Página inicial > Gesamtausgabe > GA40:158-160 – o homem é o que há de mais estranho

Introdução à Metafísica

GA40:158-160 – o homem é o que há de mais estranho

SER E PENSAR

domingo 1º de setembro de 2019, por Cardoso de Castro

Carneiro Leão

“Muitas são as coisas estranhas, nada porém
há de mais estranho do que o homem”.

Nesses dois primeiros versos já, de antemão, se esboça tudo aquilo que, durante todo o canto, procurar-se-á alcançar nos vários versos e esculpir na estrutura das palavras. Dito com uma palavra: o homem é to deinotaton o que há de mais estranho. Esse dizer concebe o homem pelos limites supremos e pelos abismos mais surpreendentes de seu ser. Essa surpresa e finitude nunca se tornarão visíveis aos olhos de uma mera constatação e descrição do que é objetivamente dado (Vorhandenes), ainda que fossem mil os olhos que quisessem encontrar no homem estados e propriedades. Tal ser só se revela e se abre a um projeto poético-pensante. Não se encontra nada de uma descrição de exemplares humanos, dados objetivamente, nem tão pouco uma exaltação ridiculamente cega da essência do homem de baixo para cima. A partir de um ressentimento insatisfeito, que procura agarrar-se a uma importância, cuja ausência se ressente. Nada da sobranceria de uma personalidade. Entre os gregos não há ainda personalidade (por isso também nada de super-pessoal (über-persoenlich) . O homem é to deinotaton, o que há de mais estranho no estranho. A palavra grega deinon  , como a nossa tradução, necessitam aqui uma explicação prévia. Essa só poderá ser dada a partir de uma previsão inexpressa de todo o canto, que é a única coisa que dá uma interpretação adequada para os dois primeiros versos. A palavra grega deinon é ambígua: oscila naquela estranha ambiguidade, com que o dizer dos gregos percorria as disposições contrapostas do Ser (die gegenwendigen Aus-einander-setzungen des Seins).

Uma vez deinon significa o terrível, não porém os pequenos temores e, muito menos ainda, possui aquela significação decadente, néscia e inútil, em que se usa hoje a palavra, quando se diz “terrivelmente belo”. Deinon é o terrível no sentido do vigor predominante (überwaeltigendes Walten  ), que provoca, simultaneamente e de modo igual, tanto o terror do pânico, a verdadeira angústia, como o temor concentrado, quieto, que vibra em si mesmo. A violência predominante é o caráter essencial do próprio vigor que impera (Walten) . Onde esse irrompe, pode reter em si o seu poder subjugador. Todavia não se torna, por isso, mais inofensivo e sim ainda mais terrível e distante.

Outra vez, deinon significa o vigoroso no sentido daquele que usa o vigor da violência. Que não apenas dispõe de violência mais instaura o vigor da violência. (Gewalt  -tätig), enquanto o emprego de violência constitui a feição fundamental, não de seu agir, mas de sua existência. A palavra, “instaurar o vigor da violência” damos aqui um sentido essencial, que em princípio transcende o significado corrente segundo o qual indica, às mais das vezes, arbítrio e crueldade. Assim a violência do vigor é considerada dentro de um âmbito em que o critério da existência é dado pelo acôrdo e contrato de equiparação e mútua assistência e, em consequência, se despreza, necessariamente, toda e qualquer violência, como simples perturbação e violação.

Como vigor imperante, o ente em sua totalidade é o que impõe o vigor, que subjuga (das Überwältigende), o deinon no primeiro sentido. O homem, porém, é deinon uma vez, porquanto permanece ex-posto a esse vigor imposto, visto que pertence em sua essencialização ao Ser; outra vez, é deinon, por ser o que instaura o vigor da violência no sentido indicado em segundo lugar. (Ele colige o vigor imperante da violência e permite manifestar-se). A instauração do vigor não é uma atividade a mais e ao lado de outras, mas o homem é essa instauração no sentido de que, no fundo e em sua existência, deixa imperar o vigor, usando de violência contra a imposição e o jugo do próprio vigor (gegen das Überwältigende) . Destarte, por ser duplamente deinon num sentido originariamente unitário, o homem é to deinotaton, o mais vigoroso: o que instaura vigor no meio do vigor que impõe o seu jugo (gewalt-tätig innitten des Überwältigenden).

