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O caráter oculto da saúde

Gadamer (1993:C2) – iatrike techne

Apologia da arte de curar

domingo 25 de junho de 2023, por Cardoso de Castro

O médico não pode abdicar de sua obra, da forma como todo artista abdica da sua, como faz todo artesão e especialista, a saber, de tal forma que se possa, de algum modo, manter o trabalho como sendo sua obra. De fato, em toda a “techne  ” o produto é deixado para o uso de outros, mas trata-se sim de uma obra própria. A obra do médico, pelo contrário, exatamente por ser a saúde restabelecida, não é mais sua de modo algum, nunca o foi. A relação entre realizar e o realizado, fazer e o feito, esforço e êxito, é, nesse caso, de natureza fundamentalmente diferente, enigmática e posta em dúvida.

Antônio Luz Costa

Existe um tratado da época dos sofistas gregos, o qual defende a arte da medicina contra agressores [1]. Também vestígios de argumentações semelhantes ainda podem ser seguidos regressando-se na história, e isso, seguramente, não é uma casualidade. Trata-se de uma arte especial, aquela que é exercida na medicina. Uma arte que não coincide em todos os pontos com aquilo que os gregos chamavam techne   e com aquilo que chamamos arte artesanal ou com a ciência. O conceito de “techne” é uma criação peculiar da mente grega, do espírito da historie  , da livre prospecção pensante em relação às coisas e do logos   da justificação de motivos para tudo que se considera como verdadeiro. Com esse conceito e sua aplicação à medicina aparece uma primeira decisão em favor daquilo que caracteriza a civilização ocidental. O médico não é mais a figura do curandeiro de outras culturas, revestido pelo segredo de forças mágicas. Ele se tornou um homem da ciência. Aristóteles   utiliza justamente a medicina como exemplo padrão da transformação de simples coleção de ser-capaz-de-fazer e saber, baseada na experiência, em verdadeira ciência. Mesmo quando o médico, em casos isolados, possa estar em condição inferior em relação ao curandeiro experiente ou à curandeira, seu saber é, fundamentalmente, de outra ordem: ele sabe sobre o geral. Ele conhece o motivo pelo qual uma determinada técnica de cura tem êxito. Ele entende seu efeito, porque acompanha o contexto geral de causa e efeito. Isso soa bem moderno e, no entanto, não [41] se trata aqui, no nosso sentido atual, da aplicação de conhecimentos das ciências naturais ao objetivo prático da cura. A oposição entre ciência pura e sua aplicação prática, como nós conhecemos hoje, é caracterizada por métodos específicos da ciência contemporânea, sua aplicação da matemática aos conhecimentos naturais. O conceito grego de “techne”, ao contrário, não significa a aplicação prática de um saber teórico, mas uma forma própria do saber prático. “Techne” é aquele saber que constitui um determinado ser-capaz-de-fazer, seguro de si mesmo, no contexto de uma produção. Ele é, desde o princípio, relacionado à capacidade de produção e resulta a partir dessa relação. Mas trata-se de uma capacidade de produção excelente, uma capacidade que sabe e se fundamenta no conhecimento das causas. Assim, desde o princípio, pertence a esse ser-capaz-de-fazer, fundamentado naquele saber, o aparecimento com ele de um ergon  , uma obra, como que liberado da atividade da produção. Já que, com isso, se completa a produção, que produz alguma coisa, quer dizer, dispondo a outros a sua utilização.

Em tal conceito de “arte”, que se encontra perante o limiar daquilo que chamamos “ciência”, a arte de curar assume então, claramente, uma posição excepcional e problemática. Nesse caso não há uma obra que seja produzida pela arte e seja artificial. Não se pode, nesse caso, falar de um material que, em última instância, seja preconcebido naturalmente e dele seja obtido algo novo ao se produzir uma forma engenhosa e idealizada. Faz parte, antes, da essência da arte de curar que sua capacidade de produção seja uma capacidade de restabelecimento. Com isso, no saber e no fazer do médico cabe-lhe uma modificação própria daquilo que, nesse caso, se designa “arte”. Pode-se, é verdade, dizer que o médico produz a saúde com os meios de sua arte, mas tal afirmação não é exata. O que é produzido desse modo não é uma obra, um ergon, algo novo que surge no ser e comprova o ser-capaz-de-fazer, mas o restabelecimento da saúde do doente, e não é possível ser evidenciado se ele é resultado do sucesso do saber e do ser-capaz-de-fazer médico. A pessoa com saúde não é uma pessoa que foi feita saudável. Por isso, inevitavelmente [42], fica aberta a pergunta até que ponto um sucesso de cura se deve ao tratamento especializado do médico e até que ponto a própria natureza contribui para tal sucesso.

