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Romano (1999:164-165) – o amor
sábado 21 de setembro de 2024
O relacionamento amoroso é exemplar aqui, mas de forma alguma exclusivo. Mais do que qualquer outro, talvez, é um encontro entre duas histórias, no qual ambos estamos em jogo em nossa própria autoidentidade; um encontro que só é concebível se pensarmos na possibilidade de possibilidades compartilhadas, de compossíveis: uma encruzilhada inextricável em que nossas possibilidades, sem nunca se sobreporem ou se fundirem em uma espécie de unidade fusional, ainda assim se entrelaçam para formar uma única história, a do nosso amor, uma história única e incomparável, em que não é mais possível distinguir inteiramente o que pertence à iniciativa de um ou de outro, e em que, sem nunca "nos tornarmos um", nós mesmos e os outros chegamos a ser um-para-o-outro. Mas eros não é de forma alguma exclusivo de philia: pelo contrário, o conceito de amor deve ser entendido em seu sentido mais amplo possível. Em ambos os casos, de fato, o amor é direcionado diretamente aos outros, e não às suas "qualidades" — tornando assim obsoleta a alternativa de Pascal [1]. — e, por meio de uma espécie de gnose infusa, ele o alcança no coração de sua singularidade "sem qualidades", nesse todo inconceitualizável, inanalisável, nesse todo de carne que ele é para mim, em sua história incomparável e singular.
[ROMANO , Claude. L’événement et le monde. Paris: PUF, 1999]
Ver online : CLAUDE ROMANO
[1] "E se eu não for amado por meu julgamento, por minha memória, serei amado?"; ao que Pascal responde: "Nunca se ama ninguém, mas apenas qualidades" (Pensées, ed. Brunschvicg, nº 323)