Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

Página inicial > Léxico Alemão > Caron (2005:778) – Dasein não é o sujeito

Caron (2005:778) – Dasein não é o sujeito

sexta-feira 15 de dezembro de 2023

tradução

[…] o Dasein   não é o sujeito, nem está destinado a substituir o sujeito, o que significaria ocupar um lugar onticamente determinado que sabemos ser impróprio para a profundidade da ipseidade. Quando Heidegger escreve "o Dasein faz tal e tal coisa", "o Dasein atua de tal e tal modo", "o Dasein pensa isto ou aquilo", etc., estas várias proposições devem, em última análise, ser entendidas como se estivéssemos a falar de alguém que não eu, alguém que todavia seria nós mesmos. Em caso algum devemos substituir esta nova espécie de melodia que Sein und Zeit   nos apresenta pela repetição incansável da palavra "Dasein", esta melodia com os seus harmônicos complexos e inéditos, uma melodia que pode ser agradável mas é ligeira e inadequada: "o homem faz tal e tal coisa", "o homem age de tal e tal maneira", etc. Isso seria perder a radicalidade sem precedentes do questionamento de Heidegger. O Dasein não sou eu, mesmo que seja de fato meu. O Dasein é um ser que se desenvolve de acordo com as diretrizes que Sein   und Zeit   pretende trazer à luz. Este ser é mais do que nós, precede-nos, ultrapassa-nos; é um desdobramento em cuja dinâmica somos lançados, mas que não podemos reduzir à nossa própria idiossincrasia, mesmo que generalizada na noção de humanidade.

Original

Le Dasein, on le voit, n’est pas le sujet et n’est pas non plus destiné à le remplacer, ce qui serait en ce cas occuper une place ontiquement déterminée dont nous savons qu’elle est impropre à la profondeur de l’ipséité. Quand Heidegger écrit « le Dasein fait telle chose », « le Dasein agit de telle sorte », « le Dasein pense ceci ou cela », etc., il faut à la limite entendre ces diverses propositions comme s’il était question de quelqu’un d’autre que moi, quelqu’un d’autre que nous serions pourtant nous-mêmes. Il ne faut en aucun cas substituer à cette mélodie d’un genre nouveau que nous présente Sein und Zeit en répétant inlassablement le mot « Dasein », à cette mélodie aux harmoniques complexes et inédites, un air peut-être plaisant mais léger et inadéquat : « l’homme fait telle chose », « l’homme agit de telle sorte », etc. Ce serait passer à côté de la radicalité inédite du questionnement mis en œuvre par Heidegger. Le Dasein, ce n’est pas moi, même s’il est bien mien. Le Dasein, c’est un étant qui se déploie selon les guises que Sein und Zeit est destiné à mettre en lumière. Cet étant est plus que nous, il nous précède, il nous dépasse ; il est un déploiement dans la dynamique duquel nous sommes jetés mais que nous ne saurions réduire à notre propre idiosyncrasie, fût-elle généralisée dans la notion d’humanité.

CARON  , Maxence. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005.


Ver online : Maxence Caron