Página inicial > Gesamtausgabe > GA55 (87-90): O que nunca declina (physis)

HERÁCLITO

GA55 (87-90): O que nunca declina (physis)

§ 4 Os palavras fundamentais do pensamento originário

quinta-feira 8 de março de 2018, por Cardoso de Castro

Schuback

Se, ao invés da palavra negativa “o que a cada vez já não declina” e de sua decorrência, “o que nunca declina”, utilizarmos a versão afirmativa “o surgimento incessante”, fazemos uso de um modo de dizer também possível na língua de Heráclito  . Em grego “o surgimento incessante” é το άει φύον. Em lugar de tò φύον também se podería dizer ή φυσις, o que literalmente significa: surgir no sentido de provir do que se acha escondido, velado e encapsulado. (φυσις é a palavra fundamental no dizer dos pensadores originários.) Esse “surgir” toma-se imediatamente visível quando pensamos no surgimento da semente escondida dentro da terra, no rebento, no surgir dos brotos. A visão do nascer do sol, também, pertence à essência do surgimento. Podemos ainda pensar o surgir como quando o homem, concentrando o olhar, surge para si mesmo, como no discurso o mundo surge para o homem e com ele se reúne a fim de que o próprio homem se revele, como o ânimo se desdobra nos gestos, como sua essência persegue o desvelamento num jogo, como sua essência se manifesta na simples existência. Em toda parte — para não se falar do aceno dos deuses — dá-se um vigor recíproco de todas as “essências”, e em tudo isso o aparecimento, no sentido de mostrar-se a partir de e dentro de si mesmo. Isso é φύσις  . É, pois, um equívoco fundamental achar que o nomeado na palavra fundamental φυσις, no dizer dos pensadores originários, tenha se haurido em primeiro lugar da perspectiva do surgimento do grão, do surgimento das folhas, do nascer do sol, e que só depois se estendeu, de maneira correspondente, a todos os chamados processos naturais, até a sua transferência para os [101] homens e os deuses. E isso de tal maneira que, na perspectiva da φυσις, “os deuses e os homens” puderam ser representados “natura”listicamente. Como se aquilo que chamamos de natureza não se determinasse justamente porque não somos mais capazes de compreender a φυσις. A φυσις, o puro surgir, não é apenas uma abstração do âmbito restrito que denominamos natureza, e nem tampouco um traço essencial posteriormente transferido para os homens e os deuses. A φυσις diz, ao contrário, aquilo em meio ao que já muito antes o céu e a terra, o mar e as montanhas, a árvore e o animal, o homem e os deuses surgem e se mostram como o que surge, de maneira a serem chamados de “entes” nessa dimensão. O que para nós aparece como processos da natureza, para os gregos só se torna visível à luz da φυσις.

