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NIETZSCHE II [GA6T2]

GA6T2:118-120 – Moral

O niilismo europeu

sábado 20 de maio de 2023, por Cardoso de Castro

Toda metafísica do tipo da instauração de um mundo supra-sensível enquanto o mundo verdadeiro acima do mundo sensível enquanto o mundo aparente emerge da moral  . Por isso, a sentença: “Não passa de um preconceito moral dizer que a verdade tem mais valor do que a aparência” (Além do hem e do mal, n. 34; VII, p. 55).

Casanova

Por moral  , Nietzsche   compreende, na maioria das vezes, o sistema de tais avaliações, nas quais um mundo supra-sensível é estabelecido como normativo e desejável. Nietzsche sempre concebe a “moral metafisicamente”, isto é, com vistas ao fato de ser decidido nela o todo do ente. Isso acontece no platonismo por meio da cisão do ente em dois mundos, o mundo supra-sensível dos ideais, daquilo que deve ser, do verdadeiro em si, e o mundo sensível do empenhar-se em meio a aspirações e do submeter-se àquilo que é válido em si e que condiciona tudo enquanto incondicionado. Por isso, Nietzsche pode dizer (n. 400): “Portanto, na história da moral expressa-se uma vontade de poder, por meio da qual ora os escravos e oprimidos, ora os malfadados e em-si-sofredores, ora os medíocres fazem a tentativa de impor os juízos de valor que lhes são mais favoráveis.”

De maneira correspondente, deparamo-nos com a seguinte formulação (n. 356): “Resignado, aplicado, benevolente, temperante: é assim que vós quereis o homem? O homem bom? Mas isso me parece não passar do escravo ideal  , do escravo do futuro.”

E no número 358:

“O escravo ideal (o ‘homem bom’) – Aquele que não consegue se colocar como ‘meta’, nem está efetivamente em condições de estabelecer metas a partir de si, esse dignifica a moral da perda do si próprio – instintivamente. Tudo o convence disso: sua perspicácia, sua experiência, sua vaidade. E mesmo a fé é uma perda do si próprio.”

[88] Ao invés de perda do si próprio, também podemos dizer: recusa a estabelecer a si próprio como aquele que comanda, isto é, impotência para o poder, “renúncia à vontade de existência” (n. 11). No entanto, a impotência para o poder é apenas um “caso especial” da vontade de poder; e isso implica o seguinte: “Os valores supremos até aqui são um caso especial da vontade de poder” (XIV, p. 428). O estabelecimento desses valores e a sua transposição para o interior de um mundo supra-sensível em si, ao qual o homem deve se submeter, emergem de um “amesquinhamento do homem” (n. 898). Toda metafísica do tipo da instauração de um mundo supra-sensível enquanto o mundo verdadeiro acima do mundo sensível enquanto o mundo aparente emerge da moral. Por isso, a sentença: “Não passa de um preconceito moral dizer que a verdade tem mais valor do que a aparência” (Além do hem e do mal, n. 34; VII, p. 55).

No mesmo escrito, então, Nietzsche define a essência da moral: “A moral compreendida como doutrina das relações de domínio, sob as quais o fenômeno ‘vida’ emerge. – ” (idem n. 19 ; VII, p. 31)

E no texto A vontade de poder (n. 256): “Compreendo por ‘moral’ um sistema de avaliações que toca nas condições de vida de um ser.”

Em verdade, Nietzsche também compreende aqui a moral “metafisicamente” em ligação com o ente na totalidade e com a possibilidade da vida em geral, e não “eticamente” com vistas à “condução da vida”. Todavia, ele não pensa na moral que condiciona o platonismo. Desse modo, “moral” e “moral” também não se mostram como a mesma coisa em sua significação metafísica para Nietzsche. Por um lado, em um sentido formal   maximamente amplo, todo sistema de avaliações e de relações de domínio designa uma moral; a moral é concebida, nesse caso, de maneira tão ampla que mesmo as novas instaurações de valores podem ser denominadas “morais” – e isso simplesmente porque elas estabelecem condições da vida. Por outro lado, porém, a moral normalmente designa, para Nietzsche, aquelas avaliações que encerram em si o posicionamento de valores supremos incondicionados em si no sentido do platonismo e do cristianismo. A moral é a moral do “homem bom”, do homem que vive a partir da oposição e no interior da oposição ao “mal”, e não “para além do bem e do mal”. Na medida em que a metafísica nietzschiana se encontra para além do bem e do mal, na medida em que ela busca constituir e ocupar esse posto pela primeira vez enquanto uma posição fundamental, Nietzsche pode se denominar um “imoralista”.

Esse termo não significa de maneira alguma que o pensamento e a reflexão seriam imorais no sentido de uma tomada de posição contra o “bem” e em favor do “mal”. Sem moral – isso quer dizer: para além do bem e do mal. E isso não significa, por sua vez: fora de toda normatividade e ordem, mas no interior da necessidade da nova instauração de uma nova ordem contra o caos.