Mas, por que então traduzimos deinon por “estranho"? Não foi certamente para encobrir e diminuir o sentido do vigorante, do que impõe o jugo de seu vigor, nem também da existência vigorosa. Muito pelo contrário. Posto que o deinon se diz, no mais alto grau de potenciação e conjugação, do ser do homem, por isso a essencialização do ser assim determinado tem que tornar-se logo visível numa perspectiva decisiva. Todavia essa caracterização do vigente e vigorante, como o estranho, não será uma determinação suplementar e supletiva, a saber, com vistas à ação que sobre nós exerce o vigor, enquanto se trata precisamente de compreender o deinon, como e naquilo que ele é em si mesmo? Mas nós aqui não entendemos “estranho” no sentido de uma impressão causada em nossos estados emocionais .

"Estranho” entendemos como o que sai e se retira do ’’familiar” (das Heimliche) i.é daquilo que nos é caseiro, íntimo, habitual, não ameaçado. O estranho não nos deixa estar em casa. Nisso reside o vigor que se impõe e subjuga (das Überwältigende) . O homem é o que há de mais estranho, não só porque conduz o seu ser no meio do estranho, assim entendido, mas por afastar-se e sair dos limites, que constituem, em primeiro lugar e às mais das vezes, a sua paisagem caseira e habitual, por transpor como o que instaura vigor, as raias do familiar e se aventurar justamente na direção do estranho no sentido do vigor que se impõe.

Para se avaliar, porém, em todo o seu alcance e importância, essa palavra sobre o homem, temos também de levar em conta, que ela não pretende atribuir-lhe simplesmente uma propriedade especial, como se o homem, além de ser o que há de mais estranho ainda fosse outras coisas. Ela diz, ao contrário, que ser o mais estranho é o feitio fundamental da Essencialização o homem, no qual se inscrevem cada vez, sempre e necessariamente todos os demais traços e caracteres. A afirmação, ” o homem é o que há de mais “estranho”, dá a definição propriamente grega do homem. Só atingiremos completamente o acontecer dessa estranheza na medida em que também fizermos experiência do poder da aparência e do combate com ela, como pertencente à essencialização da existência. [GA40CL:171-174]

Ackermann Pilári

«Muchas cosas son pavorosas; nada, sin embargo, sobrepasa al hombre en pavor.»

En estos dos primeros versos se anticipa a todo el canto siguiente lo que éste trata de alcanzar en lo particular de su discurso y que debe someter a la articulación de las palabras. Expresado en una palabra: el hombre es tó δεινότατον, lo más pavoroso. Este decir capta al hombre desde los límites más extremos y desde los escarpados abismos de su ser. Esta brusquedad y finitud jamás se hace visible a la mirada que meramente describe y constata lo materialmente existente, aunque fuesen mil ojos los que quisieran buscar las cualidades y condiciones del hombre. Sólo a un proyecto poético y pensante se le revela un tal ser. Nada encontramos de una descripción de individuos humanos concretos, como tampoco apreciamos ningún ciego y bobo encumbramiento de la esencia del hombre visto desde abajo, desde el resentimiento insatisfecho que busca ávidamente cierta importancia que echar de menos; nada hay que sobresalga de una personalidad precisa. Entre los griegos aún no había personalidades [y por eso tampoco nada supra-personal]. El hombre es τό δεινοτατον, lo más pavoroso de lo pavoroso. La palabra griega δεινόν y nuestra traducción exigen aquí una aclaración previa. Sólo la podemos dar a partir de una tácita y anticipadora visión de la totalidad del canto, que es lo único que por sí mismo se ofrece como la interpretación adecuada de los dos primeros versos. La palabra griega δεινόν es ambigua, tiene aquella pavorosa ambigüedad con la que el decir de los griegos recorría en direcciones opuestas los enfrentamientos con el ser.

