Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Nietzsche (VP:659) – corpo - nossa posse mais própria

sábado 24 de junho de 2023

Fernandes & Moraes

Seguindo o fio condutor do corpo. — Posto que “a alma” foi um pensamento atraente e misterioso, do qual os filósofos, com razão, só se separaram a contragosto — talvez aquilo pelo que eles, a partir de então, a trocaram seja ainda mais atraente, ainda mais misterioso. O corpo humano, no qual tanto o passado mais longínquo quanto o mais próximo de todo o devir orgânico torna-se de novo vivo e corporal, por meio do qual, sobre o qual e para além do qual parece fluir uma torrente imensa e inaudível: o corpo é um pensamento mais espantoso do que a antiga “alma”.

Em todos os tempos, sempre se pôs mais fé no corpo — como em nossa posse mais própria, como em nosso ser [Sein] mais certo, em resumo, como ego — do que no espírito (ou na “alma”, ou no sujeito, como diz agora a linguagem da escola, em vez de alma). A ninguém ocorreu a ideia de entender [333] o seu estômago como um estranho, como, por exemplo, um estômago divino: mas conceber seus pensamentos como “inspirados”, suas apreciações de valor como “insufladas por um deus”, seus instintos como atividade penumbrosa: para esse pendor e gosto do homem há testemunhos em todas as épocas da humanidade. Mesmo agora havemos de encontrar fartamente, nomeadamente entre os artistas, uma espécie de admiração e uma exposição respeitosa do momento decisivo, quando se lhes apresenta a questão do que lhes proporcionou o maior sucesso e de qual mundo lhes veio o pensamento criativo: quando se questionam desse modo, eles têm algo como inocência e vergonha infantil e mal se atrevem a dizer “isso veio de mim, foi a minha mão que lançou o dado”. — Ao contrário, mesmo aqueles filósofos e religiosos que tiveram o motivo mais forçoso em sua lógica e piedade para tomar o seu ser corpóreo como ilusão, e deveras como ilusão vencida e eliminada, não puderam evitar reconhecer o tolo fato de que o corpo não havia desaparecido: de tal fato há de encontrarem-se os testemunhos mais estranhos, em parte em Paulo, em parte na filosofia dos Vedantas. Mas o que significa, afinal, força da crença? Só por isso ela poderia ser, sempre ainda, uma crença muito tola! — Aqui há de refletir-se: —

Por fim, se a crença no corpo é somente a consequência de uma conclusão: posto que fosse uma falsa conclusão, como afirmam os idealistas: tal não seria um ponto de interrogação em relação à fidedignidade do próprio espírito: o fato de que ele, dessa maneira, seja a causa de falsas conclusões? Posto que multiplicidade, espaço, tempo, movimento (e tudo o que possam ser as pressuposições de uma crença no corporal) fossem erros — que desconfiança não será suscitada contra o espírito, que nos induziu a tais pressuposições! Basta, a crença no corpo sempre é, entrementes, uma crença mais forte do que a crença no espírito: e quem a quer minar, mina, justamente com isso, o mais profundamente — também a crença na autoridade do espírito!

Kaufmann

The evidence of the body.— Granted that the “soul” is an attractive and mysterious idea which philosophers have rightly abandoned only with reluctance—perhaps that which they have since learned to put in its place is even more attractive, even more mysterious. The human body, in which the most distant and most recent past of all organic development again becomes living and corporeal, through which and over and beyond which a tremendous inaudible stream seems to flow: the body is a more astonishing idea than the old “soul.” In all ages, there has been more faith in the body, as our most personal possession, our most certain being, in short our ego, than in the spirit (or the “soul,” or the subject, as school language now has it instead of soul). It has never occurred to anyone to regard his stomach as a strange or, say, a divine stomach: but to conceive his ideas as “inspired,” his evaluations as “implanted by a God,” his instincts as activity in a half-light—for this tendency and taste in men there are witnesses from all ages of mankind. Even now there is ample evidence among artists of a sort of wonderment and respectful suspension of judgment when they are faced with the question of the means by which they achieved their best work and from which world the creative idea came to them; when they ask this, they exhibit some-think like innocence and childlike shamefacedness; they hardly dare to say “it came from me, it was my hand that threw the dice.”

