Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Boutot (IFH:36-37) – Sorge - cura

sábado 27 de maio de 2017

No fim desta análise, o ser-aí surge como um ser lançado em projeto, no qual entra, no seu ser, em virtude do seu próprio poder ser. Heidegger reúne a multiplicidade destes momentos constitutivos numa estrutura unitária: o cuidado (die Sorge  ) que representa a estrutura fundamental do ser-aí enquanto ser-no-mundo. O cuidado unifica, ao articulá-los, os três caracteres ontológicos fundamentais do ser-aí: 1) o ser-aí-face-a-si-mesmo (i. e. a existenciaridade — o ser-aí é um ser em projeto em direção ao seu próprio poder ser); 2) o ser-já-no-mundo (i. e. a facticidade — o ser-aí é facticial); 3) o ser-junto-do-ente encontrado no mundo (i. e. a queda — o ser-aí identifica-se com o mundo da sua preocupação). Estas três determinações do ser são co-originárias e constituem, juntas, a totalidade da estrutura ontológica do ser-aí. Ser para o ser-aí quer dizer: «ser-já-face-a-si-mesmo-em-(mundo) como-ser-junto (do ente encontrado no mundo)» (ST 192). O cuidado, que não tem nada a ver, bem entendido, com o zelo ou a incúria que o ser-aí pode manifestar na existência concreta, é uma determinação ontológico-existenciária. Ele precede toda a conduta afetiva do ser-aí, e não exprime de modo nenhum uma qualquer primazia da atitude prática sobre a atitude teórica. «’Teoria’ e ’Praxis  ’», diz Heidegger, «são possibilidades de ser de um ente cujo ser deve ser determinado como cuidado» (ST 193). E com esta determinação do ser-aí como cuidado, que se prolonga numa reflexão sobre a natureza existenciária da verdade, que termina a primeira seção de O Ser e o Tempo. (1993, p. 36-37)


Ver online : Alain Boutot