A ontologia fundamental é, portanto, estabelecida por uma redução do acontecimento, rebaixado à categoria de um mero fato intramundano, ao destaque do sentido insignificante do possível que o próprio Dasein é ao existir. Essa redução, além disso, não deveria ser uma surpresa. Como poderia ser de outra forma se o Dasein, em virtude de sua constituição ontológica, retém as prerrogativas conferidas ao sujeito moderno desde Descartes — se, em virtude de sua compreensão do ser, que, como compreensão ou escuta, apenas aparentemente o descentraliza, ele permanece a medida de toda fenomenalidade? De acordo com tal primazia, tudo o que pode acontecer ao existente é condicionado por sua própria existência: as possibilidades que se oferecem a ele são elas mesmas tornadas possíveis pela possibilidade fundamental de que o Dasein é ele mesmo como um poder-ser finito — e, portanto, também pela morte, como a possível impossibilidade de sua existência — pela possibilidade de existir em vista dessa própria existência (preocupação) que somente a morte libera (ao mesmo tempo em que nos libera dela). Mas como pode o acontecimento em si ser considerado como em si mesmo e, portanto, apenas pensado, se o Dasein, compreendendo o ser, permanece como uma condição ontológico-formal de possibilidade de tudo o que pode se apresentar a ele como um acontecimento — enquanto o acontecimento é principalmente aquilo que abre o espaço onde ele pode ocorrer, a "condição" incondicional de sua própria ocorrência, aquilo que, por sua ocorrência anárquica, abole todas as condições prévias, ou novamente aquilo que ocorre antes de ser possível?
É assim também que entendemos a primazia dada à morte na ontologia fundamental: não à morte como um acontecimento factício (Ereignis), que Heidegger registra no termo "falecer" (Ableben), mas à morte como sempre minha (je meines), a possível impossibilidade de toda existência que permanece, por esse mesmo fato, uma modalidade dessa existência. A morte é aqui, rigorosamente, um modo de ser do Dasein, aquele no qual ele se relaciona, na provação da angústia, com a possibilidade última da impossibilidade de seus possíveis, na qual ele é lançado assim que existe. Como uma modalidade de sua própria existência e de sua possibilidade última, a morte é da mesma forma que a existência, é a própria possibilidade de existir. A finitude que o Dasein já carrega dentro de si pelo próprio fato de existir, e que não vem à existência de fora, é tão inseparável dele quanto a sombra da luz. A morte sem adversidade, sem mistério, onde nada, em verdade, se estilhaça de nós mesmos, onde nada mais nos espera, já que, ao existir, sempre existimos. "Ser" não é outra coisa senão existir transitivamente essa morte na qual somos lançados assim que somos, de modo que o Nada, ou melhor, o nadificar que joga no "não …" da diferença ontológica — o ser não é ente — ainda permanece uma aparência do próprio ser. Morrer é existir adequadamente, compreendendo adequadamente essa existência, e existir é morrer adequadamente. A morte não é mais estranha para ele do que o Dasein é para si mesmo.
Totalmente arrancada, por sua ontologização, de qualquer ideia de acontecimento, a morte, como uma modalidade de existência revelada na angústia, um modo de ser suas possibilidades contra um pano de fundo de impossibilidade, resolução, aparece para o Dasein não apenas como a possibilidade mais adequada, mas como a possibilidade do próprio como tal, a origem de toda autopropriedade e toda ipseidade. E uma vez que, ao existir, somos lançados nele (na morte), a propriedade da existência está aí com o Dasein assim que ele existe. Disso decorre a primazia ontológica da morte: somente ela retira o Dasein da neutralidade dos acontecimentos dos quais ele próprio não é a origem. Somente ela torna possível afirmar o caráter constitutivo da existência.