Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

Página inicial > Gesamtausgabe > GA9:516-517 – Möglichkeit - Possibilidade

GA9:516-517 – Möglichkeit - Possibilidade

sábado 27 de maio de 2023

Carneiro Leão

Também os nomes, "Lógica", "Ética", "Física", só surgiram quando o pensamento originário chegou ao fim. Em seus grandes tempos, os gregos pensaram sem esses títulos. Nem mesmo de "filosofia" chamaram o pensamento. Este chega sempre ao fim, quando se afasta de seu elemento. O elemento é àquilo a partir do qual o pensamento pode ser pensamento. O elemento é o propriamente poderoso: o poder. Ele se apega ao pensamento e assim o conduz à sua Essência. Dito sem rodeios, o pensamento é o pensamento do Ser. O genitivo exprime duas coisas. O pensamento é do Ser, enquanto, provocado pelo Ser em sua propriedade (ereignen  ), pertence ao Ser. O pensamento é ainda pensamento do Ser, enquanto, pertencendo ao Ser, ausculta o Ser. Enquanto, auscultando, pertence [1] ao Ser, o pensamento é de acordo com a pro-veniência de sua Essência. O pensamento é, isso significa: o Ser se apegou, num destino Histórico [2], à sua Essência. Apegar-se a uma "coisa" ou "pessoa" em sua Essência, quer dizer: amá-la, querê-la. Pensando de modo mais originário, querer significa essencializar, dar Essência. Esse querer (moegen) é que constitui a própria Essência do poder [3], que não somente pode realizar isso ou aquilo mas também deixa uma coisa "vigorar" em sua pro-veniência, isto é, deixa que ela seja. O poder do querer é aquilo em cuja "força" uma coisa pode propriamente ser. Esse poder é o "possível" em sentido próprio, a saber, aquilo cuja Essência se funda no querer. É por esse querer que o Ser pode pensar. O Ser possibilita o pensar. Querer poderoso [4], o Ser é o "possível". Como o elemento, o Ser é "a força silenciosa" do poder que quer, isto é, do possível. Sem dúvida, sob o domínio da "lógica" e da "metafísica", só se pensam as palavras "possível" e "possibilidade" em oposição a "realidade" isto é, a partir de determinada interpretação do Ser, qual seja, da interpretação metafísica do Ser, como atus e potentia. Essa interpretação se identifica com a distinção de existentia   e essentia  . Quando falo da "força silenciosa do possível", não me refiro ao possibile de uma possibilitas meramente representada (vorgestellt) nem a potentia como essentia de um atus de existentia. Refiro-me ao Ser mesmo que, querendo, tem poder sobre o pensamento e assim sobre a Essência do homem, o que significa, sobre a re-ferência do homem ao Ser. Poder alguma coisa significa: pre-servá-la em sua Essência, con-servá-la em seu elemento. (p. 29-30)

Capuzzi

Even such names as “logic,” “ethics,” and “physics” begin to flourish only when originary thinking comes to an end. During the time of their greatness the Greeks thought without such headings. They did not   even call thinking “philosophy.” Thinking comes to an end when it slips out ofits element. The element is what enables thinking to be a thinking. The element is what properly enables: it is the enabling [das Vermögen  ]. It embraces thinking and so brings it into its essence. [148] Said plainly, thinking is the thinking of being. The genitive says something twofold. Thinking is of being inasmuch as thinking, propriated [5] by being, belongs to being. At the same time thinking is of being insofar as thinking, belonging to being, listens to being. As the belonging to being that listens, thinking is what it is according to its essential origin. Thinking is — this says: Being has embraced its essence in a destinal manner in each case. To embrace a “thing” or a “person  ” in their essence means to love them, to favor them. Thought in a more original way such favoring means the bestowal of their essence as a gift. Such favoring [Mögen] is the proper essence of enabling [Vermögen], which not only can achieve this or that but also can let something essentially unfold in its provenance, that is, let it be. It is on the “strength” of such enabling by favoring that something is properly able to be. This enabling is what is properly “possible” [das “Mögliche”], that whose essence resides in favoring. From this favoring Being enables thinking. The former makes the latter possible. Being is the enabling favoring, the “may be” [das “Mög liche”]. As the element, Being is the “quiet power” of the favoring enabling, that is, of the possible. Of course, our words möglich [possible] and Möglichkeit   [possibility], under the dominance of “‘logic” and ‘“metaphysics,” are thought solely in contrast to “‘actuality”; that is, they are thought on the basis of a definite—the metaphysical—interpretation   of Being as actus and potentia, a distinction identified with the one between existentia and essentia. When I speak of the “quiet power of the possible” I do not mean the possibile of a merely represented possibilitas, nor potentia as the essentia of an actus of existentia; rather, I mean Being itself, which in its favoring presides over thinking and hence over the essence of humanity, and that means [197] over its relation to Being. To enable something here means to preserve it in its essence, to maintain it in its element. (Pathmarks, p. 196-197)

