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MacDowell: MAN - TODO-MUNDO
terça-feira 11 de abril de 2017
As escassas observações de Heidegger sobre o fenômeno da tradição no início de Sein und Zeit devem ser vistas no quadro de sua análise mais detalhada do palavreado. Trata-se de uma das manifestações características do modo de ser do homem na existência quotidiana como Todo-mundo. Este fenômeno funda-se, por sua vez, num dos momentos constitutivos da estrutura ontológica do eis-aí-ser, i. e., o decair (Verfallen), que poderíamos traduzir também por alienação. O homem, de início e de ordinário, decai do seu ser próprio e autêntico, alienando-se no mundo. Ele não se entende a partir de suas possibilidades próprias de ser, antes projeta-se a partir do ente intra-mundano e das possibilidades, que este lhe oferece. Esta inclinação ao decaimento, a não ser ele mesmo, representa um dos traços fundamentais do ser do homem, ao lado da compreensão do ser, da finitude fáctica e da expressividade.
Quem é, porém, o eis-aí-ser na existência quotidiana, se não e, propriamente, ele mesmo? O "quem" do eis-aí-ser - responde Heidegger - é, antes de tudo, e em geral, todo-mundo (man). O eis-aí-ser decaído entende o seu mundo e, portanto, a si mesmo, como todo-mundo. É todo-mundo quem lhe dita as suas possibilidades, o que ele deve fazer e omitir, como ele deve olhar e julgar as coisas. O público (die Oeffentlichkeit) fornece assim uma interpretação do mundo. Nela nós "vivemos" de início e de ordinário. Esta interpretação está contida no palavreado, que constitui a linguagem de todo-mundo, o modo de ser inautêntico da expressividade constitutiva do ser do eis-aí-ser.
Ver online : A GÊNESE DA ONTOLOGIA FUNDAMENTAL DE M. HEIDEGGER