Esse é o motivo pelo qual sempre houve uma circunstância própria em torno da arte médica e de sua reputação. A literal importância vital dessa arte confere ao médico e à sua pretensão sobre o saber e o ser-capaz-de-fazer uma distinção especial, principatmente quando há perigo. No entanto, por outro lado a dúvida sobre a existência e eficiência da arte de curar sempre se relaciona a essa reputação, particularmente quando não há mais perigo. Nesse aspecto, tyche e techne estão em uma tensão especial e antagônica. Aquilo que vale para o caso positivo da cura bem-sucedida não vale menos para o caso negativo do fracasso. O que nisso corresponde a uma eventual falha do ser-capaz-de-fazer médico e não talvez ao desfecho infeliz provocado por um destino superior, e quem irá decidir sobre isso, sobretudo na condição de leigo? A apologia da arte de curar não é, no entanto, apenas uma defesa de uma classe profissional e de uma arte perante outros, incrédulos e céticos, mas, sobretudo, um auto-exame e uma autodefesa do médico perante si mesmo e contra si mesmo. Isso está indissoluvelmente associado à singularidade do ser-capaz-de-fazer médico. Ele pode comprovar sua arte tão pouco a si mesmo quanto a outras pessoas.

A particularidade do ser-capaz-de-fazer que distingue a medicina no âmbito da “techne” encontra-se, como toda a “techne”, no âmbito da natureza. Todo o pensamento antigo refletiu a esfera do artificialmente exequível tendo em vista a natureza. Quando se entendia a “techne” como imitação   da natureza, considerava-se com isso, sobretudo, que a capacidade artística humana como que explora e preenche o espaço de possibílidades deixado pela natureza e a sua própria constituição.

Nesse sentido, seguramente a medicina não é uma imitação da natureza. Com certeza, não deve surgir uma formação que seja artificial. O que deve resultar da arte médica é a saúde, quer dizer, o próprio natural. Isso fornece ao todo dessa arte a sua marca característica. Ela não é invenção e planejamento de algo novo que não existe dessa forma, cujo poder da produção [43] apropriada é detido por alguém, mas trata-se, desde o princípio, de um tipo de fazer e efetuar, que não realiza nada de peculiar e nada que venha do peculiar. O saber e o ser-capaz-de-fazer da arte médica enquadram-se totalmente com o curso natural, na medida em que se procura o seu estabelecimento onde foi perturbado, de tal forma que a perturbação como que desaparece com o próprio equilíbrio natural. O médico não pode abdicar de sua obra, da forma como todo artista abdica da sua, como faz todo artesão e especialista, a saber, de tal forma que se possa, de algum modo, manter o trabalho como sendo sua obra. De fato, em toda a “techne” o produto é deixado para o uso de outros, mas trata-se sim de uma obra própria. A obra do médico, pelo contrário, exatamente por ser a saúde restabelecida, não é mais sua de modo algum, nunca o foi. A relação entre realizar e o realizado, fazer e o feito, esforço e êxito, é, nesse caso, de natureza fundamentalmente diferente, enigmática e posta em dúvida.

Um dos aspectos que evidencia isso na antiga medicina é o de ela ter superado expressamente a condição de, com a velha tentação de provar para si mesmo a sua capacidade, auxiliar somente quando há perspectiva de êxito. Também o doente incurável, para o qual não se conta com algum sucesso de cura espetacular, torna-se objeto da preocupação médica, pelo menos na existência de uma maturidade da consciência médica que, com a perspectiva filosófica, ande a par com a essência do logos. Nesse sentido profundo, a “techne”, da qual aqui se trata, está claramente inserida no curso da natureza de tal forma que ela pode desempenhar sua contribuição no todo desse curso e em todas as suas fases.

