Na sua analítica existencial, na primeira parte em que o filósofo faz a análise do Dasein e expõe as características que são chamadas existenciais ou as categorias do Dasein, ele introduz um tipo de concepção na qual distingue a dimensão das coisas disponíveis e das coisas simplesmente existentes. Essa distinção é concebida de tal maneira que só tem sentido se feita a partir do Dasein, portanto a partir do ser-aí.
Heidegger dirá: a partir da pergunta pelo sentido do ser, o ser-aí se compreende em seu ser na sua radicalidade. Com Leibniz o filósofo pergunta: Por que algo é, quando tudo podia não ser? Tal pergunta somente o ser humano pode fazer. E ela é a pergunta paradigmática da condição de finitude.
Dessa maneira, Heidegger irá construir o núcleo de seu paradigma. Tal núcleo pode ser descrito de muitos modos, mas fundamentalmente será construído a partir da ideia de que o determinante vem do Dasein como um [68] modo de ser-no-mundo. Esse modo de ser-no-mundo é o cuidado, a cura, ou, então, a preocupação, que é o ser do ser-aí. Ele é dotado, por sua vez, de temporalidade, que é o sentido do ser do ser-aí. Somente a partir da temporalidade (Zeitlichkeit ) como sentido do ser do ser-aí é possível pensar as coisas no tempo, mas numa temporariedade (Temporalität) que deriva da temporalidade com características existenciais. Isso, no entanto, se dá no espaço em que acontece o Dasein, em que acontece o ser-aí. A própria ideia do Dasein, do ser-aí, do aí, significa que ele está limitado, que ele está como finito no mundo. Heidegger dirá que o Dasein é futuro-passado-presente, no sentido de que ainda que ele se agarre ao presente, nesse presente já sempre está implícita a ideia da faticidade à qual se liga a ideia de hermenêutica. A ideia de futuro não é o futuro no qual vamos morrer, onde terminamos, etc., é o futuro que nos move agora no presente, por isso o Dasein é ser-para-a-morte enquanto ser-no-mundo.
Assim, somos futuro, passado e presente num único movimento. Somos, como afirma o filósofo definindo o conceito de cuidado’. Sempre um adiante-de-nós, já-no-mundo, junto-das-coisas. Essa tríplice dimensão do cuidado, ligada à tríplice dimensão da estrutura da temporalidade, é que dará a Heidegger o conceito fundamental de finitude. Este conceito, por sua vez, estaria consolidado se, na crítica a Husserl , ele não desse prevalência ao conceito de possibilidade. O ser humano é um ser possível (poder-ser), ele não é um ser efetivo, ele é um poder-ser. Enquanto ser-para-a-morte e enquanto faticidade ele já é sempre determinadas possibilidades. O passado é uma possibilidade que já foi. O futuro, o ser-para-a-morte, é a última possibilidade ou a impossibilidade de qualquer nova possibilidade.
O ser humano, portanto, é colocado como possibilidade. Isso parece ser uma questão central. É uma questão essencial porque aí se põe a possibilidade como um poder-ser, como um poder-saber de si e só isso, como um ter-que-ser, como um to be or not . Assumimos o nosso ter-que-ser como um poder-ser ou então renunciamos à condição humana.