Página inicial > Hermenêutica > Gadamer, Hans-Georg (1900-2002) > Gadamer (VM): fenomenológico-hermenêutico

Gadamer (VM): fenomenológico-hermenêutico

quarta-feira 24 de janeiro de 2024, por Cardoso de Castro

Pela expressão ‘fenomenológico-hermenêutico’, designo a posição filosófica e o método de Heidegger, tendo em vista que por ‘fenomenológico’ podemos entender o modo de acesso ao e o modo de determinação do ser dos entes. De um modo geral, isto é entendido pelo processo de formalização, quer dizer, “o passo reflexivo que conduz à problemática ontológica e a sua realização, isto é, o abandono da investigação sobre entes e sobre sua propriedade e processos, voltando-se para as condições de seu aparecimento qualificado” (Reis, 2000, p. 141). [Por qualificação Róbson Reis entende as qualificações existenciais, que não são as mesmas dadas “pela estrutura predicativa” (p. 139).] Já a expressão ‘hermenêutico’ indica o ponto de partida da Filosofia de Heidegger, a interpretação que o Dasein   realiza de si mesmo, explicitada a partir da analítica existencial (Heidegger, 1998, p. 60-61).

A pressuposição fundamental da posição fenomenológico-hermenêutica de Heidegger é a compreensão do ser: nós só nos relacionamos com o ente que nós mesmos somos e com os demais entes ao compreendermos o nosso próprio ser e o ser dos entes que vão ao nosso encontro no mundo. Esta é, segundo Tugendhat, a virada especificamente transcendental   de Heidegger, aquela que o distingue da ontologia tradicional objetivista, cuja característica foi investigar o ser como um objeto isolado e suprassensível [239] (1993, p. 133). Ao se questionar, então, sobre o sentido do ser em geral, que unificaria os diferentes modos de ser, a Filosofia hermenêutica trata, em um primeiro momento, de entender como é possível esta compreensão do ser. Neste viés, o método fenomenológico heideggeriano parte da necessidade de explicitar qual ente, pelo seu próprio modo de ser, compreende o ser dos entes e de que maneira ele realiza tal compreensão. Assim, o problema da existência vem à tona como um elemento de diferenciação ontológica. Apesar de todo ente ser, somente nós, seres humanos, existimos, isto é, somente nós somos enquanto compreendemos o nosso próprio ser e compreendemos o ser de outros entes. De uma caneta ou de uma zebra não se pode dizer que existam, devido ao seu modo de ser diferir do modo de ser do Dasein. Com isso, o conceito de existência designa a estrutura ontológica específica do “ente que nós mesmos somos”. [Marcos Fanton, ErStein2015:238-239]