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NIETZSCHE II [GA6T2]

GA6T2:450-451 – a representação

A METAFÍSICA COMO HISTÓRIA DO SER

domingo 21 de maio de 2023, por Cardoso de Castro

A representação (percipere, co-agitare, cogitare, repraesentare in uno) é um traço fundamental de todos os comportamentos do homem, mesmo daqueles comportamentos que não possuem o modo de ser do conhecimento. Todos os comportamentos são, vistos a partir daí, cogitationes.

Casanova

Tudo aquilo que perdura por si mesmo e que, portanto, se encontra presente é hypokeimenon. Subiectum são as estrelas e as plantas, um animal, os homens e os deuses. Quando se requisita no começo da metafísica moderna um fundamentum absolutum et inconcussum que seja suficiente enquanto verdadeiramente ente para a essência da verdade no sentido da certitudo cognitionis humanae, então se pergunta por um subiectum que já se encontre a cada vez presente em toda re-presentação e para toda re-presentação e que seja o contínuo e permanente na esfera da re-presentação indubitável. A representação (percipere, co-agitare, cogitare, repraesentare in uno) é um traço fundamental de todos os comportamentos do homem, mesmo daqueles comportamentos que não possuem o modo de ser do conhecimento. Todos os comportamentos são, vistos a partir daí, cogitationes. Aquilo, porém, que já se encontra presente durante a representação que sempre apresenta algo para si é o próprio representador (ego cogitans). É para diante dele que todo representado é trazido, e é em direção a ele e em retorno a ele (re-praesentare) que todo representado se torna presente. Enquanto dura a representação, mesmo o ego cogito re-presentador é a cada vez aquilo que já se encontra presente na representação e para ela. Com isso, na esfera da construção essencial da representação (perceptio), é próprio ao ego cogito cogitatum a distinção daquilo que constantemente já se encontra presente, do subiectum. Essa continuidade é a constância daquilo sobre o que não há jamais nenhuma dúvida em representação alguma, mesmo que essa representação seja do tipo da dúvida.

O ego, a res cogitans, é o subiectum insigne, cujo esse, isto é, a presença, satisfaz à essência da verdade no sentido da certeza. Esse esse delimita uma nova essência da existentia, que Descartes   define como uma veritas aeterna (axioma) no § 49 de seus Principia philosophiae da seguinte forma: is qui cogitat, non potest non existere, dum cogitat. “Aquele que se comporta representativamente em relação a algo não pode deixar de produzir continuamente um efeito enquanto representa.”

A realidade efetiva enquanto continuidade é delimitada pela constância (a duração da re-presentação). No entanto, ela também é ao mesmo tempo a conquista árdua de um ens actu por parte do representador. A atuação da nova essência da realidade efetiva desse ente efetivamente real insigne possui o caráter fundamental da re-presentação. De maneira correspondente, a realidade efetiva daquilo que é representado e justaposto em toda representação é caracterizada pela representidade.

Com isso, começa o desdobramento de um traço na essência da realidade efetiva que é mais tarde concebido pela primeira vez por Kant   em toda a sua clareza como o caráter contraposto das coisas contrapostas (a objetividade do objeto) [1]. A representação produz a apresentação do encontrar-se contraposto do objeto. [2] Realidade efetiva enquanto representidade nunca tem em vista – enquanto é pensada metafisicamente e não, de maneira disconforme com o ser, psicologicamente – que o efetivamente real seria um produto anímico-espiritual, um produto que só está presente como constructo psíquico. Em contrapartida, logo que o traço fundamental da representação e da representidade se torna predominante na essência da realidade efetiva, a continuidade e a constância daquilo que é efetivamente real são limitadas à esfera da presentificação na presença da re-praesentatio. O caráter de presentidade vigente na essência metafísica do ser, um caráter que não foi totalmente alijado, mas apenas modificado na conversão da energeia em actualitas (vide a omnipraesentia do actus purus), vem à tona agora como a presença no interior da re-presentação (da repraesentatio). [GA6PT  :769-770]

