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Lima Vaz (1999:12-13) – etimologia do termo "Ética"
sexta-feira 24 de agosto de 2018
LIMA VAZ , Henrique C. de. Escritos de Filosofia IV. Introdução à Ética Filosófica I. São Paulo: Edições Loyola, 1999, p. 12-13.
Examinemos primeiramente a ascendência etimológica do termo Ética, herdado, como é sabido, da língua grega. No uso vulgarizado a partir de Aristóteles, ética (ethiké) é um adjetivo que qualifica um tipo determinado de saber que Aristóteles foi, de resto, o primeiro a definir com exatidão. Assim surge a expressão aristotélica ethike pragmateia [Aristóteles usou igualmente o termo praktike philosophia, Met. II (alpha elatton), 1, 993 b 19-23], que podemos traduzir seja como o exercício constante das virtudes morais, seja como o exercício da investigação e da reflexão metódicas sobre os costumes (ethea). Posteriormente, a partir provavelmente já da Primeira Academia (séc. IV a.C.), segundo o testemunho de Xenócrates fr 1), os adjetivos ethike, logike e physike passam a qualificar cada um as três partes nas quais é dividida a Filosofia concebida como ciência (epistheme): Lógica, Física e Ética (logike, physike, ethike), divisão que perdura até o século XVIII d.C. Lentamente o adjetivo se substantiva, dando origem às disciplinas hoje conhecidas como Lógica, Física e Ética. Na língua filosófica grega, ethike procede do substantivo ethos, que receberá duas grafias distintas, designando matizes diferentes da mesma realidade: ethos (com eta inicial [êthos]) designa o conjunto de costumes normativos da vida de um grupo social, ao passo que ethos (com epsilon [éthos]) refere-se à constância do comportamento do indivíduo cuja vida é regida pelo ethos-costume. É, pois, a realidade histórico-social dos costumes e sua presença no comportamento dos indivíduos que é designada pelas duas grafias do termo ethos. Nesse seu uso, que irá prevalecer na linguagem filosófica, ethos (eta [êthos]) é a transposição metafórica da significação original com que o vocábulo é empregado na língua grega usual e que denota a morada, covil ou abrigo dos animais, donde o termo moderno de Etologia ou estudo do comportamento animal. A transposição metafórica de ethos para o mundo humano dos costumes é extremamente significativa e é fruto de uma intuição profunda sobre a natureza e sobre as condições de nosso agir (praxis), ao qual ficam confiadas a edificação e preservação de nossa verdadeira residência no mundo como seres inteligentes e livres: a morada do ethos cuja destruição significaria o fim de todo sentido para a vida propriamente humana.
Ver online : Escritos de Filosofia IV. Introdução à Ética Filosófica I