Klossowski

Par morale Nietzsche entend le plus souvent le système de telles appréciations de valeurs dans lesquelles un monde supra-sensible est posé en tant que désirable et donnant la mesure de toutes choses. Nietzsche conçoit la « morale » toujours dans un sens « métaphysique », c’est-à-dire eu égard au fait que c’est dans la morale que l’on décide de la totalité de l’étant. C’est ce qui se produit dans le platonisme par la division de l’étant en deux mondes, celui suprasensible des idéaux, de ce qui est dû, du vrai en soi – et celui sensible, monde où l’on aspire et s’efforce à se soumettre au valable en soi, lequel en tant que l’inconditionné conditionne toutes choses. De là que Nietzsche peut dire :

« Dans l’histoire de la morale s’exprime par conséquent une Volonté de puissance par laquelle tantôt les esclaves et les opprimés, tantôt les mal-venus et ceux qui souffrent par nature, tantôt les médiocres tentent de faire prévaloir les jugements de valeur qui leur sont les plus favorables. » (n° 400).

D’où la remarque :

« Modeste, zélé, bienveillant, modéré : c’est ainsi que vous voulez l’homme? l’homme bon? Mais il me semble que c’est là l’esclave idéal, l’esclave de l’avenir. » (n° 356).

Et ailleurs :

« L’esclave idéal (l’ « homme bon »). – Qui ne peut se poser lui-même en tant que « fin », ni du tout poser des fins de sa propre initiative, il honore la morale du dépouillement de soi-même – · instinctivement. Tout concourt à l’en persuader : son intelligence, son expérience, sa vanité. Et la foi aussi est un dépouillement de soi-même. » (n° 358).

Au lieu de « dépouillement de soi » nous pourrions dire aussi : renoncement à se poser soi-même en tant qu’instance impérative, c’est-à-dire impuissance à exercer la puissance, « détachement à l’égard de la volonté d’exister » (n° 11). L’impuissance à exercer la puissance n’est cependant qu’un « cas spécial » de la Volonté de puissance et c’est dans ce sens que : « les suprêmes valeurs constituent un cas spécial de la Volonté de puissance » (XVI, 428). La sup-position de ces valeurs et leur transposition [98] dans un monde en soi suprasensible auquel l’homme doit se soumettre, résultent d’un « rapetissement de l’homme » (n° 898). Toute métaphysique dans le genre d’une sup-position d’un monde suprasensible, en tant que le vrai, au-dessus du sensible en tant que l’apparent, résulte de la morale. D’où la proposition :

« Prétendre que la vérité vaille plus que l’apparence n’est rien de plus qu’un préjugé moral. » (Par-delà le bien et le mal, n° 34, VII, 55.)

Dans le même ouvrage Nietzsche détermine ainsi l’essence de la morale :

« Morale conçue notamment en tant que science des conditions de domination, dans lesquelles naît le phénomène “vie”. – » (ibid, n° 19, VII, 3i).

Et dans La Volonté de puissance :

« J’entends par “ morale ” un système d’appréciations de valeur qui touchent les conditions de vie d’un être. » (n° 256).

Ici Nietzsche entend sans doute la morale également au sens « métaphysique » relativement à l’étant dans sa totalité, soit la possibilité de la vie en général et non pas au sens « éthique » eu égard à la « conduite de la vie », mais il ne songe plus à la « morale » qui conditionne le platonisme. C’est pourquoi le terme « morale » dans sa signification même métaphysique n’a pas toujours un sens identique pour Nietzsche. Tantôt pris au sens formel le plus large il signifie tout système d’appréciations de valeurs et de conditions de domination; ici l’acception du terme est à ce point tendue que même les nouvelles institutions de valeurs peuvent être désignées comme « morales », uniquement parce qu’elles posent des conditions de la vie. Tantôt au contraire et en principe morale signifie chez Nietzsche le système de ces appréciations de valeurs, qui inclut la supposition de valeurs suprêmes et inconditionnelles dans le sens du platonisme et du christianisme. La morale est la morale de l’homme bon qui vit par l’opposition et dans l’opposition au « mal » et non pas « par-delà le bien et le mal ». Pour autant que la métaphysique de Nietzsche se situe « par-delà le bien et le mal », qu’elle cherche d’abord à repérer et à occuper cette position en tant que fondamentale, Nietzsche peut se définir en tant qu’ « immoraliste ».

Cette définition n’entend nullement que la pensée et l’état d’esprit se voudraient ici immoraux au sens d’une prise de position contre le « bien » et pour le « mal ». Sans morale – ce qui veut dire : par-delà le bien et le mal. Ceci non plus ne signifie pas : hors de toute loi, de tout ordre, mais : prise de position dans la nécessité d’instituer nouvellement un autre ordre contre le chaos  .

