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Polt (2013:54-55) – momentos da dação
terça-feira 1º de outubro de 2024
Anteriormente, apresentei o problema da dação em termos dos seguintes momentos. ( a ) Começamos lidando com entes familiares, enquanto tomamos os entes como tais e como um todo como garantidos, ( b ) Em uma emergência [ Not ], uma ruptura nessa familiaridade, percebemos que os entes são dados como tais e como um todo; nós os recebemos como uma totalidade que não é nada, ( c ) Reconhecemos que essa dação dos entes como tais e como um todo já tinha que estar em vigor, mesmo quando não nos dávamos conta disso. ( d ) Podemos, então, explorar os padrões que caracterizam essa dação prévia, ( e ) Podemos também perguntar como essa dação padronizada é, ela própria, dada a nós. ( f ) Podemos então descobrir que essa dação envolve uma primazia do pertencimento sobre os universais.
Embora Heidegger discuta todos esses momentos em vários pontos de seus textos, os três últimos momentos são os que dizem respeito mais diretamente à “questão do ser”. O momento (d) é o problema que tem animado a tradição da metafísica. O momento (e) é o problema que Heidegger está tentando resolver em termos de apropriação ou pertencimento (f). Precisamos reconsiderar esses momentos.
No momento (d), investigamos os padrões de dação dos entes. Por “padrões”, quero dizer canais ao longo dos quais o sentido dos entes como entes tende a fluir. (A maioria dos metafísicos supõe que os padrões são eternos, que os canais são imutáveis — mas eles também podem ser contingentes e mutáveis. Podemos deixar essa questão em aberto). Quando nos deparamos com algo que é, nós o encontramos como exemplo de certas formas de ser, que estão conectadas a outras formas de ser. Normalmente, não nos concentramos nesses padrões, mas sim em como eles são. Normalmente, não nos concentramos nesses padrões, mas simplesmente permitimos que operem em segundo plano. Não surgem diretamente em nossa consciência, mesmo depois de nos tornarmos conscientes — nos momentos ( b ) e ( c ) — de que há algum tipo de dado prévio dos entes como tais. De fato, pode parecer que “ser” é algo totalmente nebuloso, tão geral e simples que não pode envolver nenhum padrão. Entretanto, se o ser não tivesse nenhuma característica, seria indistinguível do não-ser. Esse não é o caso, pois reconhecemos imediatamente que faz diferença se algo é ou não é. Quando examinamos mais de perto nossa compreensão dos entes como tais, descobrimos que envolve alguns padrões e que muito pode ser dito sobre estes. Os padrões aristotélicos do ser, por exemplo, incluem substância e atributo; potencialidade e atualidade; forma e matéria; unidade, qualidade, quantidade, relação, tempo, lugar e outros. A descrição de Aristóteles de tais padrões como “categorias” é definitiva para a filosofia ocidental (GA65 :76). A tarefa da metafísica, como o estudo dos entes qua entes, é descrever esses padrões e as relações entre eles.
[POLT , Richard F. H. The emergency of being: on Heidegger’s contributions to philosophy. Ithaca, NY: Cornell Univ. Press, 2013]
Ver online : Richard Polt