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Gadamer (1993:C1) – o domínio da ciência moderna
sábado 24 de junho de 2023
Antônio Luz Costa
A experiência científica ocupa aqui uma posição especial. Aquilo que, através do método científico, pode ser considerado como uma experiência segura, é caracterizado pelo fato de ser basicamente independente de qualquer situação da ação e de qualquer integração em um contexto da ação. Ao mesmo tempo, essa “objetividade" significa que ela pode servir a qualquer contexto possível da ação. Foi exatamente isso que, de uma maneira específica, encontrou expressão na ciência contemporânea e remodelou, amplamente, o perfil da terra em um mundo humano artificial. A experiência elaborada nas ciências tem agora não apenas a preferência de ser passível de comprovação e acessível a qualquer um: com base no seu procedimento metodológico, ela também reivindica ser a única experiência segura e ser o saber, através do qual qualquer experiência seja, primeiramente, legitimada. Aquilo que, da maneira descrita, sobre o saber da humanidade é reunido da experiência pratica e da tradição fora da “ciência”, não apenas deve ser submetida a comprovação pela ciência, mas, se for aprovado, ele mesmo pertencerá ao campo de análise da ciência. Em princípio, não há nada que, desse modo, não esteja subordinado à competência da ciência.
O fato de a ciência resultar não apenas da experiência, mas também, conforme seu próprio método, poder ser denominada de ciência empírica — uma expressão aplicada à ciência somente a partir do século XVII encontrou sua expressão fundamental também na filosofia moderna. No século XIX, tornou-se consenso geral de que se havia entrado na era da ciência “positiva” e deixado a metafísica para trás. Isso corresponde não somente ao “positivismo” filosófico em toda a sua variedade, o qual afasta de si a construção conceitual e a simples especulação — vale também para todas aquelas teorias filosóficas que, como a kantiana, refletem formalmente sobre os elementos apriorísticos em toda a experiência. É por isso que a filosofia do neokantismo se formou numa teoria sistemática da experiência. O conceito da coisa em si, este elemento realístico na teoria kantiana, foi rejeitado pelo neokantismo — com Fichte e Hegel — por ser dogmático e reinterpretado como um conceito-limíte do conhecimento. O objeto do conhecimento apresenta a “interminável tarefa” do “determinar” (Natorp ). Este seria o único sentido epistemologicamente sustentável de “realidade dada” e “objeto”: a interminável tarefa. Essa teoria tem o mérito decisivo de comprovar à fundamentação sensualista do conhecimento seu dogmatismo secreto. A assim considerada realidade dada na sensação não apresenta nada de “dado”, mas sim coloca ao conhecimento a sua tarefa. O único “fato” que merece este nome é o fato da ciência.
Nesse caso havia, decerto, áreas de validade extrateóricas (como a área da estética), que exigiam seu reconhecimento e, dessa maneira, fizeram com que irrompesse na teoria científica neokantiana a discussão sobre o irracional. Mas isso não alterava em nada a limitação fundamental de todos os saberes empíricos à experiência científica. Nada daquilo que seja considerado experimentável pode ser subtraído da competência da ciência. Se, em algum lugar, encontramos o imprevisível, o acidental, a adversidade em relação à nossa expectativa, mesmo aí se manifesta a pretensão de universalidade da ciência. Aquilo que possui a aparência do irracional é, na verdade, um fenômeno marginal, um fenômeno-limite da ciência que se deixa perceber, especialmente, onde a ciência encontra aplicação na práxis. Aquilo que, na práxis, resulta como consequência inesperada e, normalmente, não desejada da aplicação da ciência é, na verdade, algo bem diferente do que a inevitável irracionalidade do acaso. É, de acordo com a sua natureza, nada mais do que uma outra tarefa para a pesquisa. O progresso da ciência vive de sua constante autocorreção e, da mesma maneira, uma práxis científica, estruturada na aplicação da ciência, exige que ela, através da contínua autocorreção, sempre continue elevando o nível de autenticidade das expectativas que são investidas nela.
