Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Caron (2005:252 nota) – Interrogar a essência da essência

sexta-feira 15 de dezembro de 2023

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Interrogar a essência da essência não é regredir ad infinitum quando essa essência aparece como o próprio ser, pois ao interrogar o ser encontramo-nos precisamente perante aquilo que permite apreender o menor objeto e, ao mesmo tempo, perante aquilo que, pela sua indefinição, torna possível a interrogação. O ser é, portanto, o elemento último para além do qual não há retorno, uma vez que ele próprio torna possível qualquer pergunta sobre o ser de algo: colocar a questão do ser é estar no ser e, ao mesmo tempo, relacionar-se com ele. Olhar para o ser é olhar para aquilo que permite qualquer olhar através da pré-compreensão ontológica (o ser só se torna acessível através desta adesão impensada ao ser); colocar a questão da essência do ser, ou olhar o ser como ser, não é expor-se a ter de questionar posteriormente a essência da essência do ser, uma vez que é o ser que torna esse questionamento possível através da pré-compreensão do enigma da presença (que é o corolário da pré-compreensão da presença do ser em cada ato significante e em cada percepção do objeto). No caso do ser, só podemos interrogar a sua essência porque o próprio ser nos dá a capacidade de nos relacionarmos com qualquer essência e com ele próprio enquanto mistério da presença do qual emerge qualquer relação com o ente no seu "é". Colocar a questão do ser presente à e na consciência é mostrar que não há diferença entre o questionado e a questão, uma vez que o próprio questionado torna a questão possível: desta forma não podemos regredir ao infinito.

Original

Entreprendre d’interroger l’essence de l’essence ne vire pas à la régression à l’infini quand cette essence apparaît comme l’être même, car en interrogeant l’être on se trouve précisément en face de ce qui permet de saisir le moindre objet en même temps qu’en face de ce qui, par son insaisissabilité, rend possible le questionnement. L’être est donc l’élément ultime en deçà duquel il n’y a pas à régresser puisque lui-même permet toute question sur l’être de quelque chose : poser la question de l’être est être dans l’être tout en s’y rapportant. Regarder l’être, c’est regarder ce qui permet tout regard par la précompréhension ontologique (l’étant ne devenant accessible que par cette accession impensée à l’être) ; poser la question de l’essence de l’être, ou regarder l’être comme être, n’est pas s’exposer à devoir interroger par la suite l’essence de l’essence de l’être, puisque c’est l’être qui rend possible ce questionnement lui-même par la précompréhension de l’énigme de la présence (qui est le corollaire de la précompréhension de la présence de l’être dans tout acte signifiant et toute perception d’objet). Dans le cas de l’être, on ne peut interroger son essence que parce que lui-même nous donne de pouvoir nous rapporter à toute essence et à lui-même en tant que mystère de présence dont émerge toute relation à l’étant dans son « est ». Poser la question de l’être présent à et dans la conscience, c’est montrer ne pas faire de différence entre le questionné et la question, puisque le questionné rend lui-même possible la question : on ne peut ainsi régresser à l’infini.

CARON  , Maxence. Pensée de l’être et origine de la subjectivité. Paris: CERF, 2005.


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