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GA6T1:341-342 – o morto e o vivente
segunda-feira 2 de novembro de 2020
Casanova
“Tomemos cuidado para que não venhamos a dizer que a morte é oposta à vida. O vivente é apenas uma espécie do que é morto, e uma espécie muito rara.” [A Gaia Ciência, n. 109]
Nesse aforismo, acha-se uma indicação de que o vivente é parco em termos de quantidade e raro em termos de ocorrência em comparação com a totalidade. No entanto, esse parco e esse raro permanecem sempre o fogo ardente que produz uma enorme quantidade de cinzas. De acordo com isso seria preciso dizer que o morto é uma espécie de vivente e de maneira alguma o inverso. Não obstante, essa última afirmação também é válida porque o morto provém do vivente e o condiciona novamente em sua superioridade numérica. O vivente é, então, apenas uma espécie oriunda da transformação e da força criadora da vida, e a morte, um estado intermediário. Com certeza, tal interpretação do pensamento nietzschiano em torno dessa época não é completamente adequada. Além disso, subsiste uma contradição entre duas ideias que podem ser formuladas da seguinte maneira: o morto é a cinza de inumeráveis seres viventes e a vida é apenas uma espécie do que é morto. Por um lado, o vivente determina a proveniência do que é morto, e, por outro, o que é morto é a espécie do vivente. Por um lado, o que está morto possui o primado, e, por outro, esse primado é transferido para o vivente.
Talvez estejam em jogo aqui dois pontos de vista diversos em relação ao morto. Se as coisas forem assim, então já desaparece a possibilidade de uma contradição. Se o morto é tomado em vista de sua cognoscibilidade e se o conhecimento é considerado como apreensão firme do que permanece constante, unívoco e inequívoco, então o morto como objeto do conhecimento tem o primado, e o vivente como dúbio e plurissignificativo é apenas uma espécie e um gênero bastardo do que é morto. Em contrapartida, se o próprio morto é pensado em vista de sua proveniência, então ele é apenas a cinza do vivente. O fato de o vivente, em termos de frequência e distribuição, permanecer aquém do morto não contradiz o fato de ele ser a sua origem, se é que pertence à essência do mais elevado permanecer o raro e mais raro. A partir de tudo isso é possível perceber uma coisa decisiva: com uma delimitação do inanimado ante o vivente segundo um único ponto de vista ainda não se alcança o cerne desse estado de coisas, e o mundo é assim mais enigmático do que nosso entendimento calculador gostaria de reconhecer (cf. quanto ao primado do que é morto: XII, n. 495 e segs., esp. n. 497). [GA6MAC:238-239]
Vermal
«Guardémonos de decir que la muerte se opone a la vida. Lo viviente sólo es una especie de lo muerto, y una especie muy rara.» [La gaya ciencia, n. 109]
Aquí se señala que, en comparación con el conjunto, lo viviente es exiguo en cuanto a su cantidad y raro en cuanto a su aparición. A pesar de ser exiguo y raro, constituye siempre el fuego que da lugar a las múltiples cenizas. De acuerdo con ello, habría que decir que lo muerto es un género de lo viviente, y de ninguna manera al revés. No obstante, también esto último es cierto, porque lo muerto proviene de lo viviente y a su vez lo condiciona, dada su superioridad numérica. Lo viviente sería entonces una especie de la transformación y de la fuerza creadora de la vida, mientras que lo muerto sería un estado intermedio. Pero una interpretación de este tipo no acierta completamente con el pensamiento de Nietzsche en esta época. Por otra parte, sigue habiendo una contradicción entre los dos pensamientos que, expresados abreviadamente, dicen así: «lo muerto es la ceniza de innumerables seres vivientes» y «la vida es sólo una especie de lo muerto». En un caso lo viviente determina el origen de lo muerto, en el otro lo muerto la especie de lo viviente. En un caso lo muerto tiene preeminencia, en el otro queda subordinado a lo viviente.