Conversely, even those philosophers and religious teachers who had the most compelling ground in their logic and piety to consider their bodies a deception (and, indeed, as a deception overcome and done with) could not help acknowledging the foolish fact that the body has not gone away; of which the strangest witnesses are to be found partly in Paul, partly in the Vedanta philosophy. But what, after all, does strength of belief mean? It could still be a very foolish belief!— This should be reflected on:—

And after all, if belief in the body is only the result of an inference: supposing it were a false inference, as the idealists assert, is it not a question mark against the spirit itself that it should be the cause of such false inferences? Supposing multiplicity, space and time, and motion (and whatever else may be the presuppositions of a belief in what is bodily) were errors—what mistrust would this arouse against the spirit that had prompted such presuppositions? Let is suffice that, for the present, belief in the body is always a stronger belief than belief in the spirit; and whoever desires to undermine it, also undermines at the same time most thoroughly belief in the authority of the spirit!

Original

Am Leitfaden des Leibes. — Gesetzt, dass die „Seele“ ein anziehender und geheimnissvoller Gedanke war von dem sich die Philosophen mit Recht nur widerstrebend getrennt haben — vielleicht ist Das, was sie nunmehr dagegen einzutauschen lernen, noch anziehender, noch geheimnissvoller. Der menschliche Leib, an dem die ganze fernste und nächste Vergangenheit alles organischen Werdens wieder lebendig und leibhaft wird, durch den hindurch, über den hinweg und hinaus ein ungeheurer, unhörbarer Strom zu fliessen scheint: der Leib ist ein erstaunlicherer Gedanke als die alte „Seele“. Es ist zu allen Zeiten besser an den Leib als an unseren eigentlichsten Besitz, unser gewissestes Sein, kurz unser ego geglaubt worden als an den Geist (oder die „Sode“ oder das Subjekt, wie die Schulsprache jetzt statt Seele sagt). Niemand kam je auf den Einfall, seinen Magen als einen fremden, etwa einen göttlichen Magen zu verstehen: aber seine Gedanken als „ein-gegeben“, seine Werthscliätzungen als „von einem Gott eingeblasen“, seine Instinkte als Thätigkeit im Dämmern zu fassen -— für diesen Hang und Geschmack des Menschen giebt es aus allen Altern der Menschheit Zeugnisse. Noch jetzt ist, namentlich unter Künstlern, eine Art Verwunderung und ehrerbietiges Aushängen der Entscheidung reichlich vorzufinden, wenn sich ihnen die Frage vorlegt, wodurch ihnen der beste Wurf gelungen und aus welcher Welt ihnen der schöpferische Gedanke gekommen ist: sie haben, wenn sie dergestalt fragen, etwas wie Unschuld und kindliche Scham dabei, sie wagen es kaum zu sagen „das kam von mir, das war meine Hand, die die Würfel warf“. — Umgekehrt haben selbst jene Philosophen und Religiösen, welche den zwingendsten Grund in ihrer Logik und Frömmigkeit hatten, ihr Leibliches als Täuschung (und zwa als überwundene und abgethane Täuschung) zu nehmen, nicht umhin gekonnt, die dumme Thatsächlichkeit anzuerkennen, dass der Leib nicht davon gegarigen ist: worüber die seltsamsten Zeugnisse theils bei Paulus, theils in der Vedänta-Philosophie zu finden sind. Aber was bedeutet zuletzt Stärke des Glaubens? Deshalb könnte es immer noch ein sehr dummer Glaube sein! — Hier ist nachzudenken: —

Und zuletzt, wenn der Glaube an den Leib nur die Folge eines Schlusses ist: gesetzt, es wäre ein falscher Schluss, wie die Idealisten behaupten, ist es nicht ein Fragezeichen an der Glaubwürdigkeit des Geistes selber, dass er dergestalt die Ursache falscher Schlüsse ist? Gesetzt, die Vielheit, und Raum und Zeit und Bewegung (und was alles die Voraussetzungen eines Glaubens an Leiblichkeit sein mögen) wären Irrthümer — welches Misstrauen würde dies gegen den Geist erregen, der uns zu solchen Voraussetzungen veranlasst hat? Genug, der Glaube an den Leib ist einstweilen immer noch ein stärkerer Glaube, als der Glaube an den Geist; und wer ihn untergraben will, untergräbt eben damit am gründlichsten auch den Glauben an die Autorität des Geistes!


Ver online : Friedrich Nietzsche