En un sentido, δεινόν significa lo terrible, pero no los pequeños temores y, menos aún posee esa significación decadente, necia e inutilizable con la que entre nosotros se emplea hoy en día esa palabra al decir «terriblemente bonito». El δεινόν es lo terrible en el sentido del imperar que somete <überwältigt>, que impone el pánico, la verdadera angustia y también la intimidación concentrada y callada que se agita en sí misma. La violencia, lo que somete, constituye el carácter esencial del imperar mismo. Allí donde irrumpe, puede retener en sí mismo su poder sometedor. Pero no por eso es más inofensivo sino todavía más terrible y más extraño.

En otro sentido, δεινόν significa violencia, en el sentido de que aquel que la usa no sólo dispone de ella sino que es violento.en la medida en que el empleo de la violencia para él no sólo constituye un rasgo fundamental de su conducta sino de toda su existencia. Damos aquí un sentido esencial a las palabras «actitud violenta» , que sobrepasa radicalmente la significación habitual según la cual éstas a menudo quieren decir mera rudeza y arbitrio. La violencia, en este sentido, es considerada desde el ámbito en el cual el criterio del ex-sistir se basa en el convenio establecido sobre la base de la igualdad y la mutua asistencia y [138] conforme al cual toda violencia es necesariamente despreciable, entendida únicamente como molestia y ofensa.

El ente en su totalidad, en tanto lo que impera, es lo que somete causando pavor, δεινόν, en el primer sentido. Pero el hombre es δεινόν, por un lado, cuando permanece expuesto a lo que lo somete ya que pertenece esencialmente al ser y, por otro, es δεινόν porque es el que hace violencia en el sentido antes caracterizado. [Junta lo que impera y lo deja entrar en un estado manifiesto.] El hombre no hace violencia además y al lado de otras acciones, sino sólo en el sentido de que a causa de su actividad violenta y con ella, usa la violencia contra lo que lo somete. Porque él es doblemente δεινόν, en un sentido originariamente único, es tö δεινοτατον, lo más poderoso: el que hace violencia en medio del poder somete-dor.

Mas ¿por qué hemos traducido δεινόν por «pavoroso» ? No para encubrir ni debilitar el sentido de la violencia, de lo que somete o de la actividad violenta; todo lo contrario. Puesto que δεινόν se dice del ser del hombre en tanto supremo encumbramiento y vínculo consigo mismo, haremos visible la esencia del ser así determinada desde la perspectiva decisiva. No obstante, la caracterización de la violencia como lo pavoroso ¿no sería, acaso, una determinación suplementaria, es decir, relativa al modo en que lo violento actúa sobre nosotros, mientras que se trataría precisamente de entender el δεινον tal como es en sí mismo? Pensamos lo pavoroso, sin embargo, en el sentido de una impresión causada en el estado de nuestros sentimientos.

Entendemos lo pavoroso como aquello que nos arranca de lo familiar , es decir, de lo doméstico, habitual, corriente e inofensivo. Lo pavoroso no nos permite permanecer en nuestra propia tierra . En esto reside lo sometedor. Pero el hombre es lo más pavoroso no sólo porque su esencia transcurre en medio de lo pavoroso así entendido, sino porque se pone en camino y trasciende los límites que inicialmente y a menudo le son habituales y familiares. Porque él, entendido como el que hace violencia, sobrepasa los límites de lo familiar, siguiendo justamente la dirección de lo pavoroso o no-familiar, entendido como poder sometedor.

Para entender en todo su alcance estas palabras del coro acerca del hombre, debemos tener en cuenta que la expresión que caracteriza al hombre como το δεινοτατον, lo más pavoroso, no pretende atribuirle una cualidad especial, como si por lo demás fuese otra cosa. Antes bien, esa palabra significa que ser lo más pavoroso constituye el rasgo fundamental de la esencia del hombre, en el cual se inscribirán desde y hasta siempre todos los demás rasgos. La sentencia: «el hombre es lo más pavoroso» nos brinda la definición auténticamente griega del hombre. Sólo alcanzaremos del todo el acontecer de lo pavoroso cuando experimentemos al mismo tiempo el poder de la aparienciay el combate contra ella dentro de su esencial pertenencia a la existencia. [GA40AAp:137-140]

Fried & Polt

Manifold is the uncanny, yet nothing
uncannier than man bestirs itself, rising up beyond him.

