Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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GA89 (2021:808-809) – Daseinsanalyse

domingo 18 de fevereiro de 2024

Veio à tona, então, que, em Ser e tempo   mesmo, o discurso sobre a Daseinsanalyse   é frequente. Aí, a Daseinsanalyse não significa aqui outra coisa senão realização da mostração das determinações do Dasein transformadas em tema na analítica existencial, que, na medida em que esse é determinado enquanto existente, são chamadas de existenciais. Este conceito de Daseinsanalyse ainda pertence, portanto, à analítica existencial e, com isso, a uma ontologia.

É preciso distinguir disso fundamentalmente a “Daseinsanalyse” no sentido da comprovação e da descrição de fenômenos que se mostram a cada vez faticamente junto a um determinado Dasein existente. Essa análise é, uma vez que dirigida a um existente respectivo, necessariamente orientada pelas determinações fundamentais do ser desse ente, isto é, por aquilo que a analítica existencial expõe como existenciais. Nesse caso, é preciso observar que aquilo que é exposto na analítica existencial com vistas ao Dasein e sua estrutura existencial é limitado, e, em verdade, limitado pela tarefa fundamental da questão acerca do ser. A restrição é dada por meio do fato de que, com vistas ao caráter temporal   do ser enquanto presentidade, tudo depende de interpretar o Dasein enquanto temporalidade. Por isso, não há nenhuma analítica do [808] Dasein, que pudesse ser suficiente para uma fundamentação de uma antropologia filosófica (ver Ser e tempo, p. 17495).

Aqui se mostra o círculo necessário de toda hermenêutica: como analítica ontológica-existencial, a analítica existencial pressupõe já certas determinações do ser, cuja determinação completa dever ser precisamente preparada pela analítica.

Ao lado dessa terceira determinação da Daseinsanalyse pode-se constatar uma quarta. Ter-se-ia em vista com isso: o todo de uma disciplina possível, que transformaria em tarefa para si apresentar os fenômenos existenciários demonstráveis do Dasein histórico-social e individual no sentido de uma antropologia ôntica marcada de maneira daseinsanalítica. A terceira determinação é a realização da quarta determinação, assim como a segunda determinação é a realização da primeira. Essa Daseinsanalyse antropológica pode ser ainda dividida em a) e b), a saber, em uma antropologia-normal e em uma patologia daseinsanalítica ligada a essa antropologia. Na medida em que se trata de uma análise antropológica do Dasein, uma mera classificação dos fenômenos expostos não pode ser suficiente, mas ela precisa estar orientada para a existência histórica concreta do ser humano atual, isto é, do ser humano que existe na sociedade industrial atual.

[HEIDEGGER, Martin. Seminários de Zollikon. Organizado por Peter Trawny  . Traduzido por Marco Casanova  . Rio de Janeiro: Via Verita, 2021]


Ver online : Zollikoner Seminare [GA89]