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Gadamer (VM): objeto estético

quarta-feira 24 de janeiro de 2024, por Cardoso de Castro

A mesma aporia ocorre quando, em lugar de partir do conceito do gênio, parte-se do conceito da vivência estética. Esse problema já foi levantado pela dissertação fundamental de Georg von Lukács, A relação sujeito-objeto na estética. Ele [101] confere à esfera estética uma estrutura heracíítica, e com isso quer dizer o seguinte: a unidade do objeto estético não chega a ser uma situação dada real. A obra de arte é apenas uma forma do vazio, o mero ponto nodal na possível maioria das vivências estéticas, nas quais se encontra apenas o objeto estético. Como se vê, há absoluta descontinuidade, isto é, decomposição da unidade do objeto estético na multiplicidade de vivências, uma conseqüência necessária da estética da vivência. Vinculando-se à idéia de Lukács, Oskar Becker chegou à seguinte formulação: "Vista temporalmente, a obra é apenas um momento (isto é, agora), é ’agora’ esta obra, e já agora não é mais!" Isso, de fato, é algo conseqüente. A fundamentação da estética na vivência conduz à absoluta pontualidade, que suspende tanto a unidade da obra de arte como a identidade do artista consigo mesmo e a identidade de quem a compreende ou a usufrui. VERDADE E MÉTODO PRIMEIRA PARTE 1.

Observa-se isso com maior nitidez na forma de representação que é a ação cúltica. Aqui encontra-se à mão sua relação com a comunidade. Um consciente estético ainda tão reflexo não pode mais achar que somente a diferenciação estética, que coloca o objeto estético para si, atinja o verdadeiro sentido da imagem cúltica ou do jogo (espetáculo) religioso. Ninguém poderá imaginar que a execução da ação cúltica seja algo inessencial para a verdade religiosa. VERDADE E MÉTODO PRIMEIRA PARTE 2.