Heidegger, fenomenologia, hermenêutica, existência

Dasein descerra sua estrutura fundamental, ser-em-o-mundo, como uma clareira do AÍ, EM QUE coisas e outros comparecem, COM QUE são compreendidos, DE QUE são constituidos.

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filosofia da cultura

quarta-feira 13 de dezembro de 2023

[…] Nós mesmos, porém, não somos de modo algum tocados por esta determinação de nosso lugar levada a termo segundo o ponto de vista histórico-mundial – para não falar em sermos tomados por ela: por este computo e por este balanço de como se encontram as coisas em nossa cultura. Em contrapartida, o todo produz sensação: o que sempre significa um aquietamento não declarado, e, de qualquer modo, uma vez mais aparente, mesmo que também de um tipo apenas literário e de uma vitalidade fugaz característica. Toda esta postura do diagnóstico cultural descompromissado, e, por isso mesmo, interessante, torna-se ainda mais estimulante pelo fato de ela se formar e transformar, expressamente ou não, em prognóstico. Qual entre os homens não gostaria de saber o que está por vir para poder se preparar para ele: para, em relação ao presente, ser menos molestado, incomodado e importunado?!? Estes diagnósticos histórico-mundiais não nos alcançam, eles não representam nenhum incômodo para nós. Eles cortam, sim, muito mais nossos liames com nós mesmos e nos projetam até nós mesmos através de uma situação e de um papel histórico mundiais. Estes diagnósticos e prognósticos culturais são típicas cunhagens do que se denomina “FILOSOFIA DA CULTURA” [Kulturphilosophie  ] e do que se torna vigente em múltiplos subtipos mais fracos e mais fantasiosos. Esta FILOSOFIA DA CULTURA não nos apreende em nossa situação atual, mas só é capaz de ver quando muito o atual: o atual totalmente sem nós, o atual que nada mais é do que o eterno “de-ontem”. Nós caracterizamos intencionalmente estas interpretações de nossa conjuntura através de palavras de origem estrangeira [“Diagnose” e “Prognose”] – diagnóstico e prognóstico – porque elas não têm sua essência em um florescimento originário, mas conduzem uma existência literária – ainda que de modo nada casual. [tr. Casanova  ; GA29-30  :111-112]


A cultura, todavia, é justamente a expressão de nossa alma – sim, é mesmo uma opinião   difundida hoje em dia, que exatamente sob o fio condutor da ideia de expressão, de símbolo, tanto a cultura quanto o homem no interior da cultura podem ser apreendidos de modo próprio e unicamente filosófico. Temos hoje uma FILOSOFIA DA CULTURA calcada na expressão, no símbolo, nas formas simbólicas, um homem enquanto alma e espírito, o que se expressa, cai por terra em figuras que trazem em si uma significação e que em função desta significação entregam um sentido ao ser-aí que está se expressando. Este é, grosso modo, o esquema para a FILOSOFIA DA CULTURA atual. Aqui também, uma vez mais, tudo é quase correto até o ponto essencial. Só que precisamos perguntar novamente: esta consideração do homem é uma consideração essencial? O que acontece, abstraindo-se totalmente da classificação filosófico-cultural do homem no interior da cultura, no interior destas interpretações? O homem talvez mesmo o homem atual – é apresentado, assim, a partir da expressão de seus empreendimentos. E, contudo, a pergunta persiste: esta apresentação do homem alcança e detém o seu ser-aí? Ela o leva a ser? Será que esta a-presentação orientada pela expressão não apenas erra o alvo quanto à essência do homem, mas tem de necessariamente errar este alvo – e isto abstraindo-se totalmente da estética? Em outras palavras: esta filosofia só chega à a-presentação do homem, mas nunca a seu ser-aí. Ela não apenas não chega faticamente até o ser-aí, mas necessariamente não está em condições de chegar até ele, uma vez que obstrui para si mesma o caminho até lá. [tr. Casanova; GA29-30:113]