Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Schürmann (1996:14) – a história

quarta-feira 2 de outubro de 2024

Um discurso filosófico que afirma ser uma narrativa histórica pura não é filosofia. Você acha que está ouvindo a voz de Sils-Maria: “vocês, pessoas sóbrias”, que têm feito um inventário do que foi dito desde o início dos tempos, estão fantasmando sobre um novo Grande Real — a história. A modéstia metafísica do arquivista de ideias. E a ingenuidade duplamente metafísica do homem que declara ter descartado a condição narrável e que hoje proclama o fim das grandes narrativas. Tudo o que ele está fazendo é acrescentar outro capítulo à trama que foi declarada encerrada. Pelo desfecho — feliz ou infeliz — que encontramos para a história contada, nós a organizamos precisamente em exposição, nó e desfecho. O que poderia ser mais narrativo do que a resolução de um drama? O final feliz faz um balanço dos eventos que encerra; proporciona o clímax. Mas não o fim. Quem não sabe que, após o final feliz, os protagonistas tiveram uma vida longa e muitos filhos? Ou que, expulso do trono usurpado, o herói cego completa a tragédia em vez de pôr um fim a ela, apenas a constituindo — antes de continuar, também, pelos campos e desertos para finalmente brilhar na apoteose em Colone? Em contos grandes e pequenos, a história nunca termina.

[SCHÜRMANN, R. Des hégémonies brisées. Mauvezin: Ed. Trans-Europ-Repress, 1996]


Ver online : Reiner Schürmann