Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Caron (2005:13-14) – a questão sobre a origem do si

sexta-feira 5 de maio de 2017

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Pela diferença instaurada entre o eu e o si, Heidegger parte em demanda disso que tornará o si aquilo que lhe é próprio (eigen); estabelece a ipseidade em seu Eigentlichkeit  . Ora, este ser-si-mesmo-propriamente revela o si como aquele que, impregnado de ser, designa para o ser como para seu fundo. Este fundo o domina e no entanto o si, que é Da-sein  , aí tem acesso: sabe o que o abre a si, embora sendo projetado nesta estrutura que o sobrepaira e o produz. Esta estrutura aparece assim como um ato de apropriação (Er-eignis), aquele do ser que, em vendo o si à sua própria ipseidade, o envia igualmente a ele mesmo ser — de um abismo a outro. O ser se dá assim como este Eignen em que todas as estruturas existenciais postas em relevo por Sein und Zeit   encontram sua fonte doadora.

É nesta articulação fundamental ente o Eigen e o Eignen que se desvelam, nos parece, a unidade e a coerência do pensamento heideggeriano a partir dos quais a questão da subjetividade busca a possibilidade de um enriquecimento. Frequentemente prolongou-se uma tradição interpretativa que vê no pensamento heideggeriano um empreendimento de "destruição" do sujeito; mas esta famosa "Destruktion  " que Heidegger sempre entendeu em um sentido positivo — mais precisamente, no sentido de um remoção camada por camada, ou de uma desconstrução fazendo aparecer os elementos aglutinados ao longo dos tempos em conceitos tão usados quanto usuais, e devendo ser, por esta razão, desencravados ou liberados deles mesmos —, esta Destuktion, longe de negar a subjetividade, a funda. E esta fundação não pode ser precisamente obtida a não que se remova as estruturas acumuladas umas sobre as outras e que dissimulam a ela mesma a origem essencial da subjetividade.

A subjetividade (o eu) aparece então como o resultado da atividade fenomenalizante da ipseidade (o si) que, como Dasein pré-compreendendo o ser, pode nativamente se proporcionar o ente visível, em seguida deve se aproximar da impulsão condicionante embora invisível do ser em que todas as coisas são vistas a fim de manifestá-la como Ereignis   em que o ser se dá em se dando um si para que haja ser. A origem da subjetividade, sob todas as suas formas, em todos seus avatares e todas suas estruturas, é o ser confirmado como Ereignis. O pensamento do Ereignis não é o distanciamento de imaginação de um filósofo envelhecendo: como o atestam os manuscritos de Heidegger, ele aparece em suas mais explícitas implicações menos de dez anos após a aparição de Sein   un Zeit  , em um homem em plena força da idade, e se apresenta como o que a obra de 1927 busca e finalmente conquista segundo os delineamentos mesmos previstos pelo plano exposto ao fim de sua introdução (a saber: uma leitura da história da metafísica da subjetividade segundo o fio condutor do tempo, leitura que alcança à formulação da retomada do si pelo ser no Ereignis).

Caron

Par la différence instaurée entre le moi et le soi, Heidegger part en quête de ce qui rendra le soi à ce qui lui est propre (eigen) : il établit l’ipséité en son Eigentlichkeit. Or, cet être-soi-même-en-propre révèle le soi comme celui qui, imprégné d’être, désigne vers l’être comme vers son fond. Ce fond le domine et pourtant le soi, qui est Da-sein, y a accès : il sait ce qui l’ouvre à soi, tout en étant jeté en cette structure qui le surplombe et le pro-duit. Cette structure apparaît ainsi comme un acte d’appropriation (Er-eignis), celui de l’être qui, en envoyant le soi à sa propre ipséité, l’envoie également à lui-même être — d’un abîme l’autre. L’être se donne ainsi comme cet Eignen en qui toutes les structures existentiales mises en relief par Sein und Zeit trouvent leur source donatrice.

C’est dans cette articulation fondamentale entre I’Eigen et l’Eignen que se dévoilent, nous semble-t-il, l’unité et la cohérence de la pensée heideggerienne à partir desquelles la question de la subjectivité puise la possibilité d’un enrichissement. On a souvent prolongé une tradition   interprétative qui voit dans la pensée heideggerienne une entreprise de « destruction » du sujet ; mais cette fameuse « Destruktion » que Heidegger a toujours entendue en un [14] sens positif — plus précisément, au sens d’un déblayage couche par couche, ou d’une déconstruction faisant apparaître les éléments agglutinés au fil des âges dans des concepts aussi usés qu’usités, et devant être, pour cette raison, désenclavés ou délivrés d’eux-mêmes —, cette Destruktion, loin de nier la subjectivité, la fonde. Et cette fondation ne peut être précisément obtenue que si l’on déblaie les structures accumulées les unes sur les autres et qui dissimulent à elle-même l’origine essentielle de la subjectivité.

La subjectivité (le moi) apparaît d’abord comme le résultat de l’activité phénoménalisante de l’ipséité (le soi) qui, comme Dasein précomprenant l’être, peut nativement se rendre l’étant visible, puis doit s’approcher de l’impulsion conditionnante bien qu’invisible de l’être en qui toutes choses sont vues afin de la manifester comme Ereignis en qui l’être se donne en se donnant un soi pour qui il y a de l’être. L’origine de la subjectivité, sous toutes ses formes, en tous ses avatars et toutes ses structures, est l’être avéré comme Ereignis. La pensée de l’Ereignis n’est pas l’écart d’imagination   d’un philosophe vieillissant : comme l’attestent les manuscrits de Heidegger, elle apparaît dans ses plus explicites implications moins de dix ans après la parution de Sein und Zeit, chez un homme en pleine force de l’âge, et se présente comme ce que l’ouvrage de 1927 recherche et finalement conquiert selon les linéaments mêmes prévus par le plan exposé à la fin de son introduction (à savoir : une lecture de l’histoire métaphysique de la subjectivité selon le fil conducteur du temps, lecture qui aboutit à la formulation de la reprise du soi par l’être dans l’Ereignis). (p. 13-14)

[Excerto de CARON  , Maxence. Heidegger. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005, p. 13-14]

CARON, Maxence. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005.


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