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Gadamer (VM): cogito

quarta-feira 24 de janeiro de 2024, por Cardoso de Castro

Também Heidegger está determinado, inicialmente, por aquela tendência comum a Dilthey   e a Yorck, que um e outro formularam como “conceber a partir da vida”, tendência que, em Husserl  , encontrou expressão como retorno a uma posição anterior à objetividade da ciência. Entretanto, ele não ficou mais submetido às implicações epistemológicas, segundo as quais o retorno à vida (Dilthey), tal como a redução transcendental   (o caminho de Husserl da auto-reflexão absolutamente radical), encontram seu fundamento metódico no fato de as vivências darem-se por si mesmas. Antes, tudo isso torna-se o objeto de sua crítica. Sob o termo-chave de uma “hermenêutica da facticidade” Heidegger opõe à fenomenologia eidética de Husserl, e à distinção entre fato e essência, sobre que ela repousa, uma exigência paradoxal. A facticidade da pre-sença (Dasein  ), a existência, que não é passível de fundamentação nem de dedução, deveria representar a base ontológica do questionamento fenomenológico, e não o puro “COGITO  ”, como estruturação essencial de uma generalidade típica: uma ideia tanto audaz como difícil de ser cumprida. VERDADE E MÉTODO PARTE II 1

A modo de provocação, perguntamos então como se comporta o defensor da filosofia clássica, representado por Strauss, a partir do ponto de vista hermenêutico. Investiguemos isso num exemplo. Strauss mostra claramente que a filosofia política clássica conhece a relação eu-tu-nós, como é chamada na discussão moderna, sob um nome completamente diferente, como amizade. Percebe corretamente que a maneira moderna de pensar, que fala “do problema do tu”, procede da posição básica de primazia do EGO   COGITO cartesiano. Strauss pensa agora compreender por que o antigo conceito de amizade é correto e a formação do conceito moderno é falsa. Aquele que procura compreender o que constitui o Estado e a sociedade terá que falar legitimamente sobre o papel da amizade. Por outro lado, não poderá falar com a mesma legitimidade “com relação ao tu”. O tu não é nada sobre o que se possa falar, algo para quem falamos. Se em lugar da função da amizade colocarmos como fundamento o papel do tu, perdemos justamente a essência objetiva e comunicativa do Estado e da sociedade. VERDADE E METODO II ANEXOS 27