Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Blanc: MODO FILOSÓFICO DE PENSAR

terça-feira 30 de maio de 2017

Globalmente apreendidas pelo símbolo da árvore-raiz, as diversas figuras do fundamento constituem o resultado teórico de uma certa forma de pensar. Esta maneira, específica da filosofia, de exercer o pensamento foi já por nós referida, no final do capítulo anterior, sob a designação de racionalidade sintética.

E ainda Deleuze  , quem no nosso entender melhor caracteriza o modo filosófico de pensar pela redução da diferença a quatro níveis principais:

1) a subordinação da diferença à identidade do conceito e do sujeito pensante;

2) a subordinação do diferente ao semelhante na percepção (o diverso sensível fornece a matéria da identidade conceptual);

3) a subordinação da diferença ao negativo, sob a forma da limitação e oposição qualitativas e quantitativas;

4) a subordinação da diferença à analogia  , no juízo, em que o ser aparece como o análogo dos grandes gêneros e dos conceitos derivados específicos, paredes limítrofes de toda a diferença pensável.

Com a imposição formal   da identidade, a alteridade do que nos força a pensar resulta reduzida ao âmbito restrito da diferença meramente cognoscível pelos parâmetros da semelhança, da analogia e da oposição dos predicados.

Completamos agora a sugestão do parágrafo anterior, chamando a atenção para o interesse   que teria a elaboração, com base no levantamento das categorias inerentes à ideia de fundamento, de uma teoria geral do pensamento filosófico. Caber-lhe-ia, nomeadamente, mostrar, subjacente à concepção heideggeriana   do fundamento, a presença de certa «imagem» do pensamento como campo prévio de identidade e operação de identificação.

São, na verdade, ainda as exigências da teoria clássica do conhecimento (garantir a unidade do objeto pela unidade do «eu penso») que presidem à pergunta pela unidade da significação de ser e à sua elucidação a partir da temporalidade horizontal-ekstática, levando o filósofo a privilegiar a presencialidade (Anwesenheit  ), como o espaço de mesmidade (Selbigkeit  ) que consente a articulação diferenciada de ser e pensar, de ser e ente.

Tal é manifesto na estrutura ser-no-mundo (in-der-Welt-sein  ), enquanto correlação de abertura e manifestação. Na verdade, se a existência é o campo de abertura da diferença, ela só o é, porém, enquanto tripla ramificação coordenada de um mesmo ato de fundar. Por seu lado, o mundo, seu correlato objectivo, é esse horizonte a priori   de totalidade, a que tem de necessariamente referir-se a novidade do que nos força a pensar. (excertos de Mafalda Faria Blanc  , O Fundamento em Heidegger)


Ver online : MAFALDA BLANC