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Provocations

Kierkegaard (P) – Sob o feitiço das boas intenções

Under the Spell of Good Intentions

quinta-feira 16 de setembro de 2021

[KIERKEGAARD  , Søren. Provocations. Spiritual Writings of Kierkegaard. Ed. Charles E. Moore. Farmington: Plough Publishing House, 2007 (ebook)]

Há uma parábola nas Escrituras que é raramente considerada apesar de instrutiva e inspiradora: Dois filhos enviados à vinha (Mt 21,28-31). Poderíamos também perguntar de outra maneira: quais destes dois era o filho pródigo? Imagino se não era aquele que disse «Sim», aquele que não somente disse «Sim», as disse, «Irei, senhor», como se para demonstrar sua submissão submissão obediente, sem ressalvas, à vontade de seu pai.

Agora, qual é o ponto desta parábola? Não é visa nos mostrar o perigo de dizer «Sim» apressadamente, mesmo se bem intencionado? Embora o irmão-sim não seja um enganador quando ele diz «Sim», no entanto se torna um enganador quando falha em manter sua promessa. Em seu anseio em prometer se tornou um enganador. Quando dizes «Sim» ou prometes algo, podes facilmente enganar a ti mesmo e outros também, como se já tivesse feito o que prometestes. É fácil pensar que por fazer uma promessa tens pelo menos feito parte do prometestes fazer, como se a promessa ela mesma fosse algo de valor. De modo algum!

De fato, quando não fazes o que prometestes, é um longo caminho de retorno à verdade.

Cuidado! O «Sim» de manter a promessa é indutor de sono. Um «Não» honesto possui muito mais promessa. Pode estimular; o arrependimento pode não estar longe. Aquele que diz «Não», se torna quase com medo de si mesmo. Mas aquele que diz «Sim, eu quero», está todo contente consigo mesmo. O mundo está bastante inclinado — até ansioso — para fazer promessas, pois uma promessa aparece muito boa no momento — ela inspira! No entanto por esta mesma razão o eterno é desconfiado de promessas.

Agora suponha que nenhum dos irmão tenha feito a vontade do pai. Então aquele que disse «Não» estava certamente mais próximo de se dar conta que não fez a vontade do pai. Um «não» não oculta nada, mas um sim pode muito facilmente se tornar uma decepção, uma auto-decepção; que de todas as dificuldades é a mais difícil de conquistar. Ah, é muito verdade que, «A estrada para o inferno é pavimentada de boas intenções».

É a coisa mais perigosa para uma pessoa voltar atrás com a ajuda de boas intenções, especialmente com a ajuda de promessas; pois é quase impossível descobrir que se está realmente voltando atrás. Quando uma pessoa volta sua costas para alguém e afasta-se, é fácil ver em que direção está indo. Isso é isso! Mas quando uma pessoa acha uma maneira de virar sua face em direção dele que está se afastando, e em assim fazendo volta atrás enquanto parece saudar a pessoa, dando garantias de novo e de novo que está vindo, ou incessantemente dizendo «aqui estou» — embora distancie-se mais e mais por caminhar para trás — então não é fácil se dar conta. E assim é com aquele que, rico em boas intenções e rápido em prometer, retira-se para trás mais e mais afastado do bem. Com a ajuda de intenções e promessas, ele mantém a impressão honesta que está movendo-se em direção ao bem, no entanto todo tempo move-se mais e mais distante dele. Com toda renovada intenção e promessa parece que se está dando um novo passo adiante mas em realidade está somente parado, não, está realmente dando outro passo para trás.

A boa intenção, o «Sim», tomado em vão, a promessa não preenchida deixa um resíduo de desespero, de abatimento. Cuidado! Boa intenção pode muito cedo acender-se de novo em declarações mais apaixonadas de intenção, mas somente para deixar para trás ainda maio desespero. Como um alcoólatra constantemente requer bebida mais e mais forte, assim aquele que tenha caído sob o feitiço de boas intenções e declarações que soam suaves constantemente requerem mais e mais boas intenções. E assim ele evita a si mesmo de ver que está andando para trás.

Não louvamos o filho que diz «Não», mas precisamos aprender do evangelho quão perigoso é dizer, «Senhor, eu vou». Uma promessa com respeito à ação é algo como um faz de conta (uma criança secretamente se fazendo de outra) — é preciso estar muito alerta. No exato momento que uma criança nasceu a alegria da mãe é a maior de todas, até porque sua dor passou. Quando por causa de sua alegria ela é menos vigilante, — assim diz a superstição — poderes malignos vêm e põem um faz-de-conta no lugar da criança. No momento inicial crucial quando se estabelece e inicia, um tempo perigoso de fato, forças inimigas vêm e insinuam uma promessa faz-de-conta, assim impedindo-se de fazer um genuíno começo. Enfim, quantos foram decepcionados desta maneira, sim, como se postos sob um feitiço!


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