Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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ente no ser

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

O anèr philósophos ama o sophón. O que esta palavra diz para Heráclito   é difícil traduzir. Podemos, porém, elucidá-lo a partir da própria explicação de Heráclito. De acordo com isto, tá sophón significa: Hèn Pánta ‘Um (é) Tudo’. Tudo quer dizer aqui: Pánta tà ónta  , a totalidade, o todo do ente. Hèn, o Um, designa: o que é um, o único, o que tudo une. Unido é, entretanto, todo o ENTE NO SER. O sophón significa: todo ente é no ser. Dito mais precisamente: o ser é o ente. Nesta locução, o "é" traz uma carga transitiva e designa algo assim como "recolhe". O ser recolhe o ente pelo fato de que é o ente. O ser é o recolhimento - Lógos. MHeidegger: Que é isto - A Filosofia?

Todo o ente é no ser. Ouvir tal coisa soa de modo trivial em nosso ouvido, quando não de modo ofensivo. Pois, pelo fato de o ente ter seu lugar no ser, ninguém precisa preocupar-se. Todo mundo sabe: ente é aquilo que é. Qual a outra solução para o ente a não ser esta: ser? E entretanto: precisamente isto, que o ente permaneça recolhido no ser, que no fenômeno do ser se manifesta o ente; isto jogava os gregos, e a eles primeiro unicamente, no espanto. Ente no ser: isto se tomou para os gregos o mais espantoso. MHeidegger: Que é isto - A Filosofia?

Entretanto, mesmo os gregos tiveram que salvar e proteger o poder de espanto deste mais espantoso - contra o ataque do entendimento sofista, que dispunha logo de uma explicação, compreensível para qualquer um, para tudo e a difundia. A salvação do mais espantoso - ENTE NO SER - se deu pelo fato de que alguns se fizeram a caminho na sua direção, quer dizer, do sophón. Estes tomaram-se por isto aqueles que tendiam para o sophón e que através de sua própria aspiração despertavam nos outros homens o anseio pelo sophón e o mantinham aceso. O philein tà sophón, aquele acordo com o sophón de que falamos acima, a harmonia, transformou-se em órecsis, num aspirar pelo sophón. O sophón - o ENTE NO SER - é agora propriamente procurado. Pelo fato de o philein não ser mais um acordo originário com o sophón, mas um singular aspirar pelo sophón, o philein tó sophón torna-se "philosophía". Esta aspiração é determinada pelo Éros. MHeidegger: Que é isto - A Filosofia?

Uma tal procura que aspira pelo sophón, pelo hèn pánta, pelo ENTE NO SER, se articula agora numa questão: que é o ente, enquanto é? Somente agora o pensamento toma-se "filosofia". Heráclito e Parmênides ainda não eram "filósofos". Por que não? Porque eram os maiores pensadores. "Maiores" não designa aqui o cálculo de um rendimento, porém aponta para uma outra dimensão do pensamento. Heráclito e Parmênides eram "maiores" no sentido de que ainda se situavam no acordo com o Lógos, quer dizer, com o Hèn Pánta. O passo para a "filosofia", preparado pela sofística, só foi realizado por Sócrates   e Platão. Aristóteles então, quase dois séculos depois de Heráclito, caracterizou este passo com a seguinte afirmação: Kai dê kai tá pálai te kai nyn kai aei zetoúmenon kai aei aporoúmenon, ti tó ón? (Metafísica, VI, 1, 1028 b 2 ss.). Na tradução isso soa: "Assim, pois, é aquilo para o qual (a filosofia) está em marcha já desde os primórdios, e também agora e para sempre e para o qual sempre de novo não encontra acesso (e que é por isso questionado): que é o ente? (ti tó ón)". MHeidegger: Que é isto - A Filosofia?