Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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Gaboriau (1962:274-275) – "ponto de partida" é a evidência?

quinta-feira 17 de outubro de 2024

É comum afirmar que partimos do óbvio. O truque é especificar qual deles, estabelecer um que seja universalmente válido, absolutamente indiscutível! Pois é óbvio que o metafísico não pode oferecer explicitamente como ponto de partida apenas um “princípio” cujo valor deva ser demonstrado, apenas um princípio cuja própria afirmação esteja aberta a disputas e com o qual seria muito fácil concordar desde o início, e então fazer suas deduções a partir dele. Falamos sobre princípios, princípios “primeiros”, como se diz, mas eles são realmente tão universalmente “primeiros” como se diz que são? O princípio do terceiro-excluso, que você pode acreditar ser evidente, um físico tem experiência profissional de sua relatividade. Eu diria o mesmo sobre o próprio princípio da identidade. Essa afirmação que você afirma ser evidente deve ser questionada, se tudo deve ser questionado.

Por outro lado, nem todos os experimentos têm esse caráter autoevidente inicial! Não vamos chamar essas experiências autênticas e variadas de “evidências”, “dados imediatos” que devem servir como material para a investigação filosófica, mas cuja própria variedade não deve torná-las “o” ponto de partida. As palavras de Duméry “para convencer os filósofos de que nunca começamos do nada, mas de tudo” são mais generosas do que relevantes. Podemos certamente entender isso, mas com a condição de especificarmos nesse ‘tudo’ exatamente ‘o quê’: que é que, por — tudo, representa para o filósofo, ’o’ ponto de partida? (Eu digo que é, em todas as coisas, a questão que se relaciona a ele).

Por fim, não há como negar o vago histórico de evidências que todos nós carregamos conosco. Mas é precisamente para o filósofo ir além desse tatear, para encontrar um controle firme. Essa é uma tarefa urgente, se for verdade que, de outra forma, estamos sujeitos ao “peso que pesa sobre todo discurso filosófico, o pano de fundo de evidências vagas do qual, de Aristóteles a Bergson   e além, a filosofia não conseguiu se libertar” [1].

[GABORIAU  , F. L’Entrée en métaphysique: orientations. Bruxelas: Casterman, 1962]


Ver online : Florent Gaboriau


[1J. Beaufret, Heidegger et le problème de la vérité, dans Fontaine, n. 63, nov. 1947, p. 759.