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Gadamer (VM): orexis

quarta-feira 24 de janeiro de 2024, por Cardoso de Castro

Nesse ponto de nossa investigação impõe-se um contexto problemático que já apontamos em mais de uma ocasião. Se o próprio núcleo do problema hermenêutico é que a tradição como tal tem de ser entendida cada vez de uma maneira diferente, então — visto sob o ponto de vista lógico — trata-se da relação entre o geral e o particular. Compreender é então um caso especial da aplicação de algo geral a uma situação concreta e particular. Com isso ganha especial relevância para nós a ética aristotélica, de que já mencionamos nas nossas considerações introdutórias à teoria das ciências do espírito. É verdade que Aristóteles não aborda o problema hermenêutico nem sua dimensão histórica, mas trata somente da apreciação correta do papel que a razão deve desempenhar na atuação ética. Mas é precisamente isto que nos interessa aqui, que ali trata-se de razão e de saber, que não estão separados do ser que deveio, mas que são determinados por este e que são determinantes para este ser. Através de sua limitação do intelectualismo socrático-platônico na questão do bem, Aristóteles funda, como se sabe, a ética como disciplina autônoma frente à metafísica. Criticando como uma generalidade vazia a idéia platônica do bem, contrapõe-lhe a questão pelo humanamente bom, aquilo que é bom para o ser humano . Na linha dessa crítica, torna-se exagerado equiparar virtude e saber, arete   e logos  , como ocorria na teoria socrático-platônica das virtudes. Aristóteles recoloca-os na sua verdadeira medida, mostrando que o elemento que sustenta o saber ético do homem é a orexis  , a "ambição", e sua elaboração em uma atitude firme (hexis  ). O conceito da ética carrega já no seu nome a relação com essa fundamentação aristotélica da arete  , no exercício e no ethos  . VERDADE E MÉTODO SEGUNDA PARTE 2.