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Zum Ereignis-Denken [GA73]

GA73T1:878-879 – o que é o necessário? o que é o livre?

Die Armut

segunda-feira 29 de maio de 2023, por Cardoso de Castro

O livre repousa no zelar, em sentido próprio. O liberto [Befreite] é o que é deixado na sua essência e preservado de toda o constrangimento da necessidade.

Ana Falcato

Estar-privado, de verdade, quer dizer: não poder ser sem o não-necessário e, assim, pertencer apenas ao não-necessário.

Mas, que é o não-necessário? Que é o necessário? Que quer dizer “necessário”? Necessário é o que provém da necessidade e vem pela necessidade. E o que é a necessidade? A essência da necessidade é, de acordo com o sentido fundamental da palavra, o constrangimento [Zwang]. O relativo à necessidade [Nothaft], o necessário e o necessitante [Nötigende  ] é o que constrange2, nomeadamente, o que constrange a que, na nossa “vida”, para a sua conservação, haja carências e nos constrange a satisfazer exclusivamente essas carências. O não-necessário é aquilo que não provém da necessidade, quer dizer, não provém do constrangimento, mas daquilo que é livre.

Então, o que é o livre [Freie]? De acordo com o que se pode pressentir no dizer da nossa língua mais antiga, das Freie, Frî, é o ileso, o zelado, aquilo que não é posto em uso. “Liberar” [freien  ] quer dizer, originária e propriamente: zelar [schonen], deixar que algo repouse na sua essência, protegendo-o. Mas proteger é reter a essência no abrigo, em que ela apenas permanece se lhe for permitido o regresso ao repousar na própria essência. “Proteger” é ajudar continuamente este repouso, aguardar pelo seu regresso. Só isto é a essência do que acontece no zelar, que não se esgota, de forma alguma, no negativo do não-tocar em ou do mero não-utilizar.

O livre repousa no zelar, em sentido próprio. O liberto [Befreite] é o que é deixado na sua essência e preservado de toda o constrangimento da necessidade. O que libera na liberdade desvia ou vira [wendet ab oder um], de antemão, a necessidade. A liberdade é o virar da necessidade [das Not Wenden]. Só na liberdade e no seu livre zelar é que reina a Necessidade [Notwendigkeit  ]. Portanto, se pensamos na essência da liberdade e da Necessidade3, então a Necessidade não é, de maneira nenhuma, o contrário da liberdade, como a viu toda a Metafísica, mas só a liberdade é, em si, a viragem da Necessidade.

A Metafísica vai tão longe que ensina, com Kant  , que a Necessidade, isto é, o constrangimento do dever e o constrangimento vazio da obrigação [Pflicht] pela obrigação, seria a verdadeira liberdade. A essência metafísica da liberdade culmina em que a liberdade se torna “expressão” da Necessidade, a partir da qual a vontade de poder se quer a si mesma como a realidade efectiva e como a própria vida. No sentido da vontade de poder, Jünger  , por exemplo, escreve, o seguinte: «Entre os sinais distintivos da liberdade está a certeza de participar no cerne germinal do tempo –, uma certeza que, maravilhosamente, dá asas aos actos e aos pensamentos e na qual a liberdade daquele que age se conhece como expressão particular do Necessário.» (Der Arbeiter  , 57).

Mas, se se pensa a inversão mais profundamente, então tudo é invertido. A liberdade é a Necessidade, na medida em que o que libera, não urgido [Genötigte] pela necessidade, é o não-necessário.

Irene Agoff

En verdad, carecer quiere decir: no poder ser sin lo no-necesario y así precisamente pertenecer únicamente a lo no-necesario.

Pero, ¿qué es lo no-necesario? ¿Qué es lo necesario? ¿Qué quiere decir necesario? Necesario es lo que viene de la necesidad [apremiante] por la necesidad [apremiante]. ¿Y qué es la necesidad [apremiante]? La esencia de la necesidad [apremiante] es, según el sentido fundamental del término, la coacción. Aquello que corresponde a la necesidad [apremiante], a lo necesario y a lo necesitante es lo coactivo, vale decir, lo coactivo que, en nuestra «vida», suscita para su conservación la coacción de las necesidades y nos coacciona exclusivamente para la satisfacción de ellas.

Lo no-necesario es lo que no viene de la necesidad [apremiante], es decir, de la coacción, sino de lo Libre.

Ahora bien, ¿qué es lo Libre? Según lo que presiente en su decir nuestra lengua más antigua, lo Libre, fri, es lo indemne, lo preservado, lo que se sustrae de toda utilidad. «Liberar» significa, original y propiamente: preservar, dejar a algo reposar en su propia esencia protegiéndolo. Pero proteger es: retener la esencia en el cobijo donde sólo permanece si se le permite retomar al reposo de su propia esencia. Proteger es: ir asiduamente en auxilio de este reposo, poner esmero en este retorno. Sólo esto es en su esencia el acontecer propiamente del preservar, que de ninguna manera se agota en lo negativo del no-tocar o del simple no-utilizar.