Original

Unter Moral versteht Nietzsche meist das System   solcher Wertschätzungen, in denen eine übersinnliche Welt   als maßgebend und wünschbar gesetzt wird. Nietzsche begreift die »Moral« stets »metaphysisch«, d. h. im Hinblick darauf, daß   in ihr über das Ganze   des Seienden   entschieden wird. Das geschieht im Platonismus durch die Scheidung des Seienden in zwei Welten, die übersinnliche Welt der Ideale, des Gesollten, an sich   Wahren   – und die sinnliche Welt des strebenden Sichbemühens und Sichunterstellens unter das an sich Gültige, das als Unbedingtes alles bedingt. Daher kann Nietzsche sagen   (n. 400):

»In der Geschichte   der Moral drückt sich also ein Wille   zur Macht   aus, durch den bald die Sklaven und Unterdrückten, bald die Mißratnen und An-sich-Leidenden, bald die Mittelmäßigen den Versuch   machen, die ihnen günstigsten Werturteile durchzusetzen.«

Demgemäß heißt es (n. 356):

»Bescheiden, fleißig, wohlwollend, mäßig: so wollt ihr den Menschen? den guten Menschen? Aber mich dünkt das nur der ideale Sklave, der Sklave der Zukunft  

Und in n. 358:

»Der ideale Sklave (der „gute   Mensch  ‟). – Wer   sich nicht   als „Zweck‟ ansetzen kann, noch überhaupt von sich aus Zwecke ansetzen kann, der gibt der Moral der Entselbstung die Ehre – instinktiv. Zu ihr überredet ihn Alles: seine Klugheit, seine Erfahrung  , seine Eitelkeit. Und auch der Glaube   ist eine Entselbstung.«

Statt Entselbstung können wir auch sagen: Verzicht   darauf, sich selbst   als den Befehlenden zu setzen, d. h. Ohnmacht zur Macht, »Abkehr   vom Willen zum Dasein  « (n. 11). Die Ohnmacht zur Macht ist aber nur ein »Spezialfall« des Willens zur Macht, und darin liegt: »Die bisherigen obersten Werte   sind ein Spezialfall des Willens zur Macht« (XVI, 428). Die Ansetzung dieser Werte und ihre Versetzung in eine übersinnliche Welt an sich, der sich der Mensch unterwerfen soll, entspringen   aus einer »Verkleinerung des Menschen« (n. 898). Alle Metaphysik   von der Art der Ansetzung einer übersinnlichen Welt als der wahren über der sinnlichen als der scheinbaren entspringt der Moral. Daher der Satz  : »Es ist nicht mehr als ein moralisches Vorurteil  , daß Wahrheit   mehr wert ist als Schein  « (»Jenseits von Gut und Böse  «, n. 34; VII, 55).

In derselben Schrift   bestimmt Nietzsche das Wesen   der Moral also:

»Moral nämlich als Lehre von den Herrschafts-Verhältnissen verstanden, unter denen das Phänomen  Leben  ‟ entsteht. – « (ebd. n. 19; VII, 31)

Und in »Der Wille zur Macht« (n. 256):

»Ich   verstehe unter „Moral‟ ein System von Wertschätzungen, welches mit den Lebensbedingungen eines Wesens sich berührt.«

Hier versteht Nietzsche die Moral zwar auch »metaphysisch« in bezug   auf   das Seiende im Ganzen und die Möglichkeit   des Lebens überhaupt und nicht »ethisch« hinsichtlich der »Lebensführung«, aber er denkt nicht mehr an die »Moral«, die den Platonismus bedingt. »Moral« und »Moral« sind daher auch in der metaphysischen Bedeutung   für Nietzsche nicht dasselbe. Einmal bedeutet Moral im formalen, weitesten Sinne jedes System von Wertschätzungen und Herrschaftsverhältnissen; Moral ist hier so weit begriffen, daß auch die neuen Wertsetzungen »moralisch« genannt werden   können, nur weil sie Bedingungen des Lebens setzen. Zum anderen   aber und in der Kegel meint Moral nach Nietzsche das System jener Wertschätzungen, das die Ansetzung von unbedingten obersten Werten an sich im Sinne des Platonismus und des Christentums in sich schließt. Moral ist Moral des »guten Menschen«, der aus dem Gegensatz und innerhalb   des Gegensatzes zum »Bösen« lebt und nicht »jenseits von Gut und Böse«. Sofern Nietzsches Metaphysik »jenseits von Gut und Böse« steht, zuvor diesen Standort erst als Grundstellung auszumachen und zu beziehen sucht, kann Nietzsche sich als »Immoralisten« bezeichnen.

Dieser Titel meint keineswegs, das Denken   und die Gesinnung seien unmoralisch im Sinne einer Stellungnahme gegen das »Gute« und für das »Böse«. Ohne Moral – das besagt: Jenseits von Gut und Böse. Dies wiederum meint nicht: außerhalb aller Gesetzlichkeit und Ordnung, sondern innerhalb der Notwendigkeit   einer Absetzung einer anderen Ordnung gegen das Chaos.


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