These first two verses cast forth what the following ode as a whole will seek to capture in the details of its saying, and which it must fit into the structure of the word. The human being is, in one word, to deinotaton, the uncanniest. This saying about humanity grasps it from the most extreme limits and the most abrupt abysses of its Being. This abruptness and ultimacy can never be seen by eyes that merely describe and ascertain something present at hand  , even if a myriad such eyes should want to seek out human characteristics and conditions. Such Being opens itself up only to poetic-thoughtful projection. We find no delineation of present-at-hand exemplars of humanity, no more than we find some blind and foolish exaltation of the human essence from beneath, from a dissatisfied peevishness that snatches at an importance that it feels is missing. We find no glorified personality. Among the Greeks there were no personalities yet [and thus nothing suprapersonal either] , [1] The human being is to deinotaton, the uncanniest of the uncanny. The Greek word deinon and our translation call for an advance explication here. This explication is to be given only on the basis of the unspoken prior view of the entire ode, which itself supplies the only adequate interpretation   of the first two verses. The Greek word deinon has that uncanny ambiguity with which the saying of the Greeks traverses the opposed con-frontations of Being.

On the one hand, deinon names the terrible, but it does not   apply to petty terrors and does not have the degenerate, childish, and useless meaning that we give the word today when we call something “terribly cute.” The deinon is the terrible in the sense of the overwhelming sway, which induces panicked fear, true anxiety, as well as collected, inwardly reverberating, reticent awe. The violent, the overwhelming is the essential character of the sway itself. [2] When the sway breaks in, it can keep its overwhelming power to itself. But this does not make it more harmless but only more terrible and distant.

But on the other hand, deinon means the violent in the sense of one who needs to use violence — and does not just have violence at his disposal but is violence-doing, insofar as using violence is the basic trait not just of his doing but of his Dasein  . Here we are giving the expression “doing violence” an essential sense that in principle reaches beyond the usual meaning of the expression, which generally means nothing but brutality and arbitrariness. Violence is usually seen in terms of the domain in which concurring compromise and mutual assistance set the standard for Dasein, and accordingly all violence is necessarily deemed only a disturbance and offense.

Beings as a whole, as the sway, are the overwhelming, deinon in the first sense. But humanity is deinon, first, inasmuch as it remains exposed to this overwhelming sway, because it essentially belongs to Being. However, humanity is also deinon because it is violence-doing in the sense we have indicated. [It gathers what holds sway and lets it enter into an openness.] [3] Humanity is violence-doing not in addition to and aside from other qualities but solely in the sense that from the ground up and in its doing violence, it uses violence against the over-whelming. Because it is doubly deinon in an originally united sense, it is to deinotaton, the most violent: violence-doing in the midst of the overwhelming.

But why do we translate deinon as “un-canny”? [4] Not in order to cover up or weaken the sense of the violent, the overwhelming and the violence-doing; quite the contrary. Deinon applies most intensely and intimately to human Being; thus, the essence of this Being that is determined as deinon should come directly into view in its decisive aspect. But then, is the characterization of the violent as the uncanny not precisely a derivative determination — that is, determined in terms of how the violent affects us — while the point is precisely to understand what the deinon is, as it is in itself? But we do not mean the uncanny in the sense of an impression made on our emotional states.

We understand the un-canny as that which throws one out of the “canny” that is, the homely, the accustomed, the usual, the unendangered. The unhomely does not allow us to be at home. [5] Therein lies the over-whelming. But human beings are the uncanniest, not only because they spend their lives essentially in the midst of the un-canny understood in this sense, but also because they step out, move out of the limits that at first and for the most part are accustomed and homely, became as those who do violence, they overstep the limits of the homely, precisely in the direction of the uncanny in the sense of the overwhelming.