En el preservar propiamente dicho reposa el liberar. Lo liberado* es lo dejado en su esencia y guardado de cualquier coacción de la necesidad [apremiante]. Lo liberante de la libertad invierte o vuelca de antemano la necesidad [apremiante]. La libertad es la versión de la necesidad [apremiante]. La Necesidad** reina solamente en la libertad y su liberar que preserva. Cuando pensamos así la esencia de la libertad y de la Necesidad, entonces, la Necesidad no es en modo alguno, como lo entiende toda metafísica, lo contrario de la libertad, sino que sólo la libertad es en sí la necesidad [apremiante] convertida.

La metafísica llega incluso tan lejos que enseña, con Kant, que la Necesidad, es decir, la coacción del deber y el coaccionar vacío de la obligación por la obligación, sería la verdadera libertad. La esencia metafísica de la libertad se cumple en el hecho de que la libertad deviene la «expresión» de la Necesidad, a partir de la cual la voluntad de poder se quiere ella misma como la única efectividad y la vida. Es en el sentido de la voluntad de poder como Ernst   Jünger escribe, por ejemplo: «Entre los signos distintivos de la libertad se sitúa la certeza de participar en el núcleo más íntimo del tiempo; certeza que, maravillosamente, da alas a los actos y a los pensamientos y en la cual la libertad del que actúa se conoce como expresión particular de la necesidad [apremiante]».2

Pero si el giro es pensado más profundamente, entonces, todo queda girado. La libertad es la Necesidad en la medida en que lo liberante, lo no-necesitado por la necesidad [apremiante], es lo no-necesario.

Original

Wahrhaft entbehren heißt: nicht   seyn   können ohne das Unnötige und so gerade einzig dem Unnötigen gehören  .

Aber was ist das   Unnötige? Was ist das Nötige? Was heißt nötig? Nötig ist, was aus der Not durch die Not kommt. Und was ist die Not? Das Wesen   der Not ist nach der Grundbedeutung   des Wortes der Zwang. Das Nothafte und Nötige und Nötigende ist das Zwingende, nämlich das Zwingende, das in unserem “Leben  ” die Bedürfnisse zu seiner Erhaltung erzwingt und uns ausschließlich in die Befriedigung dieser Bedürfnisse zwingt.

Das Unnötige ist das, was nicht aus der Not kommt, d.h. nicht aus dem Zwang, sondern aus dem Freien.

Doch was ist das Freie? Nach dem ahnenden Sagen   unserer ältesten Sprache ist das Freie, fri, das Unverletzte, das Geschonte, das, was nicht in einen Nutzen   genommen wird. “Freien” heißt ursprünglich   und eigentlich  : schonen, etwas in seinem eigenen Wesen beruhen lassen   durch das Behüten. Behüten aber ist: das Wesen in der Hut behalten  , worin es nur bleibt, wenn es in der Rückkehr zum eigenen Wesen beruhen darf. Behüten ist: stetig in dieses Beruhen helfen, seiner warten. Dies erst ist das ereignende Wesen des Schonens, das sich keineswegs im Negativen des Nichtanrührens und des bloßen nicht-Benutz-ens erschöpft.

Im eigentlichen Schonen beruht das Freien. Das Befreite ist das in sein Wesen Gelassene und vor dem Zwang der Not Bewahrte. Das Freiende der Freiheit wendet zum voraus die Not ab oder um. Die Freiheit ist das die Not Wenden. Nur in der Freiheit und in ihrem schonenden Freien waltet die Notwendigkeit. Wenn wir das Wesen von Freiheit und Notwendigkeit also denken  , dann   ist die Notwendigkeit keineswegs, wie alle Metaphysik   meint, das Gegenteil der Freiheit, sondern einzig die Freiheit ist in sich   die Notwendigkeit.

Die Metaphysik geht sogar so weit, daß   sie durch Kant lehrt, die Notwendigkeit, nämlich der Zwang des Sollens und das leere   Zwingen der Pflicht um der Pflicht willen, sei die wahre Freiheit. Das metaphysische Wesen der Freiheit vollendet sich darin, daß die Freiheit zum “Ausdruck  ” der Notwendigkeit wird, aus der sich der Wille   zur Macht   als die Wirklichkeit   und als das Leben selbst   will. Im Sinne des Willens zur Macht schreibt z. B. E. Jünger (Der Arbeiter, S. 57): “Zu den Kennzeichen der Freiheit gehört die Gewißheit  , Anteil zu haben   am innersten Keime der Zeit  , – eine Gewißheit, die Taten und Gedanken wunderbar beschwingt, und in der sich die Freiheit des Täters als der besondere Ausdruck des Notwendigen erkennt”.

Aber, die Umkehr tiefer   gedacht, ist jetzt alles umgekehrt. Die Freiheit ist die Notwendigkeit, insofern das Freiende, nicht durch die Not Genötigte das Unnötige ist.


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