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Bedingung der Möglichkeit

sexta-feira 7 de julho de 2023

Bedingung der Möglichkeit  , condition de possibilité, condição de possibilidade, condition of the possibility

Vemos que, na história da proveniência do pensamento do valor, a transformação da idea   em perceptio é decisiva. E somente por meio da metafísica da subjetividade que o traço essencial de início ainda encoberto e retido da idea – ser o elemento possibilitador e condicionante – é liberado e colocado, então, em jogo de uma maneira desobstruída. O mais íntimo da história da metafísica moderna consiste no processo por meio do qual o ser obtém o traço essencial inconteste de ser condição de possibilidade do ente, isto é, dito em termos modernos, do re-presentado, daquilo que se encontra contraposto, ou seja, dos objetos. O passo decisivo nesse processo foi dado pela metafísica de Kant  . No interior da metafísica moderna, a metafísica kantiana não é apenas o ponto central em termos cronológicos, mas também em termos histórico-essenciais; e isso segundo o modo como nela o começo junto a Descartes   é acolhido e transformado na confrontação com Leibniz  . A posição metafísica fundamental de Kant é exposta no princípio que o próprio Kant define na Crítica da razão pura como o princípio supremo de sua fundamentação da metafísica (A 1 58, B 197). O princípio diz: “As condições de possibilidade da experiência em geral são ao mesmo tempo as condições de possibilidade dos objetos da experiência.”

Denomina-se aqui, expressa e normativamente, “condições de possibilidade” aquilo que Aristóteles   e Kant chamam de “categorias”. De acordo com a explicitação dada anteriormente por nós sobre essa noção, o que se tem em vista com as categorias são as determinações essenciais do ente enquanto tal, isto é, a entidade, o ser; aquilo que Platão   concebe como “ideias”. Segundo Kant, o ser é a condição de possibilidade do ente, ele é a sua entidade. Nesse caso, em sintonia com a posição fundamental moderna, entidade e ser designam a representidade, o caráter daquilo que se encontra contraposto (objetividade).[[Uma vez mais vimo-nos obrigados a verter acima o termo Gegenstand   por “aquilo que se encontra contraposto”. Na passagem, Heidegger justapõe dois vocábulos que são normalmente traduzidos pelo mesmo correlato em português: tanto Gegenstãndlichkeit quanto Objektivitãt são traduzidos de maneira corrente por objetividade. (N.T. Casanova  ) O princípio supremo da metafísica kantiana diz: as condições de possibilidade do ato de re-presentar o re-presentado são ao mesmo tempo, isto é, não são outra coisa senão as condições de possibilidade do representado. Elas constituem a representidade; essa representidade, porém, é a essência da objetividade, e esta, a essência do ser. O princípio diz: o ser é re-presentidade. Re-presentidade, no entanto, é o ter-sido-apresentado de tal modo que aquele que representa pode estar seguro do que é assim posicionado e possuir uma posição. A segurança é buscada na certeza. Essa certeza determina a essência da verdade. O fundamento da verdade é o re-presentar, isto é, o “pensar” no sentido do ego cogito  , ou seja, do cogito me cogitare. A verdade enquanto representidade do objeto, a objetividade, possui o seu fundamento na subjetividade, no re-presentar que se representa; isso se dá, contudo, porque o próprio representar é a essência do ser. [GA6PT  ]


VIDE: Bedingung der Möglichkeit

condition de la possibilité [ETEM]
condition of possibility [BTJS  ]

NT: Condition of possibility, (Bedingung der Möglichkeit), 11 (a priori  ), 13 (ontic-ontological), 19, 37 (through hermeneutics), 38, 53 (mineness as), 75 (unthematized world as), 83 (reference as), 85 (relevance as), 87-88, 103, 125, 145 (possibility), 193, 199 (care as), 204 (Kant on), 223 (project as), 226 (primordial truth as), 260, 263, 267, 280, 286 (being-guilty as), 306 n. 2 (for state of corruption), 317 (care as), (324), 333 (primordial time as), 339, 347, 350-351 (temporal   clearing as), 353, 357, 360, 364-365 (temporal horizon   as), 367, 372, 375, 382, 385, 413, 417, 419, 424-425, 430 (Hegel  ); Dasein   as, 13, 38, 87-88; temporality as, 19, 324, 333, 350-351, 364-365 (of world, transcendence), 372 (of care), 417; ontic, 38, 85, 87-88; existential, 125, 193, 199, 223, 260, 280, 286, 339, 353, 357; ontological, 193, 223, 267, 306 n. 2, 350, 382, 385; existential-temporal, 347, 360, 365, 367, 375. See also Clearing; Ground; Horizon; Possibility; Temporality [BTJS]


Algo é a “condição de possibilidade” de algo: p.ex., “A questão do ser pretende atingir uma condição a priori da possibilidade das ciências […]” (SZ, 11). Heidegger também fala da possibilidade “interna”, em contraste com a possibilidade “externa”, por exemplo, física: “Até que ponto a possibilidade interna de uma coisa tal como o solo encontra-se na transcendência?” (GA10  , 100). A questão kantiana “Como x é possível?” possui duas aplicações: (a) Heidegger começa com uma concepção [Begriff  ] comum, p.ex., a verdade [Wahrheit  ] como a correção [Richtigkeit  ] de uma proposição [Satz  ] ou a ciência [Wissen  ] como um sistema de proposições, e argumenta que, neste sentido, verdade ou ciência não são possíveis a não ser que postulemos uma concepção mais profunda sobre elas, da qual se origina a concepção habitual (SZ, 153ss; GA27  , 238). (b) Um fenômeno [Phänomen  ] respeitável segundo Heidegger torna possível um outro: p.ex., a temporalidade [Zeitlichkeit  ] é a “condição ontológica de possibilidade” do ser-no-mundo [In-der-Welt-sein  ] (SZ, 350). SZ passa de um fenômeno para a sua condição. “Nós não indagamos sobre o que precisa ser atual para que algo mais seja atualizado, mas sobre o que precisa ser possível para que algo mais seja possível” (GA27, 87). Posteriormente, Heidegger passa a desconfiar da expressão “condição de possibilidade”: rejeita (i) a visão kantiana e de modo geral metafísica de que o ser [Sein  ] é a condição de possibilidade dos entes (GA65  , 183/289), posição que precede a identificação do ser com “valor” [Wert  ] (GA6T2, 338/niv, 201), e (ii) o procedimento de passar dos entes [Seinede] ao ser, preferindo “captar a verdade do ser a partir de sua própria essência” (GA65, 250). DH  :147]