Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Caron (2005:786-787) – ser-a-cada-vez [Jeweiligkeit]

sexta-feira 15 de dezembro de 2023

tradução

Em 1924, na sua conferência sobre o conceito de tempo, Heidegger minimizou o caráter de "meu" do fenômeno do ser-sempre-meu [Jemeinigkeit  ], chamando a este fenômeno Jeweiligkeit, isto é, ser-a-cada-vez, e sublinhando assim que a aparência do meu é apenas um sinal de uma verdade mais essencial. Heidegger sublinha assim o que deve ser reconhecido como fundamental neste existencial: assim que um ente tal como o Dasein   se desdobra, ele é necessariamente e a cada vez um "eu sou", um meu (Je-meinige). O ser deste processo de desdobramento de uma compreensão do ser que penetra no coração do ente precede o ser-meu: este último é apenas uma consequência deste desdobramento, um correlato certamente necessário, mas que deriva a sua essência de uma verdade que lhe é mais profunda. "O Dasein é um ente que se define ele mesmo como: "eu sou". Para o Dasein, o ser-a-cada-vez (Jeweiligkeit) do "eu sou" é constitutivo. Assim, o Dasein é fundamentalmente, da mesma maneira que é "ser-no-mundo", igualmente meu Dasein. Ele é sempre propriamente e a cada vez enquanto próprio. Se é necessário definir este ser do Dasein em seu ser, então é impossível abstrair do ser-a-cada-vez do ser-sempre-meu. Mea res agitur" [1]. Vemos aqui que o ser-a-cada-vez, que é o processo de manifestação da compreensão do ser no ente, é a função originária (através da qual o ser enquanto tal entra em presença) da qual o ser-sempre-meu é um disfarce. O ser-sempre-meu é/está no ser-a-cada-vez, a Jemeinigkeit na Jeweiligkeit, e não o contrário. Ser-a-cada-vez significa: vinda à presença, a cada vez, do ser ele mesmo em cada ente que compreende o ser. Consequentemente, eu mesmo como coisa, sou agido; um processo empurra-me, [787] move-me como coisa, atestando-me como irredutível a qualquer estrutura de coisa; sou tomado em uma verdade cujas pulsações me ultrapassam: o desdobramento do ser-a-cada-vez assume a figura de relação que é o fenômeno da consciência. No ser-sempre-meu, não há questão de "eu": a Jeweiligkeit, que constitui o fundamento de sentido da Jemeinigkeit, é o que causa o domínio ontológico que é o Dasein, o que fenomenaliza a dimensão do Dasein.

Original

En 1924, dans sa conférence sur le concept de temps, Heidegger minimise le caractère de « mien » du phénomène de la mienneté, en baptisant ce phénomène du nom de Jeweiligkeit, c’est-à-dire de l’être-à-chaque-fois, et en soulignant par là que l’apparition du mien n’est qu’un signe d’une vérité plus essentielle. Heidegger met ainsi en relief ce qu’il faut reconnaître comme fondamental dans cet exis-tential : dès que se déploie un étant tel que le Dasein, il est nécessairement et à chaque fois un « je suis », un mien (Je-meinige). L’être de ce procès de déploiement d’une compréhension d’être qui perce au cœur de l’étant précède l’être-mien : ce dernier n’est qu’une conséquence de ce déploiement, un corrélât certes nécessaire, mais qui tient son essence d’une vérité plus profonde que lui. « Le Dasein est un étant qui se définit lui-même comme : « je suis ». Pour le Dasein l’être-à-chaque-fois (Jeweiligkeit) du « je suis » est constitutif. Ainsi, le Dasein est foncièrement, de la même façon qu’il est « être-au-monde, également mon Dasein. Il est toujours en propre et à chaque fois en tant que propre. S’il faut définir cet être du Dasein en son être, alors il est impossible de faire abstraction de l’être-à-chaque-fois de la mienneté. Mea res agitur » [2]. Nous voyons ici que l’être-à-chaque-fois, qui est le procès de manifestation de la compréhension d’être dans l’étant, est la fonction originaire (par lequel l’être comme tel entre en présence) dont la mienneté est une guise. La mienneté est dans l’être-à-chaque-fois, la Jemeinigkeit dans la Jeweiligkeit, et non l’inverse. L’être-à-chaque-fois signifie : la venue en présence, à chaque fois, de l’être lui-même dans chaque étant qui comprend l’être. Par conséquent, moi-même comme chose, je suis agi ; un procès me pousse, me [787] meut comme chose, m’attestant de fait comme irréductible à toute structure de chose ; je suis pris en une vérité dont les pulsations me dépassent : le déploiement dont l’à-chaque-fois prend la figure de rapport qu’est le phénomène de la conscience. Dans la mienneté, il n’est pas question de « moi » : la Jeweiligkeit, qui constitue le fond de signification de la Jemeinigkeit, est ce en quoi le domaine ontologique qu’est le Dasein se cause, ce en quoi la dimension du Dasein se phénoménalise.

CARON  , Maxence. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005.


Ver online : Maxence Caron


[1O conceito de tempo, in Cahier de l’Herne "Martin Heidegger", p. 30. Tradução modificada

[2Le concept de temps, in Cahier de l’Herne « Martin Heidegger », p. 30. Traduction modifiée.