Poder-se-á reconhecer todas essas determinações também na ciência médica moderna. E, no entanto, algo de fundamental se modificou. A natureza, o objeto da moderna ciência natural, não é a natureza, em cujo grande âmbito se insere o ser-capaz-de-fazer médico e todo o ser-capaz-de-fazer artificial do ser humano. É, pois, peculiaridade da ciência natural moderna o fato de ela entender seu próprio saber como capacidade de fazer (Machenkönnen). O entendimento matemático-quantitativo das leis do acontecimento natural está [44] direcionado a um isolamento de contextos de causa e efeito que permitem à ação humana possibilidades de intervenção com grau de exatidão testável. O conceito de técnica, associado ao pensamento científico contemporâneo, tem a seu alcance possibilidades específicas e crescentes nas áreas de procedimentos de cura e da medicina. A capacidade de fazer como que se torna autônoma. Ela permite dispor parcialmente sobre o curso do processo e é aplicação de um conhecimento teórico. Como tal, entretanto, não é um curar, mas um efetuar (fazer). Numa esfera de importância vital, ela leva até as últimas consequências a divisão do trabalho, peculiar a toda forma de atividade humano-social. A junção do saber diferenciado e o ser-capaz-de-fazer na unidade prática de um tratamento e cura não resulta da mesma força do saber e do ser-capaz-de-fazer que é cultivada como metodológica na moderna ciência. Trata-se, de fato, de uma antiga sabedoria que se tornou simbólica, primeiro na figura mitológica de Prometeu e depois no christus patiens para todo o Ocidente europeu, aquele chamado paradoxal “Médico, ajuda a ti mesmo”. Mas o grave paradoxo do procedimento de divisão do trabalho pertencente à “techne” se afirma plenamente somente a partir da ciência moderna. A impossibilidade interna de se fazer de si objeto de si mesmo manifesta-se por completo somente a partir da metodologia objetivista da ciência moderna.

Marianne Dautrey

Nous possédons un traité de l’époque des sophistes   grecs qui présente, en réponse à ses adversaires, une défense de l’art médical. Il est également possible de retrouver à une époque encore antérieure des traces d’une argumentation analogue, et ce n’est certainement pas un hasard. L’art pratiqué en médecine est un art à part, un art qui ne correspond pas exactement à ce que les Grecs appelaient techne, ni à ce que nous appelons, nous, artisanat ou science. Le concept de techne est une création spécifique de l’esprit grec, de l’esprit de l’Histoire Historie), du questionnement libre et réfléchi des choses et du logos qui justifie et fonde tout ce que nous estimons être vrai. Ce concept fut, avec son application à la médecine, un premier pas décisif dans le sens de ce qui caractérise la civilisation occidentale. Le médecin cesse d’être un homme-médecine, cette figure nimbée du mystère des forces magiques qu’il est dans d’autres cultures. Aristote fait d’ailleurs de la médecine l’exemple type de la métamorphose qui a transformé en une science véritable l’association d’ordre purement empirique d’un savoir et d’un savoir-faire. Même si l’expérience de l’homme-médecine et la sapience propre à la guérisseuse peuvent, dans certains cas, s’avérer plus efficaces, il demeure que le savoir du médecin est d’une nature fondamentalement différente : ce qu’il sait relève du général. Il connaît la raison du succès d’un traitement. Il en comprend l’effet parce qu’il sait recomposer le rapport de cause à effet. Cela semble très moderne, pourtant il ne s’agit pas là de l’application de connaissances scientifiques à la pratique médicale telle que nous l’entendons aujourd’hui. L’opposition entre une science pure et son application, telle que nous la connaissons, a été marquée par les méthodes spécifiques de la science moderne et par l’usage qu’elle fait des mathématiques en les appliquant à la connaissance de la nature. Le concept grec de techne ne désigne pas l’application pratique d’un savoir théorique, mais une forme propre au savoir pratique. La techne est ce savoir qui, placé dans le contexte d’une fabrication, représente un certain savoir-faire assuré de lui-même. Ce savoir-faire est d’emblée rattaché à un pouvoir de fabriquer et naît de ce lien. Mais ce pouvoir de fabriquer, de son côté, est un pouvoir parfait qui sait et sait également pourquoi il sait. Aussi est-il d’emblée constitutif de ce savoir-faire savant qu’il y ait un ergon, une œuvre, qui en ressorte pour être en quelque sorte évincée de l’acte de fabrication. Car le processus   de fabrication trouve son accomplissement dans le fait qu’un objet est fabriqué, c’est-à-dire livré à l’usage des autres.