Stambaugh

Everything that endures of itself and thus lies present is hypokeimenon. Subiectum is a star and a plant, an animal, a human being and a god. When a fundamentum absolutum et inconcussum is required in the beginning of modern metaphysics which as a true being suffices for the essence of truth in the sense of certitudo cognitionis humanae, a subiectum is being asked for which already lies present in all representing and for all representing, and is what is constant and standing in the sphere of indubitable representational thinking. Representational thinking (percipere, co-agitare, cogitare, repraesentare in uno) is a fundamental characteristic of all human behavior, even of nonepistemological behavior. From this perspective, all behavioral actions are cogitationes. However, what constantly already lies present for representational thinking during representation which presents something to itself is the representer itself (ego cogitans), before which everything represented is brought, to which and back to which (re-praesentare) it becomes present. As long as representing continues, the representing ego cogito is also expressly what already lies present in representing and for it. Thus the distinctive character of continually already lying present, of the subiectum, belongs to the ego cogito cogitatum in the sphere of the essential structure of representational thinking (perceptio). This constancy is the permanence of that which can never be doubted in any representing, even if this representing is itself a kind of doubting.

The ego, the res cogitans, is the distinctive subiectum whose ewe, that is, presencing, suffices for the essence of truth in the sense of certainty. This ewe circumscribes a new essence of the existentia which Descartes   defines as a veritas aeterna (axiom) in section 49 of his Principia philosophiae as follows: is qui cogitat, non potest non existere, dum cogitat. “Whoever behaves toward something while representing cannot not continually effect while representing. [3]

Reality is characterized as constancy by permanence (the persistence of representational thinking). But at the same time it makes the representing being into an ens actu. The effecting of the new essence of reality of this distinctive real being has the fundamental characteristic of representational thinking. Accordingly, the reality of what is represented and added in all representing is characterized by being represented.

Thus begins the development of a characteristic of the essence of reality which is later on first conceived by Kant   in all clarity as the objectivity of the object. Representational thinking brings about [29] the presentation of the opposition of the object. As long as we think metaphysically and not, in a manner inappropriate to Being, psychologically, reality as being represented never signifies that what is real is a mental-spiritual product and effect of representational activity, and thus something which only exists as a mental structure. On the contrary, as soon as the fundamental characteristic of representing and being represented comes to power in the essence of reality, the constancy and persistence of what is real is narrowed down to the sphere of presencing in the presence of the re-praesentatio. The character of presence prevailing in the metaphysical essence of Being which was not fully obliterated, only changed, even in the transformation of energeia to actualitas (cf. the omnipraesentia of the actus purus), now appears as presence within representational thinking (repraesentatio). [The end of philosophy]

Klossowski

Tout ce qui demeure de soi-même et ainsi se trouve là préalablement, est ὑποκείμενον. Un astre est subjectum, autant qu’un végétal, un animal, un homme, un dieu. Si au début de la métaphysique moderne l’on exige un fundamentum absolutum et inconcussum, lequel en tant que véritablement étant satisfasse à l’essence de la vérité au sens de la certitudo cognitionis humanae, c’est d’un subjectum qu’il est alors question, lequel dans toute chose représentée et dans toute représentation se trouve là, chaque fois préalablement, et constitue dans la sphère du représenter indubitable ce qui est constant et consistant. Le représenter (percipere, co-agitare, cogitare, repraesentare in uno) est un trait fondamental de tout comportement humain, même non cognitif. De ce point de vue, tous les comportements sont des cogitationes. Mais durant le re-présenter, lequel à chaque fois pose quelque chose devers soi, cela même qui se trouve constamment « pré-jacent » au représenter c’est le re-présentant même (ego cogitans), devant qui toute chose représentée est produite, devers lequel et auquel revenant (re-praesentare), la chose représentée devient présente. Tant que dure le représenter, l’ego cogito (se) représentant (quelque chose) est à chaque fois proprement dans le représenter et « pré-jacent » à ce dernier. C’est ainsi que dans la sphère de la structure d’essence de la représentation (perceptio) l’ego cogito cogitatum se caractérise en tant que ce qui est constamment « pré-jacent », le subjectum. Cette constance est la consistance de ce sur quoi il ne saurait y avoir dans aucun représenter, en fût-ce un dans le genre du doute, jamais aucun doute.