But in order to measure this word of the chorus about the human in its entire scope, we must at the same time consider that this word, that the human is to deinotaton, the uncanniest, does not intend to assign the human a particular property, as if the human were something else in addition; instead, the word says: to be the uncanniest is the basic trait of the human essence, into which every other trait must always be drawn. The saying “the human being is the uncanniest” provides the authentic Greek definition   of humanity. We first press forward fully to the happening of un-canniness when we experience the power of seeming together with the struggle against seeming in its essential belonging to Dasein. [GA40FP:159-162]

Original

»Vielfältig das Unheimliche, nichts   doch
über den Menschen hinaus Unheimlicheres ragend sich regt.«

In diesen beiden ersten Versen wird dem ganzen folgenden Gesang das vorausgeworfen, was er in seinem einzelnen Sagen   einzuholen sucht und in das Gefüge des Wortes bannen muß. Der Mensch   ist mit einem Wort   τὸ δεινότατον, das Unheimlichste. Dieses Sagen vom Menschen faßt ihn von den äußersten Grenzen und den jähen Abgründen seines Seins. Dieses Jähe und Endhafte wird niemals den Augen bloßer Beschreibung   und Feststellung eines Vorhandenen sichtbar, und wären es abertausend Augen, die am Menschen Beschaffenheiten und Zustände aufsuchen wollen  . Nur dem dichterisch-denkerischen Entwurf   eröffnet sich solches Sein  . Nichts finden wir von einer Abschilderung vorhandener Exemplare von Menschen, aber ebensowenig irgendeine blind-blöde Übersteigerung des Menschenwesens von unten her, aus einer unzufriedenen Verdrießlichkeit, die nach einer vermißten Bedeutendheit schnappt, nichts von dem Überragenden einer Persönlichkeit  . Bei   den Griechen gab es noch keine Persönlichkeiten [und darum auch kein Über-Persönliches]. Der Mensch ist τὸ δεινότατον, das Unheimlichste des Unheimlichen. Das griechische Wort δεινόν und unsere Übersetzung   verlangen   hier im voraus eine Erläuterung  . Sie ist nur aus dem unausgesprochenen Vorblick auf   den ganzen Gesang zu geben, der selbst   und allein die angemessene Auslegung zu den beiden ersten Versen darstellt. Das griechische Wort δεινόν ist in jener unheimlichen Zweideutigkeit   zweideutig, mit der das Sagen der Griechen die gegenwendigen Aus-einander-setzungen des Seins durchmißt.

Einmal nennt δεινόν das Furchtbare, aber nicht für kleine Furchtsamkeiten oder gar in jener verfallenen, läppischen und nichtsnutzigen Bedeutung  , in der man heute   bei uns das Wort gebraucht, indem man »furchtbar   niedlich« sagt. Das δεινόν ist das Furchtbare im Sinne des überwältigenden Waltens, das in gleicher Weise   den panischen Schrecken, die wahre Angst   erzwingt wie die gesammelte, in sich   schwingende, verschwiegene Scheu. Das Gewaltige, das Überwältigende ist der Wesenscharakter des Waltens selbst. Wo dieses hereinbricht, kann es seine überwältigende Macht   an sich halten  . Aber dadurch wird es nicht harmloser, sondern nur noch furchtbarer und ferner.

Zum anderen   aber bedeutet δεινόν das Gewaltige im Sinne dessen, der die Gewalt braucht, nicht nur über Gewalt verfügt, sondern gewalt-tätig ist, insofern ihm das Gewaltbrauchen der Grundzug seines Tuns nicht nur, sondern seines Daseins ist. Wir geben hier dem Wort Gewalt-tätigkeit einen wesenhaften Sinn, der grundsätzlich über die gewöhnliche Bedeutung des Wortes hinausreicht, gemäß der es meist soviel wie bloße Roheit und Willkür meint. Die Gewalt wird dann   aus dem Bereich her gesehen, in dem die Verabredung auf Ausgleich und gegenseitige Versorgung den Maßstab des Daseins abgibt und demgemäß jede Gewalt notwendig nur als Störung und Verletzung abgeschätzt ist.