Dans le cadre de ce concept d’« art », situé au seuil de ce que nous appelons « science », l’art médical occupe manifestement une place à part, problématique. Ici, nulle œuvre produite par le biais de l’art, nulle œuvre artificielle. Il est impossible de parler ici d’un matériau qui préexisterait dans la nature, serait ensuite transformé en une forme élaborée avec art pour donner naissance à quelque chose de nouveau. L’art médical, dans son essence, se définit bien plutôt par le fait que son pouvoir de fabriquer est pouvoir de rétablir. Ce que l’on appelle « art » ici, subit de ce fait une transformation et devient, dans le cadre du savoir et de la pratique du médecin, quelque chose qui lui est exclusivement propre. On peut dire, il est vrai, que le médecin fabrique la santé au moyen de son art, mais une telle formulation est encore imprécise. Ce qui est fabriqué alors n’est pas une œuvre, un ergon, quelque chose qui viendrait à être et ferait la démonstration d’un savoir-faire. C’est le rétablissement du malade dont il impossible de dire s’il faut l’attribuer à un succès de la science ou au savoir-faire du médecin. Un homme en bonne santé n’est pas un homme à qui on aurait fabriqué une santé. Par conséquent, il ne faut jamais oublier que la question reste ouverte : on ne peut savoir dans quelle mesure le succès d’une guérison revient au traitement habile du médecin et dans quelle mesure la nature ne s’est pas aidée elle-même.

C’est la raison pour laquelle l’art médical et le prestige dont il jouit ont toujours été d’une nature particulière. L’enjeu littéralement vital de l’art médical confère au médecin ainsi [45] qu’au savoir et au savoir-faire qu’il revendique un prestige singulier, en particulier lorsqu’il y a un danger. Ce prestige, cependant, va toujours de pair avec une mise en doute de la réalité et de l’efficacité de l’art médical, en particulier lorsque le danger a disparu. Tyche et techne sont ici dans un rapport de tension propre qui les oppose. Ce qui est vrai dans le cas positif d’une guérison, n’est pas moins vrai dans le cas négatif d’un échec. S’agit-il d’une défaillance du savoir-faire du médecin ou d’une fatalité plus puissante qui a entraîné cette issue malheureuse — qui peut prétendre en décider, de surcroît en tant que néophyte ? L’apologie de l’art médical, pourtant, n’est pas seulement le lieu d’un plaidoyer en faveur d’un corps de métier et de son art à l’intention   de ceux qui en sont extérieurs, face aux mécréants et aux sceptiques ; c’est, avant toute chose, une mise à l’épreuve de soi, une défense de soi que le médecin prononce pour lui-même et contre lui-même et qui est inextricablement liée à la nature singulière du savoir-faire médical. Car le médecin est aussi peu en mesure de se prouver son art à lui-même qu’il ne peut en donner la preuve aux autres.