L’ego, la res cogitans, est le subjectum par excellence dont l’esse, c’est-à-dire le prae-esse satisfait à l’essence de la vérité au sens de la certitude. Cet esse circonscrit une essence nouvelle de l’existentia, que Descartes  , au 49e paragraphe de ses principia philosophiae détermine ainsi en tant qu’une veritas aeterna (axiome) : Is qui cogitat, non potest non existere, dum cogitat. « Celui qui se comporte eu égard à quelque chose en se le re-présentant ne peut pas ne pas constamment exercer un effet [effectuer], pendant qu’il [se le] représente ». [4]

[347] La réalité (efficace) [Wirklichkeit] en tant que constance, est circonscrite par la consistance (le durer (Währen) du représenter, mais dans le même temps elle est aussi reffectuation du « représentant » (soit sa réalisation) à l’état d’ens actu. L’agir efficace de l’essence nouvelle de la réalité de ce réel par excellence a le trait fondamental du re-présenter. Conformément à quoi, la réalité de ce qui est représenté et posé devers soi dans toute représentation, se caractérise par la représentéité.

Ainsi, dans l’essence de la réalité, un trait commence à se développer, lequel ne sera conçu que par Kant   dans toute sa clarté, en tant que obstantialité de l’obstant, (l’objectivité de l’objet). Le re-présenter effectue la dis-position-devers-soi de l’op-position de l’objet, le Entgegenstehen des Gegenstandes, [soit littéralement : le « contre-sister » du « contre-sistant »]. La réalité en tant que représentéité – pourvu que l’on pense de façon métaphysique et non pas psychologique, donc incongrue à l’égard de l’Être – n’entend jamais que le réel serait un produit psycho-intellectuel, obtenu par l’activité de la représentation et de ce fait quelque chose de tel qui n’existe qu’en tant que formation psychique. En revanche, sitôt que dans l’essence de la réalité vient à prédominer le trait fondamental du représenter et de la représentéité, la constance et la consistance du réel se trouvent circonscrites par la sphère du présencifier, dans la présence de la repraesentatio. Le caractère de la présence qui règne dans l’essence métaphysique de l’Être, non pas entièrement éteint, mais seulement changé par la refonte de l’ἐνέργεια en actualitas (cf. l’omnipraesentia de l’actus purus) se manifeste désormais en tant que présence à l’intérieur du re-présenter (repraesentatio). [GA6TFR:346-347]

Original

Jedes von sich her Verweilende und also Vorliegende ist ύποκείμενον. Subiectum ist ein Stern und ein Gewächs, ein Tier, ein Mensch und ein Gott. Wenn im Beginn der neuzeitlichen Metaphysik ein fundamentum absolutum et inconcussum gefordert wird, das als wahrhaft Seiendes dem Wesen der Wahrheit im Sinne der certitudo cognitionis [451] humanae genügt, dann ist nach einem subiectum gefragt, das in allem Vor-stellen und für alles Vor-stellen jeweils schon vorliegt und im Umkreis des zweifellosen Vor-stellens das Ständige und Stehende ist. Das Vorstellen (percipere, co-agitare, cogitare, repraesentare in uno) ist ein Grundzug allen, auch des nicht erkenntnisartigen Verhaltens des Menschen. Alle Verhaltungen sind, von hier aus gesehen cogitationes. Dasjenige aber, was während des Vorstellens, das je etwas sich zustellt, ständig dem Vor-stellen schon vorliegt, ist das Vorstellende (ego cogitans) selbst, dem alles Vorgestellte vorgebracht, auf das zu und zurück (re-praesentare) es anwesend wird. Solange das Vorstellen währt, ist auch das vorstellende ego cogito je das eigens schon im Vor-stellen und für dieses Vorliegende. Dem ego cogito cogitatum eignet somit im Umkreis des Wesensbaues der Vorstellung (perceptio) die Auszeichnung des ständig schon Vorliegenden, des subiectum. Diese Ständigkeit ist die Beständigkeit dessen, worüber in keinem Vorstellen, und sei dieses selbst von der Art des Zweifels, je ein Zweifel sein kann.