A moderna ciência da natureza faz uma experiência oposta a essa. Para ela, o surgimento de um grão, por exemplo, é um processo químico inserido no conjunto das forças e das unidades componentes de uma causalidade recíproca, mecanicamente entendida, entre a coisa semente, as propriedades do solo e a irradiação do calor. A representação moderna só consegue ver um sistema mecânico de causa e efeito entre processos químicos que têm por conseqüência determinados resultados. A moderna ciência da natureza, a química não menos do que a física, a biologia não menos do que a física e a química, enquanto existirem, são e permanecerão “mecânicas”. Mesmo a “dinâmica” é mecânica das “forças”. Pois, do contrário, como podería a ciência moderna ter-se “confirmado”, como se costuma dizer, na “técnica”? A efetivação e aplicação técnica da moderna ciência da natureza não é, porém, uma prova ulterior da “verdade” da ciência. A tecnologia prática da moderna ciência da natureza só é possível porque na essência metafísica, por ela mesma preparada, a ciência moderna como um todo não passa de uma aplicação da “técnica”, entendendo-se por técnica justamente aquilo que faz a engenharia. As célebres palavras de Goethe   que dizem que só o frutífero é verdadeiro já são niilismo. No dia em que tiver passado o tempo em que lidamos com obras de arte e poesia apenas para nos instruirmos historicamente e adquirirmos cultura, teremos [102] de olhar e ou vir com maior acuidade os nossos decantados clássicos. Em essência, a concepção de natureza de Goethe não é diferente da de Newton  . Ambas repousam sobre a metafísica moderna, em especial sobre a de Leibniz  , a qual permanece para nós, os de hoje, ainda presente em cada objeto e comportamento. Para a determinação objetiva e a moderna explicação do processo de floração, esse tipo de representação que ainda apreende, como nós, como surge e aparece surgindo algo velado, é inteiramente desprovido de conteúdo. É que para ela isso não passa de uma representação antiquada e semipoética. Tanto o químico agrícola como o físico moderno não podem fazer nada com a φύσις. Também seria completamente inútil tentar convencê-los de que com a experiência grega da φύσις poderiam “dar origem a alguma coisa”. A essência grega da φύσις não é, de forma alguma, a generalização aceita da experiência, hoje considerada ingênua, do surgimento de grãos e frutos e do nascer do sol. Ao contrário, a experiência originária do surgimento e proveniência a partir do que se vela e se encobre é que constitui a relação com a “luz”, em cuja claridade são constatadas a coisa semente e a coisa broto em seu surgimento, vendo-se, assim, o modo em que a semente “é” na semeadura, o broto “é” na brotação. (p. 101-103)

Original

Wenn wir uns dazu   verstehen  , statt des verneinenden Wortes von dem »ja nicht   Untergehen je« über die Wendung »das niemals Untergehen« die bejahende Wendung »das immerdar Aufgehen  « zu gebrauchen  , dann   sagen   wir in unserer Sprache ein Wort  , das einst auch Heraklit in seiner Sprache sehr wohl gesagt haben   könnte. »Das immerdar Aufgehen« heißt griechisch τό άεί φύον. Statt τό φύον könnte auch stehen   ή φύσις [1], was, wortgetreu gedacht, bedeutet: das Aufgehen im Sinne des Herkommens aus dem Verschlossenen und Verhüllten und Eingefalteten (φύσις ist das Grundwort im Sagen der anfänglichen Denker  ). Unmittelbar anschaulich   wird uns dieses »Aufgehen« im Aufgehen des in die Erde   versenkten Samenkorns, im Sprossen der Triebe, im Aufgehen der Blüte. Ferner weist der Anblick der aufgehenden Sonne   in das Wesen   des Aufgehens. Anders wiederum ist das Aufgehen in der Weise  , wie der Mensch   im Blick gesammelt aus sich hervorkommt, wie in der Rede   sich die dem Menschen aufgehende Welt   und in eins damit er selbst   sich enthüllt  , wie in der Gebärde das Gemüt   sich entfaltet, wie im Spiel   sein   Wesen ins Unverhüllte verrinnt, wie im einfachen Dastehen sein Wesen sich ausragt. Überall ist, um vom Grüßen der Götter   zu schweigen  , ein [88] wechselvolles Ein-ander-an-wesen aller »Wesen« und in all dem das Erscheinen   im Sinne des auf  - und hervorkommenden Sich-zeigens. Das ist φύσις. Deshalb ist es von Grund   aus irrig   zu meinen, das, was dieses Grundwort φύσις im Sagen der anfänglichen Denker nenne, sei zunächst   am Anblick des aufgehenden Keimes, des aufgehenden Gewächses, der aufgehenden Sonne abgelesen und sei dann erst entsprechend auf alle sogenannten Naturvorgänge erweitert und schließlich auf die Menschen und Götter übertragen worden, so daß   von der φύσις her gesehen »Götter und Menschen« noch in gewisser Weise »natur  «-haft vorgestellt werden  . Als ob nicht, was uns da »Natur« heißt, erst umgekehrt nur durch ein Nichtmehrverstehen der φύσις seine Bestimmung   erhalten hätte. Die φύσις, das reine Aufgehen, ist weder nur aus dem engeren Bezirk der von uns so genannten Natur abstrahiert, noch ist die φύσις nachträglich erst auf Menschen und Götter als Wesenszug übertragen, sondern die φύσις nennt das, worinnen zum voraus Erde und Himmel  , Meer und Gebirg, Baum und Tier  , Mensch und Gott Aufgehen und als Aufgehende dergestalt sich zeigen, so daß sie im Hinblick darauf als »Seiendes  « nennbar sind. Im Lichte der φύσις werden für die Griechen die von uns so genannten Naturvorgänge in der Weise ihres »Aufgehens« erst sichtbar.

