Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Caron (2005:782) – a introspecção

sexta-feira 15 de dezembro de 2023

tradução

A introspecção só é possível a partir de uma compreensão do ser e, por conseguinte, a partir de uma transcendência do si mesmo sobre o seu próprio corpo e sobre qualquer situação definida onticamente. Em se intro-espectando, o si mesmo está sempre noutro lugar que não aquele onde pensa estar, e quanto mais intenso for, mais há "especção", menos há "intro", interioridade, menos há interiorização do si mesmo; quanto mais o si se centra em si mesmo como eu na introspecção, mais se deporta para o ser pela compreensão da qual apenas os seus estados de consciência podem aparecer para um pensamento ; quanto mais o si mesmo pensa, menos coincide com a sua imediaticidade ôntica; expõe-se cada vez mais ao ser para poder tomar o campo que lhe permite distinguir cada estado interior particular com maior precisão. A introspecção contradiz em seu ser o que acredita ser, anula o que visa — nomeadamente as vivências físicas e psicológicas, e o eu como o conjunto dessas vivências — pelo que faz. É porque o eu está sempre para além, επέκεινα, numa outra região, num outro elemento, numa outra ordem que não a ordem do ente, que há para ele ente enquanto ente, ente em seu ser, que lhe é dado abrir-se a este ou àquele ente com esta ou aquela insistência, fazer aparecer as coisas por dicotomia e diferenciação nas suas características precisas, descascar a multiplicidade dos seus "estados interiores" fazendo aparecer os seus diferentes matizes afectivos, e dedicar-se a tal tarefa com tanta aplicação que se esquece da própria coisa que está a fazer. O si mesmo pode ser, através do movimento do seu próprio desdobramento, atraído pelo seu reflexo, absorvido e totalmente escondido a si mesmo por aquilo a que se abre e torna manifesto. Faz parte do seu ser poder cair numa realidade, e faz parte do próprio ser do cair, esquecer o que torna este cair possível.

Original

L’introspection n’est possible que sur la base de la compréhension d’être, par conséquent sur la base d’une transcendance du soi sur son propre corps et de toute situation   ontiquement définie. En s’intro-spectant, le soi est toujours ailleurs que là où il croit être, et plus celle-ci est intense, plus il y a « spection », moins il y a d’« intro », d’intériorité, moins il y a d’intériorisation du soi ; plus le soi se centre sur soi comme moi dans l’introspection, plus il se déporte vers l’être par la compréhension duquel seulement ses états de conscience peuvent apparaître pour une pensée ; plus le soi pense, moins il coïncide avec son immédiateté ontique ; il est de plus en plus exposé à l’être afin de pouvoir prendre le champ qui lui permet de distinguer avec d’autant plus de précision chaque état intérieur particulier. L’introspection contredit en son être ce qu’elle croit être, elle annule ce qu’elle vise – à savoir les vécus physiques et psychologiques, et le moi comme ensemble de ces vécus – par ce qu’elle fait. C’est parce que le soi est toujours au-delà, επέκεινα, dans une autre région, dans un autre élément, dans un autre ordre que l’ordre de l’étant, qu’il y a pour lui de l’étant en tant qu’étant, de l’étant en son être, qu’il lui est donné de s’ouvrir à tel ou tel étant avec telle ou telle insistance, de faire apparaître par dichotomie et différenciation les choses en leurs caractéristiques précises, d’éplucher la multiplicité de ses « états intérieurs » en faisant apparaître leurs différentes nuances affectives, et de se consacrer à une telle tâche avec tant d’application qu’il oublie cela même qu’il est en train d’opérer. Le soi peut être, par le mouvement de son propre déploiement, attiré par son reflet, absorbé et totalement occulté à soi-même par ce à quoi il s’ouvre et ce qu’il rend manifeste. Il appartient à son être de pouvoir être échu à une réalité, et il appartient à l’être même de l’échéance d’oublier ce qui rend possible cette échéance.

CARON  , Maxence. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005.


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