Munier

Les termes tels que « logique », « éthique », « physique » n’apparaissent eux-mêmes qu’au moment où la pensée originelle est sür son déclin. Dans leur grande époque, les Grecs ont pensé sans de telles étiquettes. Ils n’appelaient pas même « philosophie   » la pensée. Celle-ci est sur son déclin, quand elle s’écarte de son élément. L’élément est ce à partir de quoi la pensée peut être une pensée. L’élément est proprement ce-qui-a-pouvoir: le pouvoir. Ilprend charge de la pensée et ainsi l’amène à son essence. En un mot, la pensée est la pensée de l’Être. Le génitif a un double sens. La pensée est de l’Être, en tant qu’advenue par l’Être, elle appartient à l’Être. La pensée est en même temps pensée de [71] l’Être, en tant qu’appartenant à l’Être, elle est à l’écoute de l’Être [6]. La pensée est ce qu’elle est selon sa provenance essentielle, en tant qu’appartenant à l’Être, elle est à l’écoute de l’Être. La pensée est — cela signifie: l’Être a, selon sa destination [7], chaque fois pris charge de son essence. Prendre charge d’une « chose » ou d’une « personne » dans leur essence, c’est les aimer: les désirer [8]. Ce désir [Mögen] signifie, si on le pense plus originellement: don de l’essence. Un tel désir est l’essence propre du pouvoir [Vermögen] qui peut non seulement réaliser ceci ou cela, mais encore faire « se déployer » [Wesen  ] quelque chose dans sa pro-venance, c’est-à-dire faire être [9]. Le pouvoir du désir est cela « grâce » à quoi quelque chose a proprement pouvoir d’être. Ce pouvoir est proprement le « possible » [Das « Mögliche »], cela dont l’essence repose dans le désir. De par ce désir, l’Être peut la pensée. Π la rend possible. L’Être en tant que désir-qui-s’accomplit-en-pouvoir est le « pos-sible » [Das « Mög-liche »]. Il est, en tant qu’il est l’élément, la « force tranquille » du pouvoir aimant, c’est-à-dire du possible. Sous l’emprise de la « logique » et de la « métaphysique », nos mots « possible » et « possibilité » ne sont en fait pensés qu’en opposition à « réalité », c’est-à-dire à partir d’une interprétation déterminée — [72] métaphysique — de l’Être conçu comme actus et potentia  , opposition qu’on identifie avec celle d’existentia et d’essentia. Quand je parle de la « force tranquille du possible », je n’entends pas le possibile d’une possibilitas seulement représentée, non plus que la potentia comme essentia d’un actus de l’existentia, mais l’Être lui-même qui, désirant, a pouvoir sur la pensée et par là sur l’essence de l’homme, c’est-à-dire sur la relation de l’homme à l’Être. Pouvoir une chose signifie ici: là garder dans son essence, la maintenir dans son élément. (Questions III-IV, p. 71-72, tr. Roger Munier)

