Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Brisson & Pradeau (2002) – corpo e alma

terça-feira 13 de junho de 2023

Para Brisson   & Pradeau, há uma definição platônica do corpo como instrumento (organon  ) da alma. Esta definição remonta a Demócrito. Ela é retomada por Platão no Primeiro Alcibíades, mas também adotada por Aristóteles (Ética a Nicômaco VIII, 13), o que lhe confere uma autoridade suficientemente estendida para que Plotino   não impute nomeada e exclusivamente a Platão.


O corpo é para Plotino o resultado de uma informação parcial da matéria. É uma razão (logoi) proveniente da alma que é a causa da existência do corpo. Vide Enéada II, 4, 5. [Brisson & Pradeau (2002, p.128)]
Segundo Brisson & Pradeau (2002, pg. 128), de maneira muito alusiva, é a definição da alma por Epicuro combatida por Plotino. Epicuro diz que a alma "é um corpo composto de finas partes"; tão finas que, repartidas no conjunto do agregado que é o resto do corpo, elas estão em simpatia com ele (Carta a Heródoto, Diógene Laércio X, 63-68). Uma doutrina similar foi atribuída a Demócrito, do qual Epicuro é dado por herdeiro.
A alma dá ao corpo as qualidades necessárias à constituição do conjunto do mundo e dos viventes. A alma informa o corpo de tal sorte que ele tenha estas qualidades. Esta alma é a alma do mundo, que se denomina "natureza", como aí retorna longamente o Tratado-30. [Brisson & Pradeau (2002, p.131)]
Em Enéada IV, 7, 3, Plotino se opõe à definição da alma por Epicuro, "um corpo composto de finas partes"; tão finas que, repartidas no conjunto do agregado que é o resto do corpo, elas estão em simpatia com o corpo. Uma doutrina similar foi atribuída a Demócrito, de quem Epicuro seria herdeiro. Neste Tratado 2, Plotino enfrenta também a definição de alma do estoicismo, que embora materialista lhe parece ao mesmo tempo mais sutil e mais difícil de refutar.
Contestando que a alma seja um corpo, Plotino, segundo O’Meara, deixa entender que um corpo deve ser composto de um ou mais dos quatro elementos: fogo, ar, água e terra. Ou um composto destes mesmos elementos. Porém estes elementos são sem vida, e coisas compostas destes elementos dependem de algo, uma causa que os ponha juntos. Assim este algo mais é o que significa a alma. Por conseguinte a alma não pode ser corpo, seja como um elemento ou como uma combinação de elementos (Enéada IV, 7, 2).

Ainda segundo O’Meara (1995, p. 17), os estoicos falavam de uma força corpórea, uma espécie de espírito ou sopro cósmico doador de vida, que penetra e organiza uma matéria puramente passiva, criando níveis cada vez mais complexos de realidade material culminando em racionalidade. Plotino, entretanto, assume sua própria concepção do corpo: incapaz de auto-movimento e de auto-organização; sem poder de criar funções superiores, em particular orgânicas. Estas funções devem ser produzidas por algo diferente, que portanto não pode ser um corpo.


Ver online : Luc Brisson