Marianne Dautrey
L’expérience scientifique occupe ici une position à part. Ce que la méthodologie des sciences peut faire passer pour une expérience assurée est, par définition, fondamentalement indépendant de tous les types de situations dans lesquelles l’action s’inscrit et du contexte dans lequel elle s’intégre. Dans le même temps, cette « objectivité » signifie qu’elle peut servir tous les contextes d’action possibles. Or, c’est précisément ce qui s’est développé de manière spécifique dans la science moderne et a façonné sur de vastes étendues le visage de la terre, le transfigurant en un environnement humain artificiel. L’expérience, renouvelée dans les sciences, ne présente pas seulement l’avantage d’être vérifiable et accessible à tout un chacun, elle revendique également de son propre chef et fonde sur sa démarche méthodique la prétention d’être à la fois l’unique expérience certaine et le seul savoir qui confèrent à toute expérience sa légitimité. Le savoir humain qui s’accumule en dehors de la « science » sur le mode de l’expérience pratique et de la tradition, comme nous l’avons décrit plus haut, ne doit pas seulement être soumis à une vérification scientifique, il lui faut aussi, dès lors qu’il oppose une résistance à cette dernière, entrer de lui-même dans le domaine de la recherche scientifique. En principe, il n’est rien qui ne soit soumis ainsi à la compétence de la science.
Que la science, qui ne procède pas uniquement de l’expérience, puisse, en vertu de sa propre méthodologie, être appelée science expérimentale — terme qui n’a pu être appliqué à la science qu’à partir du xvne siècle — c’est là un principe qui a trouvé son expression dans la philosophie moderne également. Au XIXe siècle, on était généralement persuadé d’être entré à l’époque de la science « positive » et d’en avoir fini avec la métaphysique. Cela ne fut pas seulement vrai pour le « positivisme » philosophique qui, dans tous ses modes d’action, rejetait la construction conceptuelle ainsi que la pure spéculation, ce le fut également pour ces théories philosophiques qui, à l’instar de la théorie kantienne, réfléchissaient explicitement sur les éléments a priori de toute expérience. Ce fut, par conséquent, en une théorie systématique de l’expérience que se développa la philosophie du néokantisme. Le concept de chose en soi, cet élément « réaliste » de la théorie kantienne, fut rejeté par le néokantisme en tant que concept dogmatique — par Fichte et Hegel — ou, plus exactement, réinterprété comme un concept limite de la connaissance. L’objet de la connaissance 13 définirait cette « tâche infinie » de la détermination (Natorp ). Et cette « tâche infinie » serait, du point de vue de la théorie de la connaissance, le seul sens que l’on puisse admettre pour la donnée et l’objet. Cette théorie a le mérite décisif de dévoiler le dogmatisme caché qu’il y a dans toute fondation sensualiste de la connaissance. La prétendue donnée de la sensation n’a rien de donné, elle définit la tâche qui revient à la connaissance. Le seul « fait » qui mérite le nom de fait est le fait scientifique.
Or, il existait, bien entendu, des domaines de validité en dehors de la théorie qui, comme celui de l’esthétique, par exemple, demandaient à être reconnus; ils firent ainsi surgir dans l’épistémologie néokantienne un discours sur l’irrationnel. Mais cela ne changea rien au fait que tout savoir expérimental restait par principe limité à l’expérience scientifique. Rien de ce qui est censé faire l’objet d’une expérience, ne peut se soustraire à la compétence de la science. L’élément imprévisible, fortuit, celui qui va à l’encontre de notre attente, quel que soit le lieu où on le rencontre, sert encore à la science à démontrer sa prétention à l’universalité. Ce qui revêt un aspect irrationnel est, en réalité, un phénomène marginal, un phénomène limite de la science, du moins apparaît-il tel dès lors que la science peut être appliquée à la pratique. Ce qui, dans la pratique, s’avère être une conséquence inattendue et, la plupart du temps, indésirable de l’application de la science, n’a en réalité rien à voir avec l’irrationalité irréductible du hasard. Ce n’est, par essence, rien d’autre qu’une tâche de plus pour la recherche. Le progrès de la science vit de ce qu’elle se corrige elle-même sans cesse; de même, une pratique édifiée sur l’application de la science exige de cette dernière qu’elle se corrige constamment afin qu’elle garantisse toujours plus certainement la fiabilité des espérances mises en elle.
Ver online : Hans-Georg Gadamer