La médecine procède d’un savoir-faire spécifique qui lui confère, dans le cadre de la techne, une place à part mais qui, comme toute techne, s’inscrit dans le cadre de la nature. Toute la pensée antique a envisagé le domaine de ce qu’il est possible de fabriquer artificiellement en relation avec la nature. Quand on donnait au mot techne le sens d’imitation de la nature, on signifiait avant toute chose que la puissance d’artifice de l’homme utilisait et remplissait en quelque sorte l’espace que la nature avait laissé libre à l’intérieur de ses propres formations. Dans ce sens, la médecine n’est, assurément, pas une imitation de la nature. Aucune forme artificielle n’est, en effet, censée en résulter. Ce qui ressortit à l’art médical, c’est la santé, c’est-à-dire le naturel par excellence. Cela donne à l’art médical dans son ensemble son caractère propre. Il n’est ni invention, ni mise en place de quelque chose de nouveau qui n’existerait pas sous cette forme et que quelqu’un aurait eu le pouvoir de fabriquer de manière conforme. Il est d’emblée un mode de faire et d’agir qui ne fait rien en propre et de lui-même. Sa science et son savoir-faire se conforment entièrement au mouvement de la nature de sorte qu’en tentant de rétablir ce dernier dès qu’il est sujet [46] à un trouble, ils se fondent en quelque sorte avec l’équilibre naturel de la santé. Le médecin ne peut se retrancher derrière son œuvre comme peut le faire tout artiste, tout artisan et tout homme de savoir-faire qui, dans le même temps, fait en sorte que cette œuvre reste d’une certaine manière son œuvre. Cela vaut, il est vrai, pour toute techne : le produit est livré à l’usage des autres mais reste, cependant, une œuvre personnelle. En revanche, l’œuvre du médecin, précisément parce qu’elle est rétablissement de la santé, n’est plus sienne du tout ; elle n’a même jamais été sienne. Le rapport entre l’acte et le produit, entre le faire et le fait, entre l’effort et le succès est ici d’une nature fondamentalement différente, énigmatique et problématique.

C’est un état de fait dont la médecine antique avait conscience, elle qui, entre autres choses, présente comme la plus vieille des tentations devant être impérativement surmontée, celle de n’intervenir que là où l’on entrevoit des chances de succès — tentation à laquelle est exposé tout savoir-faire qui tend à se confirmer lui-même. Le malade incurable, pour lequel on ne peut espérer aucun succès spectaculaire, doit être, lui aussi, l’objet d’un soin médical, si du moins la conscience professionnelle du médecin qui le traite a atteint cette maturité qui va de pair avec l’intelligence du logos philosophique. Comprise dans ce sens plus profond, la techne visée ici se fond si bien dans le cycle de la nature qu’elle est en mesure d’agir à la fois sur l’ensemble du cycle naturel et sur chacune de ses phases.

Ce sont là des caractéristiques que l’on retrouve aussi dans la médecine moderne. Pourtant, quelque chose de fondamental a changé. La nature que la science prend comme objet n’est pas la nature dans laquelle s’inscrit le savoir-faire médical ou les savoir-faire artisanaux. Les sciences modernes ont cette particularité qu’elles envisagent leur savoir comme un pouvoir-faire. La conception selon laquelle l’événement naturel relève de lois mathématiquement quantifiables tend à isoler les rapports de cause à effet et permet, ce faisant, d’offrir à l’homme la possibilité d’agir et de contrôler précisément ses interventions. Le concept de technique dans la pensée scientifique moderne s’arroge ainsi des possibilités plus grandes, en particulier dans le domaine de la pratique et de l’art médical. Le pouvoir-faire se rend en quelque sorte autonome. Il [47] permet de disposer de cycles partiels et il est application d’un savoir théorique. Mais, en tant que tel, il n’est pas une thérapie, il est une action. Il porte à son paroxysme la division du travail propre à l’organisation du travail de toute société humaine. L’insertion du savoir spécialisé et du savoir-faire, au sein   de l’unité d’ordre pratique qu’est l’association d’un traitement et d’une guérison, ne résulte pas d’un équilibre des forces entre l’action d’un savoir et d’un savoir-faire, tel qu’il est pratiqué au nom de la méthode dans la science. L’injonction paradoxale, « médecin, aide-toi toi-même » est déjà, il est vrai, de la sagesse ancienne, devenue, d’abord dans la figure mythologique de Prométhée puis dans celle du Christus patiens, un symbole de l’Occident   européen. Mais le paradoxe qu’il y a dans la démarche d’une techne, qui procède par la division du travail, ne s’est cependant affirmé dans toute sa force qu’avec l’avènement de la science moderne. L’impossibilité intrinsèque de s’instaurer soi-même comme son propre objet n’apparaît pleinement qu’avec la méthode d’objectivation de la science moderne.


Ver online : Hans-Georg Gadamer


[1Apologie der Heilkunst, revisão, tradução, notas e introdução de Theodor Gomperz (Ata da Kaiserlichen Akademie der Wissenschaft in Wien). Viena, 1890.