Erinnerung, Wiedererinnerung

relembrança, re-visão [GA19  ]

No sentido de Platão, e isso significa pensar de modo grego, a referência ao ser do ente é, pois, anamnesis. Geralmente traduz-se a palavra por “lembrança” ou “recordação”. Com esse tipo de tradução tudo se reduz ao “psicológico” e não se capta a referência à essência da idea. A tradução de anamnesis por “recordação” leva a achar que aqui se trata apenas de alguma coisa “esquecida” [Vergessen] que volta de novo para a mente. Entretanto, sabemos, neste meio tempo, que os gregos experimentam o esquecer e esquecimento como um acontecimento em que o ente se retrai e encobre seu próprio ser; também o assim chamado “lembrar-se” ou “recordar-se” fundamenta-se no desencobrimento [Unverborgenheit] e no descobrimento [Entbergung].

De fato, é com Platão também que, junto com uma transformação da essência da aletheia em homoiosis, começa simultaneamente uma transformação da lethe, isto é, aqui, da anamnesis que lhe age em contrário. O acontecimento [Ereignis] que retrai o próprio do encobrimento [Verbergung] se transpõe e transforma no comportamento humano de esquecer e esquecimento. Igualmente, o que se contrapõe e contraria a lethe torna-se uma recuperação e retomada da parte do homem. Enquanto, porém, pensarmos a anamnesis de Platão e o epilanthanesthai apenas a partir do que veio depois, falando modernamente, a partir do “sujeito”, apenas como “recordação” e “esquecimento”, não vamos apreender o fundo da essência grega, que no pensamento de Platão e no pensamento de Aristóteles lança mais uma vez seus últimos raios. [GA54SMW:179]