Das Seiende   im Ganzen ist als Walten das Überwältigende, δεινόν in dem ersten Sinne. Der Mensch aber ist δεινόν einmal, sofern er in dieses Überwältigende ausgesetzt bleibt, weil er nämlich wesenhaft in das Sein gehört. Der Mensch ist aber zugleich δεινόν, weil er der Gewalt-tätige in dem gekennzeichneten Sinne ist. [Er versammelt das Waltende und läßt es in eine Offenbarkeit   ein.] Der Mensch ist der Gewalt-tätige nicht außer und neben anderem, sondern allein in dem Sinne, daß   er aufgrund und in seiner Gewalt-tätigkeit gegen das Über-wälti-gende Gewalt braucht. Weil in einem ursprünglich   einigen Sinne zwiefach δεινόν, ist er τὸ δεινότατον, das Gewaltigste: gewalt-tätig inmitten des Überwältigenden.

Warum   übersetzen wir aber δεινόν durch »un-heimlich«? Nicht um den Sinn des Gewaltigen, des Überwältigenden sowohl wie des Gewalt-tätigen, zu verdecken   oder gar abzuschwächen; ganz im Gegenteil. Weil das δεινόν in der höchsten Steigerung und Verkoppelung vom Sein des Menschen gesagt wird, soll das Wesen   des so bestimmten Seins sogleich aus der entscheidenden Hinsicht   in den Blick kommen  . Doch ist dann nicht gerade die Kennzeichnung des Gewaltigen als des Unheimlichen eine nachträgliche Bestimmung  , nämlich in Rücksicht darauf, wie das Gewaltige auf uns wirkt, während es doch gerade darauf ankommt, das δεινόν zu verstehen  , wie und was es in sich ist? Aber wir meinen das Unheimliche nicht im Sinne eines Eindrucks auf unsere Gefühlszustände.

Das Un-heimliche verstehen wir als jenes, das aus dem »Heimlichen«, d. h. Heimischen, Gewohnten, Geläufigen, Ungefährdeten herauswirft. Das Unheimische läßt uns nicht einheimisch sein. Darin liegt das Über-wältigende. Der Mensch aber ist das Unheimlichste, weil er nicht nur inmitten des so verstandenen Un-heimlichen sein Wesen verbringt, sondern weil er aus seinen zunächst   und zumeist gewohnten, heimischen Grenzen heraustritt, ausrückt, weil er als der Gewalt-tätige die Grenze   des Heimischen überschreitet, und zwar gerade in der Richtung   auf das Unheimliche im Sinne des Überwältigenden.

Um aber dieses Wort des Chores über den Menschen in seiner ganzen Tragweite zu ermessen, müssen wir zugleich bedenken: Dieses Wort, daß der Mensch τὸ δεινότατον, das Unheimlichste sei, will ihm nicht eine besondere Eigenschaft   zusprechen, gleich   als sei der Mensch sonst noch etwas anderes; vielmehr sagt das Wort: das Unheimlichste zu sein, ist der Grundzug des Menschenwesens, in den je und immer alle anderen Züge eingezeichnet werden   müssen. Der Spruch: »der Mensch ist das Unheimlichste«, gibt die eigentliche griechische Definition des Menschen. Zu dem Geschehnis der Un-heimlichkeit dringen wir erst ganz vor, wenn wir zugleich die Macht des Scheins und den Kampf   mit ihm in seiner Wesenszugehörigkeit zum Dasein erfahren  . [GA40  :158-160]


Ver online : INTRODUCTION À LA MÉTAPHYSIQUE


[1In parentheses in the 1953 edition.

[2There is a close etymological connection among das Gewaltige (the violent), das Überwältigende (the overwhelming), and das Walten (the sway). See walten in German-English Glossary and Translators’ Introduction, p. xiii.

[3In parentheses in the 1953 edition.

[4“Uncanny” translates unheimlich, which is based on the root Heim, or home. (“Canny,” like the German heimlich, can mean “snug and cozy.” The root of “canny” is “can” in the obsolete sense of “know.” What is uncanny is unfamiliar, beyond our ken, and thus unsettling.)

[5“Homely” translates heimisch, meaning “domestic.” “At home” translates einheimisch.