Das ego, die res cogitans, ist das ausgezeichnete subiectum, dessen esse, d. h. Anwesen, dem Wesen der Wahrheit im Sinne der Gewißheit genügt. Dieses esse umgrenzt ein neues Wesen der existentia, das Descartes   als eine veritas aeterna (Axiom) in § 49 seiner »Principia philosophiae« also bestimmt: is qui cogitat, non potest non existere, dum cogitat. »Derjenige, der vorstellend sich zu etwas verhält, kann nicht nicht ständig wirken, während er vorstellt.«

Die Wirklichkeit ist als Ständigkeit durch die Beständigkeit (das Wahren des Vor-Stellens) umgrenzt, aber sie ist auch zugleich das Erwirken des Vorstehenden zu einem ens actu. Das Wirken des neuen Wesens der Wirklichkeit dieses ausgezeichneten Wirklichen hat den Grundzug des Vor-Stellens. Entsprechend ist die Wirklichkeit dessen, was in allem Vor-stellen vor- und beigestellt wird, durch die Vorgestelltheit gekennzeichnet.

Damit beginnt die Entfaltung eines Zuges im Wesen der Wirklichkeit, der später erst von Kant   in aller Klarheit als die Gegenständlichkeit des Gegenstandes (Objektivität des Objekts) begriffen wird. Das Vorstellen erwirkt die Zustellung des Entgegenstehens des Gegenstandes. Wirklichkeit als Vorgestelltheit meint — solange metaphysisch und nicht, dem Sein gegenüber ungemäß, psychologisch gedacht wird —, niemals, das Wirkliche sei ein seelisch-geistiges Produkt und Gewirke der Vorstellungstätigkeit und daher solches, was nur als psychisches Gebilde vorhanden ist. Dagegen wird, sobald im Wesen der Wirklichkeit der Grundzug des Vorstellens und der Vorgestelltheit zur Vormacht kommt, die Ständigkeit und Beständigkeit des Wirklichen auf den Umkreis des Anwesens in der Praesenz der re-praesentatio eingegrenzt. Der im metaphysischen Wesen des Seins waltende Charakter der Anwesenheit, der auch in der Umprägung der ἐνέργεια zur actualitas nicht völlig ausgetilgt, sondern nur gewandelt wurde (vgl. die omnipraesentia des actus purus), kommt jetzt als die Praesenz innerhalb des Vor-stellens (der repraesentatio) zum Vorschein.


Ver online : NIETZSCHE II [GA6T2]


[1Na passagem acima, Heidegger utiliza a princípio o termo de origem germânica para objeto (Gegenstand), e, em seguida, o termo de origem latina (Objekt). A fim de não reproduzir duas vezes a mesma expressão “objetividade do objeto”, optamos por traduzir o termo de origem germânica em seu conteúdo etimológico. (N.T.)

[2Heidegger joga nessa passagem com a etimologia da palavra objeto em alemão. Gegenstand (objeto) significa literalmente o “estado” (Stand) “contraposto” (Gegen). (N.T.)

[3“He who thinks must exist while he thinks.”

[4Sic Heidegger. Il ressort clairement du contexte pourquoi Heidegger traduit existere par exercer un effet. (N.d.T.)