Dagegen erfährt die moderne Naturwissenschaft z. B. das Aufgehen des Keimes als einen chemischen Prozeß, der eingeschoben ist in das Geschiebe und Gestänge der mechanisch   gesehenen Wechselwirkung des Samendinges und der Bodenbeschaffenheit und der Wärmestrahlung. Das neuzeitliche   Vorstellen   sieht in diesem Falle nur mechanische UrsacheWirkungszusammenhänge in chemischen Abläufen, die besondere Wirkungen zur Folge   haben. Die moderne Naturwissenschaft, die Chemie nicht weniger als die Physik  , die Biologie   nicht weniger als die Physik und Chemie, sind und bleiben, solange sie sind, »Mechanik«. Auch die »Dynamik« ist Mechanik der »Kräfte«. Wie anders sonst könnte die moderne [89] Naturwissenschaft, wie man sagt, in der »Technik  « sich »bestätigen? Die technische Auswirkbarkeit und Anwendbarkeit der modernen Naturwissenschaft ist aber nicht der nachträgliche Beweis der »Wahrheit  « der Wissenschaft  , sondern die praktische Technologie der modernen Naturwissenschaft ist nur deshalb möglich, weil die moderne Naturwissenschaft als Ganzes in ihrem metaphysischen Wesen selbst bereits nur eine Anwendung der »Technik« ist, wobei »Technik« etwas anderes meint als nur das, was die Ingenieure machen  . Das vielberufene Wort von Goethe, daß allein das Fruchtbare das Wahre sei, ist schon Nihilismus  . Wir müssen ja wohl eines Tages unsere sogenannten Klassiker uns genauer ansehen, wenn nämlich die Zeit   abgelaufen ist, in der wir nur noch bildungsmäßig und geistesgeschichtlich um Kunstwerke und Dichtungen herumspielen. So ist auch Goethes Naturanschauung im Wesen nicht verschieden von der Newtons; sie beruht mit dieser auf dem Grunde der neuzeitlichen, im besonderen Leibniz-schen Metaphysik  , die überall uns Heutigen noch in jedem Gegenstand   und jedem Verfahren Gegenwart   ist. Daß wir aber noch bei   der Betrachtung   eines Keimlings sehen  , wie Verschlossenes aufgeht und aufgehend hervorkommt, mag als veraltete und halbpoetische Vorstellung beiherspielen, für die gegenständliche Bestimmung und Erklärung   des modern gefaßten Keimungsvorgangs sind dergleichen Vorstellungen ohne Gehalt  . Der Agrikulturchemiker, aber auch der moderne Physiker, kann, wie die Redensart lautet, mit der φύσις nichts anfangen  . Es wäre auch ein törichter Versuch  , ihnen einreden zu wollen  , für sie ließe sich mit der griechischen Erfahrung   der φύσις »etwas anfangen«. Das griechische Wesen der φύσις ist nun freilich keineswegs die passende Verallgemeinerung der, von heute   aus gesehen, naiven Erfahrung des Aufgehens von Keimen und Blüten und des Aufgangs der Sonne, vielmehr ist umgekehrt die ursprüngliche Erfahrung des Aufgehens und des Hervorkommens aus dem Verborgenen und Verhüllten der Bezug   zu dem »Licht  «, in dessen Helle erst das sogenannte [90] Keimding und das Blütending in seinem Aufgehen festgehalten und darin die Weise gesehen wird, in der der Keim im Keimen, die Blüte im Blühen »ist«. (p. 87-90)


Ver online : PHYSIS


[1Vgl. Fragment 123.