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Gadamer (VM): narrativa

quarta-feira 24 de janeiro de 2024, por Cardoso de Castro

Um outro exemplo dessa interpretação como descortinamento dos pré-textos é o papel que exercem os sonhos na psicologia profunda. As experiências da vida onírica são na realidade inconsistentes. A lógica da vida empírica fica abolida em boa parte. Isso não impede que a surpreendente lógica da vida onírica possa produzir imediatamente um estímulo de sentido muito parecido com o caráter ilógico do conto. Na realidade a literatura narrativa se apoderou do gênero dos sonhos e do conto, por exemplo, no romantismo alemão. Mas o que se desfruta no jogo da fantasia onírica é uma qualidade estética, que pode naturalmente ser objeto de uma interpretação literário-estética. Mas o mesmo fenômeno dos sonhos se converte em objeto de uma interpretação bem distinta quando por trás dos fragmentos do sonho evocado busca-se revelar o verdadeiro sentido que se máscara nas fantasias oníricas, o qual é suscetível de decodificação. A isso se deve a enorme relevância da recordação dos sonhos no tratamento psicanalítico. Mediante a interpretação dos sonhos, a análise pode promover um diálogo associativo, eliminando assim os bloqueios e libertando o paciente de sua neurose. Esse processo de análise recorre, como se sabe, a etapas completas de reconstrução do texto onírico originário e de sua interpretação. VERDADE E MÉTODO II OUTROS 24.