Quizás estén en juego aquí dos perspectivas diferentes de lo muerto. Si es así, desaparece ya la posibilidad de una contradicción. Si se toma lo muerto respecto de su cognoscibilidad, y se considera el conocimiento como la captación firme de lo consistente, unívoco e inequívoco, entonces lo muerto, en cuanto objeto del conocimiento, tiene prioridad, y lo viviente, al ser ambiguo y equívoco, es sólo una especie y una variedad derivada de lo muerto. Si, por el contrario, se piensa lo muerto en referencia a su origen, resulta ser sólo la ceniza de lo viviente. El hecho de que su frecuencia y su distribución esté por detrás de la de lo muerto no habla en contra de que sea su origen, si, por lo demás, pertenece a la esencia de lo más elevado ser raro y menos frecuente. De todo esto se desprende algo decisivo: que con la separación de lo no viviente respecto de lo viviente según una única perspectiva no se acierta aún con el estado de cosas, que el mundo es más enigmático de lo que quisiera reconocerlo nuestro entendimiento calculante (sobre la preeminencia de lo muerto, cfr. XII, 495 ss., esp. 497). [GA6JLV]
Farrell Krell
“Let us guard against saying that death is the opposite of life; the living creature is simply a kind of dead creature, and a very rare kind.” [The Gay Science, n. 109]
In these passages lies the suggestion that in terms of quantity the living creature is something slight, in terms of its occurrence something rare, when we cast a glance toward the whole. Yet this rare and slight something remains forever the firebrand that yields an enormous quantity of ashes. Accordingly, one would have to say that what is dead constitutes a kind of living existence, and not at all the reverse. At the same time, however, the reverse also holds, inasmuch as what is dead comes from the animate and in its preponderance continues to condition the animate. Thus the animate is only a kind of metamorphosis and creative force of life, and death is an intermediate state. To be sure, such an interpretation does not capture perfectly Nietzsche ’s thought during this period. Furthermore, a contradiction obtains between these two thoughts, which we can formulate as follows: What is dead is the ashes of countless living creatures; and life is merely a kind of death. In the first case, the living determines the provenance of the dead; in the second, the dead determines the manner of life of the living. The dead takes preeminence in the second, whereas in the first it becomes subordinate to the living.
Perhaps two different views of the dead are in play here. If that is the case, then the very possibility of contradiction becomes superfluous. If the dead is taken with a view to its knowability, and if knowing is conceived as a firm grasp on what is permanent, identifiable, and unequivocal, then the dead assumes preeminence as an object of knowledge, whereas the animate, being equivocal and ambiguous, is only a kind – and a subordinate kind – of the dead. If, on the contrary, the dead itself is thought in terms of its provenance, then it is but the ashes of what is alive. The fact that the living remains subordinate to the dead in quantitative terms and in terms of preponderance does not refute the fact that it is the origin of the dead, especially since it is proper to the essence of what is higher that it remain rare, less common. From all this we discern one decisive point: by setting the lifeless in relief against the living, along the guidelines of any single aspect, we do not do justice to the state of affairs – the world is more enigmatic than our calculating intellect would like to admit. (On the preeminence of the dead, cf. XII, number 495 and ff., especially number 497). [GA6T1DFK]
Original
»Hüten wir uns, zu sagen, daß Tod dem Leben entgegengesetzt sei. Das Lebende ist nur eine Art des Toten, und eine sehr seltene Art.« [Fröhlichen Wissenschaft, n. 109]
Darin liegt der Hinweis, daß das Lebende der Menge nach gering und dem Vorkommen nach selten ist im Vergleich zum Ganzen. Doch dieses Geringe und Seltene bleibt immer der Feuerbrand für das Viele der Asche. Demgemäß wäre zu sagen, das Tote sei eine Art des Lebenden und keineswegs umgekehrt. Gleichwohl gilt auch dieses, weil das Tote aus dem Lebendigen kommt und in seiner Überzahl wieder das Lebendige bedingt. Lebendiges ist dann nur eine Art der Verwandlung und schaffenden Kraft des Lebens und das Tote ein Zwischenzustand. Allerdings trifft eine solche Auslegung Nietzsches Denken um diese Zeit nicht vollständig. Außerdem bleibt ein Widerspruch zwischen den zwei Gedanken zurück, die formelhaft so lauten: Das Tote ist die Asche unzähliger lebender Wesen — und: Das Leben ist nur eine Art des Toten. Einmal bestimmt das Lebende die Herkunft des Toten und dann das Tote die Art des Lebenden. Einmal hat das Tote den Vorrang, dann wieder ist es dem Lebenden nachgestellt.
Vielleicht sind hier zwei verschiedene Hinsichten auf das Tote im Spiel. Steht es so, dann fällt schon die Möglichkeit eines Widerspruches dahin. Wird das Tote genommen hinsichtlich seiner Erkennbarkeit, und wird Erkennen gefaßt als Festgreifen des Beständigen, Eindeutigen und Unzweideutigen, dann hat das Tote als Gegenstand der Erkenntnis den Vorrang, und das Lebendige ist als das Zwei- und Mehrdeutige nur eine Art und Abart des Toten. Wird dagegen das Tote selbst hinsichtlich seiner Herkunft gedacht, dann ist es nur die Asche des Lebendigen. Daß dieses der Häufigkeit und Verteilung nach hinter dem Toten zurücksteht, spricht nicht dagegen, daß es dessen Ursprung ist, wenn anders es zum Wesen des Höheren gehört, das Seltene und Seltenere zu bleiben. Aus all dem ersehen wir das eine Entscheidende, daß mit einer Abgrenzung des Leblosen gegen das Lebende nach einer einzigen Hinsicht der Sachverhalt noch nicht getroffen wird, daß die Welt rätselhafter ist, als unser rechnender Verstand das wahrhaben möchte (vgl. über den Vorrang des Toten: XII, n. 495 ff., bes. n. 497). [GA6T1 :341-342]
Ver online : NIETZSCHE I [GA6T1]