (scheibare Selbst  )" [1], ou ainda: "O homem não é um si porque ele é um eu, mas inversamente: ele não pode ser um eu senão porque, em sua essência-desdobrante, ele é um si" [2].

Original

Quel est l’être du soi ? Pour l’interrogé, l’obstacle est immédiat. Toutefois, la pensée commune n’a de cesse qu’elle ait rompu le silence de ce problème, et répond alors généralement par une formule dont la périlleuse vacuité, bien loin de résoudre quoi que ce soit, se contente de déplacer la question tout en l’occultant définitivement par cet acte faussement innocent qu’est la présence d’une réponse, quelle que soit cette dernière et pourvu qu’elle y soit. À la question « qu’est-ce que le soi ? », elle renvoie un : « par exemple, c’est moi », dont la possibilité autant que la signification demeurent non interrogées. Se trouve alors posée sans plus l’équation la plus évidente du monde et pourtant la moins vraie : être soi, c’est être moi.

Ce glissement du soi au moi est en toute rigueur illégitime. On ne saurait confondre sans plus le soi et le moi. Dire « moi », ce n’est la plupart du temps rien d’autre que ratifier l’unité ontique, l’intégrité biologique du vivant que «je » suis. Dire « moi », c’est donc constater en subissant, c’est enregistrer un fait. En revanche, l’acte de dire « moi », puis de penser que l’on dit « moi » et d’inclure ce dire-moi au moi, fait nécessairement ressortir l’insuffisance du concept de moi à rendre compte de la plénitude et de la complexité de celui qui dit moi : le soi. Dire-moi ou penser-moi est un phénomène qui inclut nécessairement en lui le moi dont il est question. Dans le dire-moi ou la représentation du moi, le moi n’est qu’un membre de la réflexion qui le dépasse, de ce jeu de séparation [26] de soi et de retour à soi qu’est la conscience humaine. Dire « moi », c’est poser moi = moi, et dans cette relation, la totalité constituée est supérieure aux termes qu’elle articule : elle les englobe. On comprend aisément qu’il soit en toute rigueur impossible de confondre le soi et le moi ; c’est-à-dire le mouvement réflexif, la dynamique spirituelle, et le résultat, le phénomène dérivé d’un procès plus ample. Le rapport de soi à soi du soi précède et rend possible sa qualification même comme moi. En ce sens, Heidegger pourra écrire (et c’est la distinction fondamentale pour toute tentative de penser l’origine de la subjectivité) que « le moi [est] apparence du soi (scheinbare Selbst) » [3], ou encore : « L’homme n’est pas un soi parce qu’il est un moi, mais inversement : il ne peut être un moi que parce que, dans son essence-déployante, il est un soi » [4]. (p. 25-26)

[Excerto de CARON  , Maxence. Heidegger. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005, p. ]

CARON, Maxence. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005.


Ver online : Maxence Caron


[1GA2, p. 420: nota à página 317 de SuZ.

[2GA38, p. 40.

[3GA2, p. 420 : note à la page 317 de SuZ.

[4GA38, p. 40.