Original

Man ist immer wieder bereit, diesen Bedarf zu decken. Audi die Namen wie »Logik  «, »Ethik  «, »Physik  « kommen   erst auf  , sobald das ursprüngliche Denken   zu Ende   geht. Die Griechen haben   in ihrer großen Zeit   ohne solche Titel gedacht. Nicht   einmal »Philosophie« nannten sie das Denken. Dieses geht zu Ende, wenn es aus seinem Element weicht. Das Element ist das, aus dem her das Denken vermag, ein Denken zu sein  . Das Element ist das eigentlich   Vermögende: das Vermögen. Es nimmt sich des Denkens an und bringt es so in dessen Wesen. Das Denken, schlicht   gesagt, ist das Denken des Seins. Der Genitiv sagt ein Zwiefaches. Das Denken ist des Seins, insofern das Denken, vom Sein ereignet [10], dem Sein gehört. Das Denken ist zugleich Denken des Seins, insofern das Denken, dem Sein gehörend, auf das Sein hört. Als das hörend dem Sein Gehörende ist das Denken, was es nach seiner Wesensherkunft ist. Das Denken ist — dies sagt: das Sein hat sich je geschicklich seines Wesens angenommen. Sich einer »Sache  « oder einer »Person« in ihrem Wesen annehmen  , das heißt: sie heben: sie mögen. Dieses Mögenbedeutet, ursprünglicher gedacht: das Wesen schenken. Solches Mögen ist das eigentliche Wesen des Vermögens, das nicht nur dieses oder jenes leisten, sondern etwas in seiner Her-kunft   »wesen«, das heißt sein lassen   kann. Das Vermögen des Mögens ist es, »kraft  « dessen etwas eigentlich zu sein vermag. Dieses Vermögen ist das eigentlich »Mögliche«, jenes, dessen Wesen im Mögen beruht. Aus diesem Mögen vermag das Sein das Denken. Jenes ermöglicht dieses. Das Sein als das Vermögend-Mögende ist das »Mög-liche«. Das Sein als das Element ist die »stille Kraft« des mögenden Vermögens, das heißt des Möglichen. Unsere Wörter »möglich« und »Möglichkeit« werden   freilich unter der Herrschaft der »Logik« und »Metaphysik  « nur gedacht im Unterschied   zu »Wirklichkeit  «, das heißt aus einer bestimmten — der metaphysischen — Interpretation des Seins als actus und potentia, welche Unterscheidung   mit der von existentia und [517] essentia identifiziert wird. Wenn ich   von der »stillen Kraft des Möglichen« spreche, meine ich nicht das possibile einer nur vorgestellten possibilitas, nicht die potentia als essentia eines actus der existentia, sondern das Sein selbst  , das mögend über das Denken und so über das Wesen des Menschen und das beißt über dessen Bezug   zum Sein vermag. Etwas vermögen bedeutet hier: es in seinem Wesen wahren  , in seinem Element einbehalten. (p. 516-517)


Ver online : WEGMARKEN [GA9]


[1Auscultando… pertence = hoerend… gehoert: aqui se faz referência à interdependência dos dois verbos, hoeren (ouvir, auscultar) gehoeren (pertencer), a um mesmo radical.

[2Destino Histórico = geschicklich: da palavra, Geschick (destino) formou Heidegger o adjetivo, geschick-lich, que não existe no alemão corrente. Geshick (destino) deriva-se de schicken (enviar, destinar). Dentro do pensamento Heideggeriano, Geschick (destino) é tomado em sentido ativo, como o que destina e assim dáorigem à História (Geschichte) . Por isso o adjetivo do texto é traduzido por: "num destino histórico".

[3Esse querer é que constitui a própria Essência do poder… = solches Moegen ist das eigentliche Wesen dos Vermoegens…: o verbo moegen, que significa querer e gostar, possui um derivado, ver-moegen, que diz poder. Heidegger determina a Essência propria de ver-moegen (poder) e de moeg-lich (possível), pelo sentido originário de moegen (querer). Querer é poder.

[4Querer poderoso = das Vermoegend – Moegende: nessa locução se exprime que a Essência primária do "possível" é a estrutura instaurada pela dialética do vigor originário de querer (moegen) e poder (ver-moegen).

[5First edition, 1949: Only a pointer in the language of metaphysics. For “Ereignis,” “event of appropriation," has been the guiding word of my thinking since 1936.

[6Heidegger rapproche gehören: appartenir, de hören: écouter.

[7Geschicklich: le mot n’existe pas dans la langue courante. Heidegger le forme à partir de Geschick: destin. Geschick est souvent rapproché de schicken: envoyer. Par exemple: « Das Sein als das Geschick das Wahrheit sckickt… » (p. 115). Le jeu de mots est également possible en français si l’on prend destin au sens de: ce qui destine. C’est pourquoi nous traduisons à chaque fois schicken par destiner et Geschick par destin.

[8Mögen. Dans ce passage, Heidegger joue sur la polyvalence de ce mot qui signifie à la fois: pouvoir, désirer, aimer.

[9Sein lassen peut aussi vouloir dire: laisser être; il faut lui maintenir également ce sens.

[10Auflage 1949: Nur ein Wink in der Sprache der Metaphysik. Denn »Ereignis« seit 1936 das Leitwort meines Denkens.