Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

Página inicial > Fenomenologia > Billeter (LCT:25-26) – linguagem e realidade

Billeter (LCT:25-26) – linguagem e realidade

sábado 8 de outubro de 2022

O que ouvimos são palavras e sons. Infelizmente, as pessoas imaginam (…) que essas palavras, esses sons fazem com que elas percebam a realidade das coisas – o que é um equívoco. Mas não percebem porque, quando percebemos, não falamos e, quando falamos, não percebemos.

As pessoas imaginam que a linguagem as faz compreender a realidade das coisas, diz Chuang-tzu. Eles cometem esse erro porque, diz ele, “quando se percebe, não se fala e (que), quando se fala, não se percebe”. Ele descreve nesta frase uma relação que podemos observar por conta própria. Quando focamos nossa atenção na percepção de uma realidade sensível, fora ou dentro de nós, a linguagem desaparece do centro de nossa conscientidade. Por outro lado, quando usamos a linguagem, podemos não parar de perceber, mas nossas percepções se tornam periféricas, não podemos nos concentrar nelas. Wittgenstein   faz uma observação semelhante quando observa: "Quando vejo um objeto, não posso me representá-lo". Ele também observa, inversamente: “Quando nos representamos algo, não observamos”. Valéry comenta em seus Cahiers: “O que penso atrapalha o que vejo – e vice-versa. Essa relação é observável.” É por causa dessa relação inerente ao funcionamento de nossa mente, diz Chuang-tzu, que a linguagem cria uma ilusão: quando falamos, não percebemos mais, de modo que, não percebendo a lacuna entre linguagem e realidade, tomamos sem pensar a linguagem para a expressão adequada da realidade. E quando focamos nossa atenção em uma realidade sensível (por exemplo, em um gesto que estamos desenvolvendo), esquecemos a linguagem e a lacuna também passa despercebida. É obviamente papel do filósofo e do escritor superar essa incompatibilidade natural, confrontar a linguagem e a realidade sensível e corrigir a linguagem quando ela nos engana. Mais uma vez, Chuang-tseu nos faz fazer uma observação essencial. [BilleterLCT]


Ver online : CHUANG TZU