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Eu Sou a Verdade

Henry (ESV:340-341) – essência da práxis, o agir; essência do agir, a vida

Capítulo XIII

quarta-feira 15 de setembro de 2021

[Excerto de HENRY, Michel. Eu Sou a Verdade. Por uma filosofia do cristianismo. Tr. Carlos Nougué. São Paulo: É Realizações, 2015, p. 340-341 (versão em espanhol]

Lembremos nossas análises preliminares sobre a verdade do mundo. Elas tinham mostrado como esta Verdade se desdobra entre o aparecer do mundo e o que aparece nele. O aparecer do mundo, por um lado: seu “lá fora”, este horizonte de visibilidade em que todas as coisas do mundo se mostram a nós. O que aparece nele, por outro lado: todas as coisas que, mostrando-se nele, constituem o “conteúdo” deste mundo. Ora, é este conteúdo do mundo o que constitui sua realidade. Tal conteúdo é duplo: social, natural. [1] E o conteúdo social que é o mais importante. Concentremos a atenção nele.

Trata-se do conjunto das atividades concretas pelas quais os homens produzem constantemente a totalidade dos bens necessários à sua existência. Ora, basta interrogar-se sobre a natureza dessas atividades para que a definição mundana da realidade exiba de uma vez sua vacuidade. Sem dúvida todas essas atividades que formam o conteúdo da sociedade aparecem no mundo. É neste mundo que podemos vê-las e, cremos, reconhecê-las e descrevê-las. Mas, enquanto nos limitamos a vê-las, não fazemos nada. Se, situado nas arquibancadas de um estádio, olho um corredor que tenta bater um recorde, eu próprio não corro. A manifestação da corrida no “lá fora” do mundo é totalmente estranha à realidade da corrida. A realidade da corrida [340] não se situa em nenhuma parte além do corpo vivente daquele que corre, no Eu Posso fundamental do ego   transcendental   que desdobra seus poderes na medida em que está em posse deles, sendo cada um desses poderes dado a ele próprio na autodoação deste ego, que por sua vez é dado a ele na autodoação da vida. Todas as atividades que constituem o conteúdo da sociedade – a práxis social – têm por essência o agir. É desta essência que elas têm suas propriedades e inicialmente sua possibilidade. Têm suas propriedades e sua possibilidade da essência da Vida, e dela somente. Se é o conjunto das atividades humanas o que constitui o conteúdo do mundo, o que aparece nele, sua realidade, então é preciso dizer: o que parece no mundo não deve nada ao aparecer do mundo. O conteúdo do mundo não deve nada à sua verdade.


Ver online : Yo soy la verdad


[1Uma reflexão sobre o conteúdo natural do mundo mostraria que, pelo viés da sensibilidade, também este conteúdo remete à vida.