Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Gadamer (1993:Prefácio) – Saúde não é algo que se possa fazer

sábado 24 de junho de 2023

Antônio Luz Costa

Foram sempre conjunturas especiais que me levaram a manifestar-me sobre os problemas dos cuidados com a saúde e da arte médica. Os resultados dessas manifestações estão reunidos neste pequeno volume. Não deve surpreender que um filósofo, que não é médico e nem se sente como paciente, participe da problemática geral que se coloca sobre aspectos do cuidado com a saúde na era da ciência e da técnica. Em nenhum outro lugar os progressos da pesquisa moderna adentram tanto o campo de tensão sociopolítico de nosso tempo como nessa área. A constatação de que há limites de mensurabilidade nos foi ensinada pela física do nosso século. A meu ver, isso também é objeto de um elevado interesse hermenêutico, o que se torna ainda mais válido quando se trata não apenas da natureza mensurável, mas de seres humanos vivos. Assim, os limites da mensurabilidade e, de forma geral, da exequibilidade, penetram profundamente na área do cuidado com a saúde. Saúde não é algo que se possa fazer. Mas o que é saúde, então? Ela é um objeto de estudo científico na mesma medida em que se torna objeto para uma pessoa atingida por sua perturbação? O objetivo maior permanece sendo tornar-se novamente sadio e, com isso, esquecer que se está sadio.

Contudo, os domínios da ciência sempre penetram na vida das pessoas e, quando se trata da aplicação do conhecimento científico à própria saúde, a pessoa, então, não se torna objeto somente da perspectiva científica. Nesse caso, cada um tem suas experiências e costumes. Isso vale especialmente para as ainda controversas áreas periféricas da própria ciência médica, a psicossomática, a homeopatia, as assim chamadas técnicas naturais de cura, a higiene, a indústria farmacêutica e para todos os aspectos ecológicos da saúde. Isso vale igualmente para o tratamento médico e pensão de aposentadoria da população. O custo, aumentando cada vez mais, impõe, com extrema urgência, que o cuidado com a saúde seja novamente reconhecido e percebido como uma tarefa geral da própria população.

Marianne Dautrey

J’ai été amené en diverses circonstances et pour de multiples raisons à m’exprimer sur le problème de la santé et de l’art du médecin. Mes contributions en la matière ont été rassemblées dans le présent volume. On ne sera pas étonné, en ce siècle hautement scientifique et technique, de voir qu’un philosophe, sans être médecin ni patient, s’intéresse cependant aux problèmes relatifs à la santé. En médecine plus que dans n’importe quel autre domaine, les progrès de la recherche actuelle subissent les répercussions des tensions politiques et sociales qui traversent notre époque. La physique de notre siècle nous a appris qu’il y a une limite à notre possibilité de mesurer. Ce constat me semble soulever un problème herméneutique fondamental qui se pose d’une manière plus aiguë encore lorsque l’on a affaire à l’homme vivant et non à la seule nature mesurable. Car alors, le problème des limites à la possibilité de toute mesure et, plus généralement, de toute action se situe au cœur même de la science et de la pratique médicale. La santé n’est pas une chose que l’on fabrique. Mais qu’est-ce que la santé ? Pour la science, elle représente un objet de recherche ; pour nous, elle devient un objet problématique dès que nous sommes sujets à un trouble physique, s’agit-il, dans ces deux cas, du même objet ? Mais quoi qu’il en soit, l’objectif suprême a toujours été d’être en bonne santé et d’oublier ainsi que l’on est en bonne santé.

Toutefois, le domaine des sciences recoupe constamment celui de la vie. Et, lorsqu’il s’agit d’appliquer un savoir scientifique, on constate, dès lors que notre propre santé est en jeu, qu’il n’y a pas que les considérations purement scientifiques qui interviennent efficacement dans un traitement mais que d’autres facteurs agissent sur nous. Chacun, en effet, a sa propre expérience et ses habitudes. C’est cela même que tentent de prendre en compte les différentes disciplines qui s’inscrivent en marge de cette même science médicale, comme la psychosomatique, l’homéopathie, les médecines dites « naturelles », l’hygiène, l’industrie pharmaceutique et tous les domaines qui touchent à l’écologie. C’est plus vrai encore des pratiques qui relèvent de l’assistance aux malades et aux personnes âgées. Qui plus est, les dépenses en matière de santé constituent un problème de plus en plus préoccupant et il devient véritablement urgent que l’on prenne conscience et reconnaisse que la santé relève d’un devoir général qui incombe à la population elle-même.


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